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MOVIMENTO

Juventude Sem Medo lança candidatura coletiva de mulheres para a Presidência da UNE

Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) acontecerá em Brasília (DF), de 10 a 14 de julho. Leia abaixo o manifesto da candidatura

Juventude Sem Medo

Uma candidatura coletiva, feminista, negra e LGBTI+ por uma UNE SEM MEDO

A tese “Juventude Sem Medo – Ocupar as ruas, semear o futuro” anuncia o lançamento da primeira candidatura coletiva para a União Nacional dos e das Estudantes. Das mulheres que foram linha de frente no combate ao fascismo à brasileira nas mobilizações do #EleNão, às meninas que lideraram as ruas contra os cortes da educação no 15 e no 30M, que bloquearam rodovias no dia 14 de junho contra a reforma da previdência, trazemos a nossa contribuição para a condução da UNE no próximo período.

O 57o CONUNE será histórico, seremos dezenas de milhares de jovens na capital do país armando a resistência – ao mesmo tempo que entrará em votação a reforma da previdência. Vamos levar a juventude que barrou os cortes para barrar essa reforma que acaba com o nosso futuro – na grande marcha do dia 12 de julho por educação, emprego e aposentadoria.

A política brasileira sofreu uma reviravolta nos últimos anos. A ofensiva da direita para cima da juventude e dos trabalhadores, que culminou no golpe institucional e evoluiu para a eleição de Bolsonaro impôs sobre os nossos ombros uma agenda imensa de retrocessos. Da EC do teto de gastos, passando pela reforma trabalhista, cortes nas áreas sociais, retrocessos nas políticas ambientais e agora os poderosos estão unificados para destruir a nossa previdência. Do aprofundamento da criminalização dos movimentos sociais e da esquerda, expresso no assassinato de Marielle Franco e na prisão política sem provas do ex-presidente Lula.

No entanto, quando Bolsonaro e seu capacho Weintraub resolveram cortar verbas da educação, nós mostramos uma força incrível tanto para ir às ruas quanto para dialogar e convencer a população de que a educação pública era do povo. O povo ficou do nosso lado. Fizemos um tsunami, um tsunami consciente e organizado, que será a pedra no sapato do governo, porque está acumulando forças, organização e consciência.

Somos os que acreditam que somente a unidade do povo e da juventude será capaz de interromper o avanço da direita. A União Nacional das e dos Estudantes é fundamental para virarmos esse jogo. A UNE é hoje a principal entidade de frente única brasileira, reunindo pluralidade de ideias e diferentes projetos políticos, cujo potencial de articulação e construção precisa ser testado.

Não podemos seguir tendo uma UNE que apesar de se engajar nos processos de mobilização, segue distante de onde eles brotam. Precisamos de uma UNE que seja independente de governos e reitorias e que esteja de fato aberta para contribuições de qualquer estudante. Onde estudantes que tiveram a criatividade para fazer os panfletos do vira voto, as mesas de bolo e café para convencer corações e mentes, que foi aos atos com seu cartaz junto com seu centro acadêmico, que organizou mostras científicas abertas para mostrar a utilidade da produção científica nas universidades sinta que no movimento estudantil é o seu lugar.

A UNE não precisa só mudar na forma, também precisa apresentar uma saída para a crise. Um programa pelo qual vamos convocar os estudantes a lutar e, humildemente, temos propostas a apresentar. Saudamos a militância da Juventude Sem Medo que em sua estreia fez o segundo maior credenciamento dos setores já declarados como de oposição. E construímos inúmeras chapas de unidade e luta na base pelo país com setores diversos do movimento estudantil, dentre eles a tese do movimento Correnteza, a maior tese da oposição.

