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BRASIL

As reestruturações na CAIXA ameaçam o seu caráter público

Banco público tem rede de atendimento à baixa renda sucateada, com a volta de filas de mais de duas horas; criação de áreas exclusivas para público de renda alta; e privatização camuflada de partes essenciais da CAIXA, como cartões e seguros

Bancários da Resistência/PSOL
Marcelo Camargo/Agência Brasil/ Fotos Públicas

O governo Bolsonaro vem negando sistematicamente a intenção de privatizar o Bando do Brasil e Caixa Econômica. Será verdade ou mais uma manobra diversionista do governo? Está ocorrendo a todo vapor o fracionamento e a venda das estatais, além do aumento da exploração da força de trabalho, seja através da sobrecarga de trabalho, seja pela simples redução salarial. É o que ocorre também com a Petrobrás, cujos funcionários encontram-se em greve.

A filosofia de negócios da CAIXA vinha sendo a mesma desde os anos 1990. Naquela época, na aplicação dos planos neoliberais, durante os governos Collor e Fernando Henrique (1990 a 2002), a ideia era que a CAIXA deveria servir de agente de políticas públicas, mas sem subsídio estatal.

A cartilha neoliberal, nesse sentido, alterou os rumos da CAIXA, pois, mesmo pública, a diretriz era dar lucro em primeiro lugar – depois cumprir seu papel social. Lembre-se também que dessa fase data a venda de 51% da CAIXA Seguradora (então SASSE, em 2001), para a estatal francesa CNP Assurances.

Anos PT – conciliação com empresariado e banqueiros aprofunda parcerias privadas

A era PT, embora tenha dado maior capilaridade e participação de mercado à CAIXA, aliada a uma cobertura social maior, não tocou na filosofia de “autofinanciamento” e ampliou o modelo de “parcerias privadas”. A criação da CAIXAPAR, que abriu caminho às sociedades com grupos privados, ocorreu em pleno ano Lula de 2009. Além da seguradora, uma análise do organograma atual da holding e da CAIXAPAR revela sociedade destas com pelo menos 12 empresas não estatais) [i].

Os dois pilares da restruturação. Haverá nova mudança no caráter da CAIXA?

A grande pergunta que paira é: está havendo uma nova mudança de caráter da CAIXA durante o governo Bolsonaro, sob a administração de Pedro Guimarães[ii]? Está ou não havendo um processo de privatização da CAIXA?

Analisando as alterações impostas recentemente, podemos resumir a longa onda de reestruturação da CAIXA em dois pilares:
1) rebaixamento geral da condição de trabalho e remuneração: rebaixamento de salários de gerentes e superintendentes – mudanças transitórias vão abrir caminho para enxugamento estrutural da folha de pagamento;
2) reforço aos negócios mais rentáveis, com prioridade do lucro sobre o social.

 

Pilar 1:

– Criação de agências de luxo exclusivas para a alta renda (no modelo do BB Estilo), sem atendimento social;

– Criação de áreas restritas de atendimento à alta renda em algumas agências (chamadas de “Lounge”);

– Criação da Vice-Presidência de Atacado – grandes empresas e clientes milionários passam a ser atendidos em estrutura exclusiva, longe da classes trabalhadoras e pequenos empresários;

– Segregação dos negócios mais rentáveis, desmembramento da CAIXA em empresas S.A. e privatização de participações;

 

Pilar 2:

– Extinção de 30 superintendências (SR’s); enxugamento da estrutura das SR’s – boa parte destes colegas não sabe onde vai trabalhar em março;

– Descomissionamento em massa, já que as antigas funções deixam de existir e há novos processos de seleção interna (PSI’s);

– Rebaixamento de salário de centenas de gerentes;

– Enxugamento das áreas de suporte ao atendimento (com a demissão de milhares de terceirizados e remanejamento de centenas de empregados diretos).

