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O PT na encruzilhada, 20 anos depois

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

No ano de 1998, o Diretório Nacional do PT interveio no seu diretório do Rio de Janeiro, para impedir a candidatura do ex-deputado federal Vladimir Palmeira ao Governo do Estado, nome que foi aprovado numa convenção partidária, com delegados de base. Essa atitude antidemocrática teve como objetivo fechar uma aliança com o então candidato do PDT ao Governo do Estado, Anthony Garotinho.

A atual deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) foi a vice de Garotinho, na chapa que acabou sendo eleita. A aliança não durou nem um mandato, no meio houve uma ruptura política e Garotinho cunhou a terrível frase, apelidando o PT de “partido da boquinha”.

É possível que o PT do Rio de Janeiro nunca tenha se recuperado totalmente desta grave crise, que só veio piorar ainda mais com as alianças com o ex-governador Sérgio Cabral (atualmente preso) e com o ex-prefeito Eduardo Paes, ambos na época do PMDB.

Agora, 20 anos depois, o PT se vê metido em uma crise política muito similar àquela da intervenção do diretório do Rio de Janeiro.

A Executiva Nacional do PT fechou um acordo com o PSB, que prevê a retirada da pré-candidata petista ao Governo do Estado de Pernambuco, a vereadora de Recife Marília Arraes, para apoiar a reeleição do atual governador Paulo Câmara, um dos principais chefes nacionais do PSB.

E, o que é pior, segundo o acordo, o PSB precisaria apenas ficar neutro na disputa presidencial, não fechando com a candidatura de Ciro Gomes (PDT-CE). Abrindo, assim, um espaço maior para alianças regionais entre PT e PSB, atraindo também o PCdoB para esse acordo, a partir da retirada da candidatura presidencial de Manuela D’ávila (PCdoB-RS).

Também como um reflexo deste acordo inusitado, eclodiu uma forte crise no PSB mineiro, que pode parar na Justiça. O PSB nacional já interveio no seu diretório mineiro, mudando sua composição, para retirar o seu então candidato ao governo, o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB-MG), e apoiar a reeleição do atual governador Fernando Pimentel, do PT.

A prática de desrespeitar as decisões das instâncias de base dos partidos é muito comum no Brasil, sempre para que prevaleçam os interesses das cúpulas partidárias e de seus negócios políticos. Na esmagadora maioria das vezes, são negociatas espúrias. E o PSB não foge a essa regra.

A questão que fica é: a direção nacional do PT vai repetir o grave erro de 20 anos atrás quando retirou na marra a candidatura de Vladimir Palmeira? A executiva nacional do PT atual vai desrespeitar o encontro estadual do seu partido em Pernambuco, que aprovou o nome de Marília Arraes ao Governo do Estado?

Nos próximos dias veremos o desfecho desta nova crise política em que se meteu a direção nacional petista.

Golpistas não merecem perdão
O que chama ainda mais atenção na postura da direção do PT é a sua política de alianças com partidos e setores que apoiaram abertamente o golpe parlamentar no impeachment da ex-presidente Dilma.

Durante o final de semana passado, já tinha vindo à tona as decisões de encontros regionais petistas, que chegaram a abrir mão da reeleição de dois de seus atuais Senadores, no Ceará e no Piauí, para apoiar candidatos do MDB de Temer e Meirelles, entre estes o atual presidente do Senado, um dos grandes articuladores do golpe, Eunício Oliveira (MDB-CE).

Também em Alagoas, o PT local, com apoio irrestrito da sua direção nacional, fechou apoio à reeleição de Renan Calheiros para o Senado e de seu filho ao Governo do Estado. Renan, outro velho chefe do MDB, também foi um dos grandes apoiadores do golpe.

Agora, vem a notícia deste acordo com o PSB, que entre outras coisas, desrespeita a decisão de seu próprio partido em Pernambuco. E, é sempre bom lembrar, o PSB apoiou também o golpe, com a esmagadora maioria de seus parlamentares votando a favor do impeachment. E, no Estado de São Paulo, o PSB há anos mantém uma aliança com os tucanos, com Márcio França (PSB-SP) compondo a chapa de vice de Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

Uma nova esperança de esquerda
Na contramão da construção destas alianças com golpistas e a velha direita, caminho que infelizmente mais uma vez as direções do PT e do PCdoB resolveram trilhar, vemos surgir uma nova alternativa política.

Cresce a cada dia, a campanha presidencial de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara, pré-candidaturas lançadas por uma frente política e social inédita em nosso país, formada por partidos de esquerda, como o.PSOL e o PCB, e movimentos sociais como o MTST e a APIB.

Nossa aliança é com o povo trabalhador, com a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos. Nossa campanha é 100% contra os golpistas, a velha direta e a extrema direita.

Nas eleições, vamos defender um programa que bote de verdade o “dedo ferida”, atacando os privilégios dos ricos e poderosos, para atendermos os anseios de mudança do nosso povo.

O momento é de ousadia e coragem. De romper com as velhas práticas políticas de sempre, como as alianças espúrias, e apostar na construção de uma nova alternativa política de esquerda e socialista.

Vamos, sem medo de mudar o Brasil!

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eleições 2018 / pt