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BRASIL

Os 80 tiros do Exército e uma farsa de justiça militar

Nove dos 12 militares que participaram do fuzilamento em Guadalupe, no Rio de Janeiro, são soltos

Pedro Augusto, do ABC paulista
Reprodução

Músico Evaldo Rosa dos Santos, morto por militares

Foram 83 tiros contra o carro da família de Evaldo Rosa. Foram dois mortos: além de Evaldo, Luciano Macedo, assassinado com 3 tiros pelas costas enquanto tentava ajudar a família que ia ao chá de bebê, no domingo a tarde, a sair da linha de tiro.
Mas passaram de 200 os disparos efetuados, segundo resultado da perícia.
Somente o tenente, responsável pela blitz, foi responsável por 77 tiros.
Todos esses números foram destacados de propósito, para dar a dimensão do absurdo que foi a decisão da Justiça Militar, de mandar soltar 9 dos 12 militares presos provisoriamente desde o assassinato praticado pelo Exército brasileiro.
Ainda pior foi a linha dos argumentos do advogado dos militares, que justificou a atitude por, segundo ele, tratarem-se de potenciais “bandidos”, como se houvesse algum lugar na legislação do país que autorizasse a execução sumária de ladrões de carro.
Na prática, o que ele afirma, com a anuência do governo e da cúpula do Exército, é que negros passando pela favela podem legitimamente serem executados pelas forças policiais e pelo Exército, pelo simples fato de serem negros e, logo, suspeitos, potenciais corpos a serem abatidos.
Enquanto isso, moradores das favelas do Rio de Janeiro estão recebendo chuvas de balas atiradas de helicópteros e por snipers, a mando do governador Witzel, condenados à morte sem direito à defesa, pelo crime de viverem no palco da falida guerra às drogas.
Enquanto isso, Bolsonaro disse que o Exército não havia matado ninguém, além de ter publicado decreto facilitando o porte de armas, só excluindo o acesso a fuzis após enfrentamento dos movimentos sociais e lutadores do movimento negro e dos direitos humanos.
Enquanto isso, o movimento negro se organiza para enfrentar o pacote anti-crime do Moro, que na verdade é um pacote anti-preto, que legaliza ações como a do Exército no Guadalupe, que resultou nos mais de duzentos tiros contra Evaldo e a sua família, isentando de responsabilidade os policiais que matarem, ao mesmo tempo que não impõe nenhuma dificuldade adicional à prática de crime de colarinho branco, como o caixa 2.
É urgente lutarmos conta a política de morte do Estado brasileiro, potencializada pelo governo de Jair Bolsonaro.
Marcado como:
80 tiros