O festival Outro Davos e os novos movimentos na Suíça

Gloria Trogo, direto da Suíça

 

Mesa sobre feminismo, com Tithi Bhattacharya, uma das autoras do manifesto Feminismo para os 99%

Nos dias 17 e 18 de janeiro ocorreu em Zurique o “O Outro Davos”. O evento é organizado pelo Movimento ao Socialismo uma organização política da esquerda radical na Suíça. O local que sediou o evento é a “Casa do Povo” – Volkshaus, um prédio histórico de 1910, na Praça que reúne as principais manifestações em Zurique. Ao procurar o local pelo Google, já se pode ver uma manifestação sobre o aquecimento global na praça.

“Mudar o Sistema e Não o Clima” foi o tema da edição de 2020 do Encontro. Na programação estavam os temas de interesse da esquerda em todo mundo: feminismo e ecossocialismo. Além de dois painéis principais, o evento tinha dois turnos para grupos de discussão mais aprofundadas sobre cada um desses pontos.

O Brasil foi um dos temas de muito interesse no encontro. Estive presente junto com Luiz Zarref, do MST. Foram no total três momentos, Luiz falou na mesa de abertura, eu falei na mesa de encerramento, juntos fizemos um grupo de trabalho sobre o Brasil.

Luiz explicou a profundidade dos ataques do Governo Bolsonaro ao meio ambiente e apresentou o novo plano do MST: “Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis”. Eu falei sobre as lutas feministas e sobre a relação do neofascismo brasileiro com o machismo, o racismo e a LGBTfobia.

A atividade sobre Brasil ocorreu na sala principal do evento e nos surpreendeu positivamente pela presença de muitos ativistas. Alguns deles eram brasileiros que vivem no país, mas a grande maioria  de suíços.

 

Novos movimentos

2019 não foi um ano normal para os ativistas aqui. O país está vivendo um ascenso de lutas feministas e ecológicas. Em junho foram milhares de mulheres nas ruas. Em algumas cidades, como Zurique, cerca de 20% da população participou da manifestação.

O aquecimento global é o ponto central das lutas ecológicas. Ouvi histórias de várias manifestações de rua que ocorreram nacionalmente. Enquanto estávamos aqui, 10 mil foram às ruas de Laussane. É perceptível que existe uma receptividade enorme para a demanda da urgência climática. Depois de uma ação de jovens dentro do Banco Credit Suisse o juiz local decidiu que a ocupação era legítima porque a urgência climática justificava a desobediência civil.

O Outro Davos ocorreu neste impulso, as conexões entre os jovens que estavam presentes e todos estes processos de luta eram visíveis no evento e nas ruas. Na sede do Movimento pelo Socialismo vários cartazes, adesivos e faixas feministas. Nas caminhadas tanto por Zurique, quanto Laussane, quanto Fribourg era impossível não ver cartazes roxos exibindo o símbolo nas mulheres em algumas janelas.

Internacionalismo

Eles olham para o mundo para buscar energias para se organizar e lutar. Sabem que estão em um dos elos mais fortes da cadeia imperialista. O internacionalismo está vivo nos mais velhos e nos mais jovens ativistas.

Mesmo sendo de “mundos” muito diferentes, falando línguas diferentes (e muitas!) e tendo desafios tão distintos foi possível sentir uma natural identificação. Como velhos conhecidos que não se encontram há muito tempo, mas quando se veem rapidamente estabelecem uma conexão. Nossa conexão é a vontade de mudar o mundo, a esperança socialista.

Na festa de encerramento, uma banda de jovens cantou músicas políticas de vários países. Tudo muito ensaiado, com divisão de tarefas no qual cada um contava a história da música e seu contexto. Num momento cantamos todos juntos a Internacional, a banda tinha afinação perfeita e cantava em alemão. No público alguns cantavam em francês. Nós cantamos em português. Tínhamos todos o mesmo coração socialista e internacionalista.