A batalha contra a Amazon para eleger novamente uma socialista em Seattle

Raphael Mota, do Rio de Janeiro, RJ
Courtesy Seattle City Council

Em 2013, Kshama Sawant surpreendeu os EUA e se elegeu como conselheira da cidade de Seattle (o equivalente ao cargo de vereador no Brasil), a eleição de um socialista no centro do capitalismo mundial não acontecia há muitos anos e empolgou muitos ativistas dentro e fora dos EUA. Essa vitória foi fruto de uma campanha popular com um mote real, o aumento do salário mínimo para 15 dólares a hora, o 15NOW. Sua eleição já desenhava o início do crescimento do movimento socialista nos EUA, que depois vivenciou o boom da campanha de Bernie Sanders e da eleição da deputada Alexandria Ocasio-Cortez de Nova Iorque, ambos do DSA (Democract Socialists of America).

Sawant é indiana, foi professora de economia das universidades de Seattle e também de Washington, atuou na organização do Occupy de Seattle, e é militante do Socialist Alternative (uma das seções do World Socialist Alternative/CWI). E está agora na véspera da terceira disputa pela sua reeleição à vereança em Seattle, que termina hoje dia 5 de novembro.

Sem dúvida o 15NOW foi um marco para a eleição e para mandato da Kshama Sawant. O movimento pautado em uma bandeira que de fato dialoga com a realidade objetiva da classe trabalhadora rapidamente se tornou um movimento com base real. O que levou a aprovação do salário mínimo de 15 dólares a hora na cidade, a primeira capital a adotar esse valor. Hoje o movimento atua está em outros Estados dos EUA e até no Canadá.

Neste ponto é importante pontuar o papel dos socialistas no parlamento. Os socialistas devem entender o parlamento como uma tática e não como um fim em si. A ideia de reformar o sistema por dentro do parlamento é uma ilusão que a história já registrou como falha. No entanto, o parlamento deve ser utilizado para dar voz as pautas dos trabalhadores, e até conseguir algumas vitórias que possam garantir avanços para a classe trabalhadora. O parlamento deve ser um instrumento para a mobilização dos movimentos dos trabalhadores.

Essa é a grande tarefa para os mandatos socialistas dentro dos Estados Unidos mas em todo os pais capitalistas. O mandato da Sawant tem enfrentado este dilema e tem dado sinais de sucesso. A relação da cidade com o conselho, que passou a ser frequentado por diversos movimentos sociais. Novas pautas surgiram, como a dos sem tetos que culminou com a ocupação da prefeitura durante uma noite, e este movimento levou a outro movimento importante, o “Amazon Tax”.  A solução encontrada pelo movimento por moradia foi propor a taxação da maior empresa da cidade, a gigante Amazon. Em suma eles querem a taxar a Amazon para a construir com esse recurso casa populares na cidade.

A Amazon hoje é uma dais maiores empresas da cidade de Seattle, emprega mais de 50 mil pessoas e vai além, é dona de 25% dos imóveis da região central de Seattle, favorecendo a especulação imobiliária e a gentrificação desta região. Não foi à toa que o movimento pela moradia focou nela como principal inimiga.

Por sua vez, a Amazon tem organizado um contra-ataque e vem investindo alto com milhões de dólares em lobbys, só para a Câmara de Comércio de Seattle, principal formuladora de críticas ao mandato nesse último período, foram por volta de 1 milhão de dólares. A Amazon também tem atuado em outras eleições municipais investindo em candidatos que possam derrotar socialistas que vem encabeçando movimento sociais de moradia, direitos humanos, o “Me Too” ou do “Green New Deal”. Mas segundo o site Jacobin, o alvo principal é Seattle, pois a cidade se tornou um celeiro de movimentos sociais que tem no mandato da Sawant um instrumento de sua luta. Derrotar Kshama é simbólico já que foi a primeira socialista eleita dessa retomada do movimento socialista dentro dos Estados Unidos, e por isso, pode ter um efeito desmobilizador em outros lugares.

Essa sem dúvida é a campanha mais difícil para o movimento social de Seattle e para o Socialist Alternative. O lobby forte da Amazon tem fomentado uma campanha dura de “Fake News”, não tão sórdidas quanto as bolsonaristas aqui no Brasil, mas que tem atrapalhado muito a campanha, principalmente no contato com novos ativistas que se aproximam da campanha. Um exemplo da “Fake News” é a contrainformação fabricada pela Câmara e Comércio da cidade (financiada pela Amazon) que soltou nessa reta final da campanha a mentira de que o mandato de Sawant cancelou quase 50% das reuniões dos comitês dirigidos por ela dentro do parlamento. Além dos episódios das Fakes, ocorreram ações mais diretas, Como a destruição ou inutilização de material da campanha de Kshama, como ocorreu com diversas placas que tiveram a palavra “fuck” pichada inutilizando-as.

As eleições deste ano em Seattle se tornaram um laboratório para as eleições de 2020. A direita americana não está acostumada a perder e não vão querer perder nenhum espaço dentro do coração do capitalismo. Eles estão utilizando muito do seu lobby e “Fake News” e isso será usado em 2020 contra os candidatos dos movimentos sócias e socialistas no resto do pais.  Mas esta eleição também é um teste para os socialistas nos EUA, a resposta apontada pela campanha de Sawant tem ido em direção ao exemplo das eleições de 2018 em Nova York, onde deputadas socialistas foram eleitas com o apoio popular.

Deste modo, a vitória de Sawant representará mais que derrotar os representantes da Amazon, ela fortalecerá o movimento socialista dentro dos Estados Unidos, e apontará para os trabalhadores o caminho das ruas como opção de luta. Por isso, é fundamental apoiarmos a eleição de Kshama Sawant para o seu terceiro mandato em Seattle.

 

Fonte:
https://jacobinmag.com/
https://www.socialistalternative.org/
https://www.kshamasawant.org/