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MUNDO

Macri conduz a Argentina para o abismo

Pobreza disparou e dívida pública corresponde a 90% do PIB. Trabalhadores farão paralisação nacional nesta terça, 30

Renato Fernandes, de Campinas (SP)

Mauricio Macri

A Argentina vai mal, muito mal. Os índices demonstram que nos últimos anos a pobreza disparou no país: aproximadamente 9 milhões de argentinos estão abaixo da linha de pobreza (32% da população) e 1,8 estão abaixo do nível de indigência (6,7%).

Esse cenário se complica com uma crise econômica de enormes proporções. Na quinta-feira, 25/4, o dólar e o risco-país dispararam. A alta do dólar, que fechou em 46,30 pesos, tem a ver com diversos fatores internacionais – no Brasil também está em alta. Porém essa alta vem de longe. Só para ter uma ideia, no início do governo de Mauricio Macri, em dezembro de 2015, o dólar estava valendo 13,90 pesos. Uma brutal desvalorização da moeda argentina.

Já o risco-país, uma medida criada pelas principais instituições imperialistas para avaliar a capacidade de pagamento da dívida pública de um país, bateu nesta quinta 950 pontos (a maioria dos países latino-americanos tem esse índice abaixo de 250 pontos). A dívida pública argentina, sua maior parte em dólar, chegou a aproximadamente 90% do PIB. O principal medo da burguesia financeira é a possibilidade de default (suspensão do pagamento da dívida) pela Argentina.

Tudo isso em um país que vem, desde a vitória de Macri, implementando um modelo neoliberal: cortou diversos subsídios e programas sociais para os mais pobres e realizou reformas neoliberais, como a reforma da Previdência, em 2017. Nada disso foi suficiente para tirar a Argentina do caminho do abismo, como afirma o El País. Mesmo com Macri recorrendo ao FMI, a burguesia nacional e internacional querem que o povo argentino sofra ainda mais com um ajuste brutal das contas públicas.

O chamado risco político

Muitos analistas afirmam que o problema da Argentina são as próximas eleições presidenciais, principalmente o cenário de indecisão que predomina entre os candidatos e entre os prováveis vencedores. A candidata mais forte é a ex-presidente Cristina Kirchner que vence o atual presidente Mauricio Macri em qualquer um dos cenários. O problema é que Cristina Kirchner responde a um processo na justiça pelo qual o juiz Claudio Bonadio já pediu sua prisão por “associação ilícita” com objetivo de arrecadar dinheiro ilegal de empresas beneficiadas nos contratos. Reconhecem a acusação? Nada muito diferente do que a Lava Jato fez no Brasil com Lula para tirá-lo do pleito. A diferença é que Cristina Kirchner é senadora e tem imunidade parlamentar e por isso não pode ser presa. Ela vai a julgamento em maio, mesmo mês que deverá anunciar sua candidatura. Por enquanto, permanece em silêncio e aguarda o lançamento da sua autobiografia Sinceramente que já está esgotada, mesmo antes de ser impressa.

Por outro lado, Mauricio Macri insiste em manter sua candidatura. Na mesma quinta-feira que o dólar e o risco país subiram, Marcos Peña, Chefe de Gabinete, insistiu que Macri será candidato. Um setor da burguesia argentina já se incomoda com a insistência de Macri, dado o desgaste que ele tem. É por isso que esse setor aposta na governadora de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal que seria uma continuidade política de Macri, porém com uma cara renovada para aprofundar o ajuste neoliberal. A questão é que Vidal não vai concorrer contra Macri.

Por fora corre o setor peronista antikichnerista, tendo como principais prováveis candidatos o deputado Sergio Massa ou o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna. Esse setor ainda discute se fará prévias ou se decidirá por consenso quem será o candidato por Alternativa Federal.

Do lado da esquerda socialista argentina teremos a Frente de Izquierda y de los Trabajadores (FIT) como principal referência. Para essas eleições, a FIT decidiu lançar a candidatura de Nícolas Del Caño (Partido de los Trabajadores Socialistas) para presidente e de Romina Del Plá (Partido Obrero) para vice presidenta. Infelizmente, a FIT continua fechando a porta para uma unidade mais ampla da esquerda socialista, já que excluiu o Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST) e o Nuevo MAS da unidade eleitoral. Um erro na construção de uma alternativa ao kirchnerismo e aos setores neoliberais.

Greve Geral em 30 de abril

Os principais sindicatos do país estão chamando uma paralisação nacional contra a política econômica do governo Macri. São mais de 80 sindicatos da principal central sindical do país, a CGT e as duas CTA. Irão paralisar caminhoneiros, metroviários, bancários, professores, funcionários públicos, metalúrgicos, entre outras categorias. Será mais uma paralisação importante com atos em diversos pontos do país.

Sem dúvida alguma, nestes últimos quatro anos de macrismo não faltaram lutas e paralisações nacionais. Os trabalhadores argentinos estiveram presentes contra o retrocesso que significou a volta da política clássica do neoliberalismo promovida por Macri, com um especial destaque para as mulheres que foram vanguardas das mobilizações, principalmente no 8M e na luta pelo direito do aborto, sem esquecer as importantes mobilizações contra a reforma da previdência. Infelizmente, essas lutas não foram suficientes para derrotar as políticas de Macri e aprofundaram a crise social no país.

É nesse sentido que se deve pensar a construção de uma alternativa política para a esquerda socialista. É hora de repensar o voluntarismo, a autoconstrução. É necessário fortalecer as resistências dos trabalhadores e construir a necessária unidade entre os socialistas para apresentar uma alternativa ao país.

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