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Seis comentários sobre o debate entre os presidenciáveis na Rede TV

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Na noite desta sexta-feira, 17, ocorreu o segundo debate entre candidatos a presidente da República, na TV aberta, agora promovido conjuntamente pela Rede TV e a revista Isto é. O encontro acontece oito dias após o primeiro debate, na Bandeirantes.

Novamente oito candidatos estiveram presentes: Álvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). E, mais uma vez, gerou uma grande repercussão nas redes sociais e na grande imprensa.

Algumas questões chamaram atenção, e destaco algumas:

1- Ausência de Lula
Mais uma vez, a justiça impediu a presença de Lula no debate, mesmo sendo o líder de todas as pesquisas de opinião. No mesmo dia em que o Comitê de Direitos Humanos da ONU definiu que o Brasil deveria libertar Lula, deixá-lo responder em liberdade aos processos judiciais nos quais é acusado e permitir sua candidatura presidencial, novamente vemos o impedimento de sua presença num debate sobre eleições.

Entretanto, mesmo ausente, Lula foi um dos temas de discussão. Já no início do debate foi informado que, depois da decisão judicial que Lula não poderia participar, foi retirado o púlpito com o nome do ex-presidente. Todos os candidatos concordaram em tirar o púlpito com nome de Lula, menos Guilherme Boulos, que protestou. Essa informação foi lembrada mais uma vez durante a transmissão do debate.

Uma vez mais, não se trata de defender o projeto político de aliança com a velha direita e de governar sem mexer de verdade nos privilégios dos ricos e poderosos da direção petista, mas entender que a condenação sem provas de Lula, sua prisão política e o impedimento de sua candidatura presidencial são grandes absurdos do momento político brasileiro, partes inerentes do golpe parlamentar de 2016 e do caráter reacionário e seletivo da Operação Lava Jato.

2- Todos deveriam participar
Além da ausência de Lula, novamente outros quatro candidaturas estiveram impedidos de participar, entre elas a da companheira Vera Lúcia (PSTU).

A legislação eleitoral vigente não obriga a participação dos candidatos que não possuem, em seus partidos e ou coligações, pelo menos cinco parlamentares nacionais. Lembrando que a última reforma eleitoral foi chefiada pelo famigerado Eduardo Cunha, do PMDB, atualmente preso.

Independentemente do tamanho dos partidos, é minimamente democrático que todas as candidaturas presidenciais participem dos debates e tenham o mesmo direito e tempo nas coberturas da imprensa e no horário eleitoral gratuito.

3 – Cinquenta tons de Temer
Essa feliz expressão, lançada por Boulos no debate da Band para lembrar que a maioria dos candidatos presentes apoiou o golpe do impeachment e sustentou o governo ilegítimo de Temer e suas medidas reacionárias, voltou a ser discutida no encontro de ontem.

Guilherme Boulos, mais uma vez, denunciou os candidatos do ajuste e do golpe, o que vem incomodando, principalmente Alckmin, Bolsonaro, Meirelles e Álvaro Dias.

Já no bloco das considerações finais, Alckmin “acusou o golpe”, dizendo que o tom de Temer é vermelho, pois ele foi duas vezes vice de Dilma do PT. Na verdade, todos os amigos de Temer, agora querem se desvencilhar do presidente mais impopular da história brasileira.

Logo em seguida, Boulos teve a oportunidade de responder, lembrando que os tucanos estão intimamente ligados ao governo Temer, afinal apoiaram a sua posse, integrando seu governo até hoje e votando no Congresso a favor das medidas anti-povo trabalhador propostas por ele. O próprio Temer, essa semana, fez questão de elogiar a candidatura de Alckmin.

4 – Fator Bolsonaro
De novo assistimos ao confronto entre Boulos e Bolsonaro. No primeiro encontro, o candidato do PSOL denunciou que o candidato da extrema-direita tinha uma funcionária fantasma (a já famosa Val). O assunto ganhou tanta repercussão que o deputado do PSL teve que demiti-la.