– Novos cortes de postos de trabalho – novo PDV deve ser anunciado;

– Contratação de novos empregados com menos direitos (SAÚDE CAIXA não cobre os novos nas mesmas condições, FUNCEF sob ataque e possível extinção da coparticipação da CAIXA – ver as resoluções CGPAR 23 e CGPAR 25[iii]) .

 

Como se conclui, essa arquitetura prepara a CAIXA para sua privatização completa ou em partes. Nas apresentações de “powerpoint”, a direção da empresa fala muito em “franquias” da CAIXA. Lotéricos, correspondentes bancários e agências vão ser tratados com a mesma ênfase. Há ainda uma inflexão importante, que se reflete principalmente na quantidade de empregados e no volume de empréstimos.

Comparativo: anos chave na evolução do quadro funcional [iv]

O atendimento, que voltou a registrar filas de mais de 2 horas de espera, principalmente nas agências de periferia e interior do país, vem irritando clientes e piorando a condição de saúde dos empregados. Ou seja, enquanto se aprofunda o caráter privatista da empresa, o atendimento à população de baixa renda é esquecido. Nesse sentido, há uma inversão qualitativa no caráter da empresa – outrora com missão social.

Outro problema tão preocupante quanto o sucateamento da rede de atendimento à baixa renda, é a privatização camuflada de partes essenciais da CAIXA, já em curso, escondida atrás da venda de participações, como no caso de cartões e seguros.

Sindicatos e APCEF’s devem mobilizar para que a CAIXA sirva a quem mais necessita

Os bancários da Resistência/PSOL acham que os sindicatos e APCEF’s [v] precisam organizar a luta pela defesa da CAIXA pública e social. Achamos muito ruim a declaração da representante dos empregados no Conselho de Administração, Rita Serrano, que gravou vídeo dizendo que reestruturações como esta são normais. Não achamos normal que o caráter da CAIXA seja corrompido em função do lucro a qualquer custo. Defendemos:

  • CAIXA 100% pública para atender a população que mais precisa! Nenhuma agência exclusiva para a elite! Nenhuma agência fechada na periferia ou no interior!
  • Chega de filas: concurso imediato e contratação de 1 funcionário por agência!
  • Isonomia para todos funcionários: cobertura integral do SAÚDE CAIXA para os colegas PCD e todos demais!
  • Garantia salarial e de qualidade de vida para os colegas atingidos pelas reestruturações: nenhuma redução de salário nem transferências compulsórias que envolvam aumento de trajeto ao trabalho.
  • Unidade para lutar contra o governo Bolsonaro: que as atuais direções convoquem assembleias para preparar a defesa da CAIXA e de seus funcionários. Vamos seguir o exemplo dos petroleiros!

Apoio aos nossos irmãos petroleiros

A Petrobrás agora é a estatal mais atacada. Não há limite algum para Bolsonaro e Paulo Guedes na entrega da riqueza natural brasileira aos grupos estrangeiros. Por isso mesmo, os valorosos trabalhadores da Petrobrás começaram um combate que merece nosso apoio e integração à luta. É hora de união e enfrentamento à política de entrega do país e da nossa força de trabalho.

 

NOTAS

[i]       Fonte: VALOR ECONÔMICO, VALOR GRANDES GRUPOS 2019; Dezembro de 2019, p. 102.

[ii]      Pedro Guimarães, atual presidente da CAIXA é banqueiro especialista em privatizações, passou sua carreira comandando ofertas de ações. Sua monografia de PhD nos EUA foi Privatization: theory, evidence and its role in fostering fragmentation [Privatização: teoria, evidência e seu papel de fomentar a pulverização].

[iii]     Para mais informações, a APCEF/SP faz um resumo didático dessas medidas do governo Temer na sua página: https://www.apcefsp.org.br/funcef/entenda-o-que-e-a-resolucao-25-da-cgpar-e-como-ela-afeta-a-funcef

[iv]    Fonte: http://www.caixa.gov.br/sobre-a-caixa/relacoes-com-investidores/central-resultados/Paginas/default.aspxRelatório de Desempenho 3T2019.

[v]     APCEF’s são as Associações de Pessoal da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, organizadas por estado da federação.