Se é verdade que precisamos de uma nova UNE para novos tempos, precisamos também de uma nova oposição. Para nós, o desafio de reinvenção da esquerda brasileira e da UNE passa necessariamente por uma nova leitura para esse momento. Temos muito orgulho da nossa história, mas o saudosismo ou a manutenção de velhas demarcações não nos ajudarão a traçar esse caminho. A renovação é urgente:

UM NOVO PERFIL DE OPOSIÇÃO: Precisamos de uma oposição que construa a UNE e apresente alternativas para que a UNE cresça, ganhe mais legitimidade – não há espaço para negação. O que nos faz oposição é carregar uma alternativa política estratégica para o novo ciclo, a partir de um balanço crítico da estratégia de conciliação entre os interesses dos ricos e poderosos com os da juventude e dos trabalhadores. Na primeira necessidade, os de cima romperam a conciliação para nos atacar. Tudo que conquistamos em tantos anos, perdemos em meses. Desse processo, extraímos uma lição histórica, a de que não podemos depositar nenhum pingo de confiança que não seja nas nossas próprias forças. Não é possível atenuar as reformas anti-povo com negociações institucionais. Vamos batalhar até o final contra a reforma da previdência! A única possibilidade de sairmos dessa situação desfavorável é apostando na mobilização dos de baixo contra esse projeto político. Por isso, a cara do povo brasileiro deve ser a cara da UNE – majoritariamente feminina, negra e com representatividade LGBT – e com ela carregadas as políticas feministas, antirracistas, populares e pela diversidade.

ERGUER A UNIDADE: enquanto a UNE estiver na oposição aos governos retrógrados, trabalharemos para a unidade entre todas as forças da entidade, não como um ultimato nem como um jargão vazio. A unidade que acreditamos se faz em torno de pautas específicas, direção compartilhada e experiências na base. Queremos uma UNE que nos dê o orgulho que deu na luta contra os cortes do 15M e do 30M em seu cotidiano – levando para frente campanhas e comitês de base pela democracia e pelos nossos direitos. Não temos como anular nossas diferenças, mas somente a unidade será capaz de derrotar as políticas do governo Bolsonaro, defender a educação e o futuro da juventude. Precisamos também de unidade em defesa da própria entidade, que já foi alvo de inúmeras censuras e sofre diversas ameaças pelo que representa historicamente.

TRANSFORMAR A UNE: Precisamos mudar radicalmente a lógica de funcionamento da UNE para que a sua tiragem de delegados seja cada vez mais uma expressão da realidade das universidades e não uma disputa de aparato burocrático, com um desfecho congressual previamente decidido, onde as alianças de chapa são totalmente pragmáticas. Também achamos que precisamos superar o presidencialismo, aprender com o movimento estudantil de diversas universidades que já apresenta chapas para DCEs e CAs de forma colegiada ou com novos formatos. Defendermos uma estrutura do CUCA participativa, uma política de comunicação que dê autonomia aos estudantes. Maior peso para os encontros setoriais e estrutura para as suas campanhas. Uma UNE que atue menos a partir de atitudes isoladas da presidência ou das suas figuras principais e mais coordenada entre as diretorias e a rede do movimento de estudantil – CAs, DCEs, coletivos e frentes de estudantes bolsistas e trabalhadores.

Maria Clara Delmonte da UFRJ, Victoria Ferraro da Unicamp, Vitória Genuíno da UNICAP, Maria Clara da PUC MG, Isabella Mamedi da UFES, Bruna Jacob da UFBA representam este programa e são jovens lideranças dessa nova geração, de diferentes cantos do país, que trazem consigo uma renovação necessária da política.

Nesse sentido, estamos dispostos e colocamos nossa candidatura coletiva a serviço de uma nova síntese, por uma oposição unificada, que seja o germe de uma nova UNE. Lamentamos que tenha sido lançada uma chapa sem que se tenha buscado incorporar todos aqueles que defendem fortalecer um campo de oposição na UNE. Existem muitos coletivos e movimentos dentro da UNE que compartilham dessa bandeira e devemos incorporar a todos. Precisamos colocar essa construção acima dos nossos interesses isolados, construindo uma chapa unificada de todos que se consideram oposição à direção atual.