Ontem, Bolsonaro tentou um direito de resposta contra Boulos, que incluiu seu nome entre os candidatos milionários. Felizmente, ele perdeu novamente o conflito com Boulos.

Enquanto Ciro Gomes segue tratando de forma cordial o candidato da extrema direita brasileira – inimigo do povo, dos oprimidos e da juventude – Marina Silva produziu um dos grandes momentos do debate, passando um verdadeiro “sermão” em Bolsonaro, onde lembrou o episódio em que ele ensina a uma criança fazer com a sua mão o símbolo de atirar com arma de fogo, chamando a atenção também para o caráter laico do Estado brasileiro, preceito tão desrespeitado tanto por Bolsonaro como pela figura caricata do Cabo Daciolo.

5 – Medidas do governo ilegítimo e golpista
Um dos grandes temas do debate foi o terrível desemprego que assola os trabalhadores brasileiros e o verdadeiro caos dos serviços públicos que vem se intensificando ainda mais nos últimos anos.

Medidas do governo ilegítimo de Temer, as alterações reacionárias da Constituição, tais como a reforma trabalhista e o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos, estiveram no centro do debate. Os candidatos do golpe e do ajuste, como Alckmin, Bolsonaro, Meirelles e Álvaro Dias, defenderam as reformas reacionárias, mesmo querendo disfarçar sua relação inseparável com Temer.

Boulos denunciou o desemprego e a crise dos serviços públicos, defendendo como primeira medida de governo a convocação de um plebiscito para reverter todas as medidas reacionárias de Temer, que tanto atacaram os direitos do povo trabalhador.

A proposta do plebiscito é correta, pois se apoia no sentimento popular contra os ataques de Temer, tira do Congresso Nacional o poder de votar essa questão e quer que seja o povo mobilizado que decida sobre o fim da “herança maldita” deste governo ilegítimo e golpista.

6 – Uma nova esperança de esquerda
Por último, chama a atenção a enorme diferença entre Boulos e todos os candidatos presentes nos debates de TV aberta. Nos enche de alegria ter um candidato que fala abertamente que se orgulha de ter lutado ao lado dos trabalhadores sem teto por moradia. Nos dois primeiros debates, ficou evidente que a nossa diferença com os candidatos dos ricos e poderosos é, antes de tudo, de classe.

A candidatura presidencial do PSOL, de Boulos e Guajajara, propõe um governo para a maioria do povo, que enfrente para valer os privilégios do 1% super ricos e poderosos.

Por isso, defende um programa de reforma tributária que taxe as grandes fortunas e os lucros exorbitantes das grandes empresas e bancos, além da auditoria da dívida, que consome todo ano praticamente a metade do Orçamento da União com seus juros e amortizações.

Diferentemente da direção do PT e do PCdoB, não perdoa os golpistas e não defende alianças políticas espúrias com os responsáveis diretos pela desgraça em que vive a maioria do nosso povo.

Não é refém do atual sistema político podre e decadente, defendendo elementos de democracia direta e maior participação popular nas decisões do futuro do Brasil.

Uma campanha construída de forma democrática e participativa, lançada por uma frente política e social inédita em nossa.pais, que une partidos de esquerda, como o PSOL e o PCB, a movimentos sociais combativos como o MTST e a APIB.

Essa diferença fica evidente não só nos debates, mas principalmente na campanha de rua. Hoje, mais uma vez, essa diferença ficará evidente, com a realização do primeiro grande comício da campanha de Boulos e Guajajara, as 15h, no Largo da Batata, na cidade de São Paulo, que contará com a presença de milhares de ativistas, trabalhadores e jovens, dando definitivamente a “cara” dessa campanha que tem a coragem para mudar o Brasil e representa uma nova esperança de esquerda em nosso país.

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eleições 2018