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BRASIL

Entre burocratas, playboys e traficantes: fatores internos que contribuem para o aumento da violência em Salvador

Michel Montezuma, de Salvador (BA)
Carlos Augusto

Em 4/09/2023, a Universidade Federal da Bahia suspende suas atividades no campus de são Lázaro, local onde ficam a Faculdade de Ciências Humanas e o Instituto de Psicologia, em virtude do conflito entre facções na região do Alto das Pombas e Calabar, bairros populares da região central de Salvador e circunvizinhos à universidade.

O episódio é mais um dentre vários casos que constituem a crise de segurança pública soteropolitana, processo de longa duração cuja gravidade vem se acentuando desde o segundo semestre de 2022. Em meio a cobertura da imprensa carlista, cuja linha editorial busca desonerar a administração municipal de sua parcela de responsabilidade sobre a ordem pública, a população baiana assiste sua cidadania ser restringida até níveis desprezíveis, numa frequência cada vez maior, e amplamente noticiada, de chacinas, arrastões execuções e conflitos diretos por territórios centrais no tráfico de drogas soteropolitano.

Enquanto esse caos se difunde, com auxílio das narrativas sensacionalistas da mídia baiana, principalmente a imprensa carlista que se tornou especialista em vender histórias de violência bestial ao entrevistar parentes de vítimas nas portas dos necrotérios, a polícia baiana, condecorada como a mais letal da república brasileira, barganha com o governo estadual.

No objetivo de minimizar a implementação de políticas de monitoramento da ação policial, as autoridades policiais e governamentais cinicamente negam, através de sua linguagem burocrática e protocolar, a agência das forças da polícia militar baiana no incremento da violência em Salvador. Nesse mesmo sentido perverso, visando manter o forte apoio logístico que recebeu da administração do ex-governador Rui Costa, hoje Ministro da Casa Civil no governo Lula, argumentam que a melhor resposta para essa crise, “para as organizações criminosas vindas do Rio de Janeiro”, é a ampliação da letalidade policial. Nisso demonstram seu total despreparo técnico para enfrentar a crise de segurança pública que Salvador atravessa, afinal o aumento do aparato repressivo, nem mesmo com o auxílio das tropas federais, foi capaz de transformar o Rio de Janeiro em um paraíso civil.

Por outro lado, a estratégia do poder municipal, administração carlista capitaneada por playboys que se colocam como proprietários da cidade de Salvador, adota a passividade cínica, característica tradicional das elites baianas. Visando capitalizar politicamente a violência na próxima eleição municipal, oferecem a carne e o sangue do povo baiano como sacrifício necessário para a continuidade do seu projeto de poder reacionário, travestido de democracia neoliberal. Se a prefeitura se faz presente no cotidiano de Salvador, essa presença é diminuta, propositadamente restrita há um conjunto parco e frágil de reformas faraônicas na estrutura urbana soteropolitana. Medidas que certamente terão impacto positivo para os bolsos do empresariado que governa Salvador através do gestor de festas carnavalescas sentado na cadeira de prefeito. Sem dúvida, os negócios vão bem, enquanto Salvador sangra e isso soa muito bem para uma administração que só enxerga a sua responsabilidade sobre a cidade que governa nas festas da alta estação.

E como fica a população soteropolitana? Permanece refém de burocratas, playboys e traficantes. Privada dos seus direitos constitucionais, Salvador em sua crise de segurança pública é protagonista de um retrato triste da Bahia. Terra privada do seu potencial, convertida em um lugar arrasado, representante de tudo aquilo que as elites políticas e econômicas desse país negam ao povo brasileiro.