Pular para o conteúdo
BRASIL

Brasil é o recordista mundial de homicídios. Mais pobres, jovens, negros, mulheres e LGBTIs são os mais atingidos

da redação
Marcelo Camargo / Ag. Brasil

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgaram conjuntamente, na segunda-feira passada, o “Atlas da Violência – 2019“, com estudos estatísticos referentes ao ano de 2017.

Os dados, disponíveis neste relatório, são realmente alarmantes. O Brasil é o recordista mundial em matéria de violência letal, concentrando 14% dos homicídios de todo o mundo. Toda essa violência tem endereço certo: os mais pobres (especialmente das regiões Norte e Nordeste), os jovens, os negros, as mulheres e a população LGBTI.

Segundo o estudo, 120 cidades concentraram metade dos homicídios no país em 2017. As maiores taxas de homicídios se concentram nas regiões metropolitanas das capitais. Das 20 cidades mais violentas, 18 são das regiões Norte e Nordeste. Por exemplo: Maracanaú (CE), cidade próxima a Fortaleza, que foi a cidade com maior taxa de homicídio (145,7 por 100 mil habitantes). Outro exemplo é São Gonçalo do Amarante (RN), a terceira mais violenta do país, com uma taxa de homicídios de 132,1.

Em segundo lugar, aparece a cidade de Altamira (PA), com uma taxa de 133,7. Recentemente, a morte de 62 detentos, num conflito entre facções criminosas num presídio da cidade, chocou o país. Entre os mortos, a maioria eram negros e tinham até 35 anos, e uma grande parte era de presos temporários, sequer tinham a condenação judicial concluída.

A concentração maior de homicídios nas cidades próximas às capitais é a confirmação categórica de que a violência atinge uma classe social bem definida. Ela afeta sobretudo o povo trabalhador mais pobre, que majoritariamente reside nestas regiões periféricas.

Existe um verdadeiro genocídio da juventude mais pobre e negra do Brasil. Em 2017, mais de 35 mil jovens (15 a 29 anos) foram assassinados, maior índice identificado pelo Atlas da Violência em todos ao anos que este estudo vem sendo realizado. Por exemplo, em relação aos dados analisados em 2007, houve um crescimento de 37,5% no número de assassinatos de jovens brasileiros.

Oprimidos sofrem como nunca com o crescimento dos homicídios

Além de atingir em especial a classe trabalhadora, a violência no Brasil tem raça e sexo bem definidos, além de vitimar cada vez mais a população LGBTI. Os dados falam por si.

Em relação as mulheres, houve um crescimento de 30,7% nos assassinatos entre 2007 e 2017. Em 2017, segundo o estudo, houve quase 5 mil assassinatos de mulheres, atingindo uma média diária de 13 vítimas – uma mulher é assassinada no Brasil num intervalo menor de 2 horas.

Em uma década, houve um aumento de 29,8% nos assassinatos por arma de fogo contra mulheres dentro de residências. Revelando um evidente crescimento significativa de crimes identificados como feminicídios, que já virou uma epidemia nacional.

Existe uma brutal desigualdade racial entre os assassinatos de mulheres. Em números absolutos, houve um crescimento de 1,7% nas mortes de mulheres não negras em dez anos, enquanto no mesmo período o crescimento dos assassinatos de mulheres negras atingiu o percentual absurdo de 60,5%.

Em relação a população negra os dados são estarrecedores. Em 2017, mais de 75% dos assassinatos no país foram de negros e negras. Nos últimos dez anos analisados neste estudo, houve um crescimento de 33,1% nas mortes entre a população negra, enquanto na não negra o crescimento foi de 3,3%.

O crescimento das mortes entre os negros é – nada mais nada menos – 10 vezes maior do que no resto da população. Com dados com estes, não se pode estranhar que se afirme que existe um genocídio dos negros no Brasil.

Apesar de muitas vezes faltarem dados mais completos disponíveis e de toda a invisibilidade da violência contra a população LGBTI, o estudo do Ipea e do FBSP afirma existir, comprovadamente, um crescimento contínuo nos homicídios contra este segmento da população. Por exemplo, em 2011 houve 5 denúncias de homicídios, já em 2017 esse número chega a 193 denúncias.

Em outros estudo, publicado pelo Grupo Gay da Bahia, em 2018, a cada 20 horas um LGBTI é morto no Brasil, confirmando o crescimento astronômico, nos últimos anos, da violência de cunho homofóbico no Brasil.

Com Bolsonaro no governo, toda essa gravíssima realidade pode piorar ainda mais

O discurso de ódio contra os oprimidos e a apologia da utilização de armas de fogo como método de repressão aos problemas sociais são partes fundamentais do projeto de extrema-direita em nosso país.

A presença de seu representante no governo federal, terá graves consequências. Pois, as declarações reacionárias de Bolsonaro acabam sendo um estímulo ainda maior para mais ações violentas, inclusive para a realização de mais homicídios em nosso país.

No mesmo sentido, nos primeiros sete meses de governo, a piora no cenário econômico, a consolidação de um grande número de desempregados sub-empregados, a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários, ao lado dos cortes cada vez maiores nas verbas sociais, como na educação e na saúde públicas, também terão graves consequências. Afinal, há uma inegável relação entre o crescimento da miséria com o crescimento da violência no Brasil.

A defesa da vida dos mais pobres, dos jovens, dos negras e negras, das mulheres e da população LGBTI é mais um motivo fundamental para intensificarmos as nossas mobilizações para derrotar o governo Bolsonaro nas ruas. Essa pauta deve estar presente, e com destaque, nas manifestações nacionais do dia 13 de agosto, quando voltaremos às ruas de todo o país para defender a educação pública e a Previdência social.

Marcado como:
violência