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MUNDO

Catalães tomam as ruas no dia 11, por uma República independente

Por: Gabriel Santos, de Maceió, AL
Alberto Garcia

Os catalães celebram anualmente no dia 11 de setembro o Dia Nacional da Catalunha, o Diada. A data comemora a resistência catalã até a morte durante o Cerco de Barcelona durante a Guerra da Sucessão, finalmente derrotada pelas forças bourbônicas, em 11 de setembro de 1714. O Diada nos últimos anos, a partir de 2012 especificamente, tem se tornando uma importante manifestação política que dita os ritmos e a pauta independentista para o período seguinte. Assim, o lema que a marcha comemorativa assume é a tarefa política das forças empenhadas na independência da região.

Em 2018, o Diada tem uma importância superior ao ocorrido em anos anteriores. É o primeiro após o referendo pela independência da região, realizado em outubro do ano passado. Referendo este no qual a maioria dos participantes votou pelo “Si”, ou seja, pela independência da Catalunha. E que, porém, foi considerado ilegal e ilegítimo pelo governo espanhol, que fez o possível e o impossível para impedir a votação ao esconder urnas e dispersar filas de votantes através de forte repressão policial, deixando mais de mil feridos.

O então presidente catalão, Puigdemont, depois de hesitar, acabou por declarar em 27 de outubro a independência da região. Poucas horas depois, em Madrid, o Senado do Estado Espanhol aprovou a entrada em vigor do artigo 155 da Constituição, permitindo o então presidente Rajoy dissolver o Parlamento e por fim ao governo catalão.

Lideranças independentistas, incluindo Puigdemont, fugiram para outros países, em especial para Bruxelas, na Bélgica. Outras que ficaram na Catalunha foram presas. O Estado Espanhol acusa os membros do parlamento catalão de rebelião, acusação da qual foram considerados inocentes pela Justiça dos países em que estes parlamentares se encontram detidos.

Entretanto, em 1º de junho o governo conservador de Rajoy (PP) é destituído pelo parlamento, sendo substituído por Pedro Sanchez (PSOE). Em 12 de junho, a justiça alemã extradita Puigdemont para o estado espanhol abrindo a possibilidade de reanimar a luta pela independência.

Uma nova situação
Refletindo essa nova situação, o Diada deste ano organizado pela Assembleia Nacional Catalã aconteceu sob o lema: “Façamos a República Catalã”. Os manifestantes defendiam a liberdade dos dirigentes políticos presos, a independência da região e a proclamação de uma República na região. Críticas ao Rei espanhol, Felipe VI, foram vistas em palavras de ordem e em faixas ostentadas pelos participantes.

A quantidade de pessoas na manifestação varia de acordo com a fonte. De acordo com o jornal El Pais, foram 400 mil pessoas; as forças de segurança que acompanharam o ato informam que o número de participantes chegou a um milhão de pessoas.

O atual governo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, do PSOE, propôs negociar sem pré-condições com os independentistas, até se chegar a um acordo de autogoverno, algo que se difere da independência da região diante do Estado Espanhol. Esta proposta seria facilmente aceita em anos anteriores e é muito superior a qualquer coisa que o ex-primeiro-ministro Rajoy já tenha prometido a região. Porém, hoje, com o atual nível de manifestações e grau de polarização independentista, ela foi prontamente recusada pelo atual presidente catalão Quim Torra, eleito pelo Parlamento em 02 de junho deste ano, sob a indicação de Puigdemont.

Entretanto, a proposta feita por Sánchez aumentou a crise existente nas forças independentistas. Elas hoje são maioria no Parlamento Catalão, mas discordam sobre a forma que a luta independentista deve ser realizada.

O Junts per Catalunya, aliança eleitoral encabeçada pelo PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão)  de Puigdemont e a Esquerra Republicana (ERC) de Oriol Junqueras e Marta Rovira, divergem publicamente. A Esquerra Republicana critica a forma que Quim Torra lidou com a proposta vinda de Madrid. Eles defendem uma mesa de negociação e um referendo realizado de forma conjunta com o Estado Espanhol, porém, tendem a aceitar a proposta feita por Sánchez. Acusam Torra de fazer sempre um discurso unilateral sobre a independência da região, mas nunca detalhando como fará para alcaçar esse objetivo. O Junts per Catalunya tende a defender a posição de Torra, apoiando a pressão que ele exerce pela liberdade dos presos políticos independentistas.

Seja como for, a manifestação do Diada deste ano se diferencia das anteriores pela pauta explícita do chamado a uma República, algo que confronta diretamente a formação atual do Estado Espanhol. Apesar dos milhares que lotaram as ruas de Barcelona pedindo independência e o fim do controle de Madrid e da monarquia sobre a região, a verdade é que as forças independentistas parecem recuadas. Os partidos que lideraram o processo no período anterior indicam cansaço chegando ao limite de suas contradições, evitando um confronto maior com o Estado e a burguesia espanhola. Assim, é possível que haja um pacto entre o atual governo do PSOE e as forças independentistas na Catalunha. Diante de toda essa situação uma coisa é certa: sem a mobilização popular a independência se tornará algo cada vez mais distante e difícil. No entanto, o Diada demonstrou que o ânimo das massas nutre novas esperanças. Nem tudo está perdido.

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