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MUNDO

Poder para o povo: o chamado dos coletes amarelos de Commercy

Tradução: Victor Amal, de Florianópolis (SC)
Reprodução

O movimento dos coletes amarelos é muito forte e mobiliza diversas cidades da França. Mas ele também é um movimento muito profundo que ultrapassa a reivindicação dos impostos e do poder de compra. Um exemplo recente é a declaração dos coletes amarelos na pequena comuna de Commercy, situada nas região nordeste do país. Eles fazem um chamado para rejeitar as propostas de “representantes” dos movimentos como está sendo feita pelos governos e convocando para que o próprio povo se organize por meio de assembleias populares e assuma o poder.
Leia o chamado e veja o vídeo (em francês e em inglês) abaixo:

APELO DOS COLETES AMARELOS DE COMMERCY POR ASSEMBLEIAS POPULARES EM TODOS OS LUGARES.
RECUSEMOS A RECUPERAÇÃO! VIVA A DEMOCRACIA DIRETA! NENHUMA NECESSIDADE DE “REPRESENTANTES” REGIONAIS!

 

“Por quase duas semanas, o movimento de coletes amarelos colocou centenas de milhares de pessoas nas ruas de toda a França, muitas vezes pela primeira vez. O preço do combustível foi a gota de gasolina que incendiou a planície. O sofrimento, a vergonha e a injustiça nunca foram tão generalizados. Agora, em todo o país, centenas de grupos locais estão se organizando com diferentes maneiras de fazer as coisas.

Aqui em Commercy, no Meuse, temos operado desde o início com assembleias populares diárias, onde cada pessoa participa em igualdade de condição. Organizamos bloqueios da cidade, estações de serviço e barragens seletivas. Na sequência, construímos um galpão na praça central. Nós nos encontramos lá todos os dias para nos organizar, decidir as próximas ações, dialogar com as pessoas e dar as boas-vindas àqueles que se juntam ao movimento. Também organizamos “sopas solidárias” para viver belos momentos juntos e nos conhecermos. Em total igualdade.

Mas eis que o governo e certas facções do movimento propõem nomear representantes por região! Ou seja, algumas pessoas que se tornariam os únicos “interlocutores” das autoridades públicas e abafariam nossa diversidade.

Mas nós não queremos “representantes” que acabem forçosamente falando por nós!

Vejam o problema. Em Commercy, uma delegação isolada se reuniu com o subprefeito, nas outras grandes cidades se reuniu diretamente com o Prefeito. Eles JÁ fizeram aumentar nosso ódio e nossas reivindicações. Eles JÁ sabem que estamos determinados a acabar com esse odioso presidente, esse detestável governo e o sistema podre que eles encarnam!

E é exatamente isso que amedronta o governo! Pois ele sabe que, se ele começa a ceder nos impostos e sobre os combustíveis, ele também terá que recuar nas aposentadorias, os desempregados, o estatuto dos funcionários públicos e todo o resto! Ele também sabe MUITO BEM que corre o risco de intensificar UM MOVIMENTO GENERALIZADO CONTRA O SISTEMA!

Não é para compreender melhor nosso ódio e nossas reivindicações que o governo quer “representantes”. É para nos enquadrar e nos enterrar! Tal como acontece com as direções sindicais, ele procura intermediários, gente com quem ele poderia negociar. Nestes em quem ele pode em seguida controlar e pressionar a dividir o movimento para enterrá-lo.

Eles desprezam a força e a inteligência do nosso movimento. Desprezam o fato que estamos pensando, nos organizando, fazendo evoluir nossas ações que os apavoram tanto e que ampliam o movimento!

E acima de tudo, eles não levam em conta que há uma coisa muito importante: em toda parte, de várias formas, o movimento dos coletes amarelos reivindicam muito além do poder de compra! O que os coletes amarelos reivindicam é o poder ao povo, pelo povo, para o povo. É um novo sistema onde “aqueles que não são nada”, como eles dizem com desprezo, assumem o poder sobre todos aqueles que se empanturram, sobre os dirigentes e sobre os poderosos do dinheiro. É a igualdade. É a justiça. É a liberdade. Eis o que queremos! E isso começa pela base!

Se nomearmos “representantes” e “porta-vozes”, isso nos tornará entes passivos. Pior: vamos rapidamente reproduzir o sistema e funcionar de cima para baixo como os canalhas que nos dirigem. Estes chamados “representantes do povo” que estão enchendo seus bolsos, que fazem leis que apodrecem a vida e servem aos interesses dos ultra ricos!

Não coloquemos nem um dedo na engrenagem da representação e da recuperação. Este não é o momento de delegar nossa palavra a um punhado de indivíduos, mesmo que pareçam honestos. Que escutem a todos nós ou não escutem a ninguém!

A partir de Commercy, portanto, propomos a criação em toda a França de comitês populares, que funcionem em assembleias gerais regulares. Espaços onde se liberta a palavra, onde se ousa se expressar, se preparar, ajudar fraternalmente um ao outro. Se deve haver delegados, é ao nível de cada comitê popular local de coletes amarelos, o mais próximo possível da palavra do povo. Com mandatos imperativos, revogáveis ​​e rotativos. Com transparência. Com confiança.

Propomos também que centenas de grupos de coletes amarelos possuam um galpão como em Commercy, ou uma “casa do povo”, como em Saint-Nazaire, em suma, um lugar de compartilhamento e de organização! E que eles se coordenem, em nível local e provincial, em condição de total igualdade!

É assim que vamos ganhar, porque isso, lá em cima, eles não estão acostumados a controlar! E isso os faz tremer de medo.

Não nos deixaremos ser dirigidos. Não nos deixaremos dividir e recuperar.

Não aos representantes e porta-vozes auto-proclamados! Retomemos o poder sobre nossas vidas! Viva os coletes amarelos em sua diversidade!

VIVA O PODER AO POVO, PELO POVO, PARA O POVO!”

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