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MUNDO

Espanha: Caiu Rajoy (PP) e Pedro Sánchez (PSOE) assume o governo

Márcio Musse, de Londres/Inglaterra
Mariano Rajoy recebe Pedro Sanchez. Foto Dani Duch / La Vanguardia

Mariano Rajoy recebe Pedro Sanchez. Foto Dani Duch / La Vanguardia

No dia 01 de junho, uma sexta-feira, o parlamento espanhol aprovou uma Moção de Desconfiança contra o então primeiro-ministro Mariano Rajoy, do conservador PP. A Moção foi apresentada pelo partido tradicional de centro-esquerda PSOE, com o apoio de diversas organizações de esquerda (Unidos Podemos) e partidos nacionalistas bascos e catalães, como o PdeCAT – que recentemente se destacou no processo de independência da Catalunha, sendo o partido do ex-presidente catalão Carles Puidgemont, que se encontra atualmente em uma espécie de exílio na Alemanha.

Pela legislação espanhola, a aprovação de uma Moção de Desconfiança resulta na destituição, e novas coalizões podem ser articuladas no Parlamento para a definição de um novo governo. Esta foi a primeira vez que este dispositivo foi utilizado para derrubar um primeiro-ministro desde a redemocratização do país, após o período da ditadura franquista.

A moção foi baseada em um escândalo de corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro, envolvendo vários políticos do PP e empresários, chamada Caso Gurtel. Neste processo, o próprio Rajoy chegou a servir de testemunha de defesa do tesoureiro do PP, Luis Barcenas, que foi condenado a 33 anos de prisão. Rajoy não conseguiu blindar seu governo dos desgastes causados pelo caso Gurtel, o que permitiu ao PSOE articular sua derrubada mesmo sem contar maioria absoluta – incluindo eventuais aliados – no parlamento de Madrid.

Porém, sabemos perfeitamente que “corrupção” por si só não derruba governo algum. Na grande maioria dos casos, serve como justificativa para atacar governos que já politicamente frágeis. Se não fosse o caso, o PP poderia muito bem ter conseguido blindar o governo ou, no máximo, substituir Rajoy por algum outro representante menos atingido pelo desgaste do escândalo. O fato é que o governo Rajoy saiu ferido de morte do processo de independência da Catalunha. Além disso, a crise gerada pelas políticas de austeridade minou a sustentação do governo. A Espanha foi vanguarda mundial da luta das mulheres, protagonizando uma greve e mobilização gigante no 8M, além de grandes mobilizações de aposentados, contra cortes na Previdência e de estudantes.

A política da burguesia tradicional espanhola e da União Europeia é pressionar pela a realização de novas eleições. Isso pelo fato de que um novo partido de centro-direita, o Ciudadanos, ter aparecido com boa vantagem nas últimas pesquisas eleitorais realizadas no país. O Ciudadanos é um partido mais próximo do estilo Macron: defende as políticas neoliberais e de austeridade, assumindo um discurso mais “moderno” e diferente da nova extrema-direita europeia. Rajoy, porém, se recusou a renunciar e chamar as eleições. Preferiu bancar sua “defesa” até o final, dando àqueles que articularam sua derrubada a opção de chamar eleições ou assumir o governo.

PSOE assume o governo. “Geriguenza” a espanhola?
Quem assume o governo é Pedro Sánchez com o voto de confiança do Unidos Podemos e do PdeCAT. Em seu discurso de posse, o líder do PSOE prometeu um governo “estável e que respeita acordos”, sinalizando para Bruxelas e a burguesia espanhola e europeia que não pretende realizar grandes alterações. Entretanto, mais que o discurso de posse, é o próprio histórico do PSOE que não permite que se tenha qualquer ilusão que seu governo defenda uma plataforma anticapitalista ou mesmo anti-austeridade.

Por outro lado, as expectativas existentes de que esse será um governo fundamentalmente diferente do antecessor não permitirão que o PSOE governe tranquilo. Sanchez terá de responder às demandas dentro do próprio parlamento de partidos que dão sustentação ao seu governo, como o PdeCAT e mesmo o Unidos Podemos. Fazendo um trocadilho com a composição do atual governo português, onde o PS governa em uma coalizão viabilizada por partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e PCP), podemos afirmar que se constituiu uma “Geringuenza” no Palácio de Moncloa?

A questão a saber é qual será a resposta das ruas. Como os movimentos sociais que protagonizaram as lutas do último período e que, em última instância, criaram o ambiente político para a queda de Rajoy, responderão a um novo governo do PSOE nesse momento? Qual será o impacto dessa nova configuração na luta pela independência da Catalunha, das jornadas feministas, das lutas dos aposentados, do combate aos planos de austeridade? A esquerda espanhola vai aproveitar a situação aberta para fortalecer as lutas e avançar, tanto para responder a questões nacionais como a basca e catalã quanto no combate às políticas de austeridade, apontando uma alternativa anticapitalista?

 

Marcado como:
corrupção / espanha