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Bélgica goleia Tunísia: o futebol reproduzindo a história da colonização

Por: José Pereira de Sousa Sobrinho, para o Lateral Esquerda

Umas das melhores seleções belgas de todo os tempos confirma o favoritismo atropelando a Tunísia, repetindo o futebol da primeira partida quando venceu o Panamá por 3 a 0, se apresentando até como uma das melhores seleções da Copa, com um belo futebol, se juntando à Rússia como melhor ataque, e com um dos artilheiros da Copa, LukaKu (Mancherte City), com 4 gols marcados.

O jogo belga mistura talento e jogo coletivo dentro dos padrões modernos que vêm mudando o futebol nos últimos vinte anos. Alguns dessas características são toques rápidos e curtos com movimentação rápida no campo ofensivo. Dessa forma, logo aos 4 minutos, a Bélgica chega ao primeiro gol, em uma tabela entre Hazard e Mertes, onde o primeiro faz um lindo corta luz, tabelando sem tocar a bola, para em seguida ser derrubado na área. Inteligência e talento puro nesse lance. Harzard converte o pênalti, 1x 0.

O segundo e o terceiro gols são resultados de outro fator que define o futebol nos últimos anos, a ideia de marcação pressão no campo ofensivo, construindo a concepção de que uma equipe pode ser ofensiva sem ter posse da bola, sufocando o adversário, tomando a bola próximo do seu gol. Essa tática acaba sendo favorecida pela fragilidade do time Tunisiano, que comete erros perdendo a posse de bola em seu campo. Em dois contra-ataques em velocidade, com a defesa africana desorganizada, gerando lances para Lukaku (Manchester United) que mostra qualidade na movimentação e finalização ao gol, se igualando a CR7 na artilharia da copa. No segundo tempo, a goleada é completada com outra demonstração de talento dessa geração belga, um passe longo de De Bruyne (Manchester City) para Hazard (Chelsea), que joga centralizado ao estilo ponta de lança – um camisa 10 clássico – domina no peito, dribla o goleiro Mustafha, para fazer o quarto.

De Bruyne é o estilo volante com passe de qualidade, demarcando uma evolução no futebol que vem superar uma tradição de jogadores de marcação pelo meio que não participam do jogo ofensivo, apenas com função de destruir as jogadas adversárias. Na nova lógica, o jogo ofensivo é planejado e iniciado com os jogadores de marcação, inclusive o goleiro quando possível. Isso gera riscos, a Argentina sabe bem disso. Essa forma de organização do jogo coletivo permite que os jogadores das linhas ofensivas recebam passes em melhores condições para construção dos lances de ataque. O último gol é construído por reservas, similar ao quarto gol, um passe longo para a finalização de Khazri, que já havia desperdiçado três chances claras de gol.

O placar expressa, por um lad,. a qualidade da equipe belga e, por outro, a fragilidade da equipe tunisiana. Esta que vendeu caro a derrota para a Inglaterra, em um 2 a 1 com gol somente no final. Como tenho insistido, as desigualdades em campo não podem deixar de ser relacionadas com as desigualdades existentes fora do campo entre os dois países. A Bélgica possui o 21º melhor IDH do Mundo, enquanto a Tunísia está apenas na 96º colocação. Nessas condições, o investimento em futebol de alto rendimento parece ser um luxo, como para qualquer país africano.

Mesmo diante dessas contradições, a Tunísia mostrou bravura em campo, apresentando um futebol no qual o resultado final não é um fator absoluto. Escolheu fazer parte do jogo, brincar de jogar bola tentando um jogo ofensivo, tentando criar lances de ataque com um de toque de bola vertical buscando o gol. Um jogo de coragem, como marca de uma nação que lutou contra ocupação francesa por mais de 70 anos (1881-1956). Marcou o primeiro gol quando o jogo estava 2 x 0 em lance de bola parada, gol do defensor Bronn (La Gontoise-BEL) de cabeça aos 18 minutos.

O segundo veio com o melhor jogador da equipe, Krarzi (Rennes-FRA), em um belo lance pela esquerda, mostrando que talento também existe na equipe africana. A Tunísia propôs o jogo ofensivo, com coragem e disposição de jogar futebol, de brincar de bola, mas esbarrou nos limites individuais e coletivos, especialmente de seus jogadores defensivos, mas também dos jogadores ofensivos na hora de finalizar as jogadas. Essas diferenças individuais e coletivas entre as duas equipes refletem as diferenças fora de campo, das condições que cada um encontrou para jogar futebol, para brincar de bola desde a infância até chegar até a Copa. Enquanto os Tunisianos tiveram que lutar para deixar de serem colônias, os belgas lutavam para colonizar a África, em Huanda, Congo e Burindi. Mas, com coragem os Tunisianos tentaram superar essas desigualdades, sua história de colônia e se tornaram sujeitos da partida da Copa com mais gols. Nos dão uma lição de coragem, mas também nos ensinam que não é possível superar as desigualdades somente com futebol.

Saiba mais sobre a Copa do Mundo da Rússia no Lateral Esquerda, especial do Esquerda Online:

http://www.esquerdaonline.com.br.br/a-lateral-esquerda