Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

ENTREVISTA | Presidente do Andes, Eblin Farage fala sobre eleição da entidade e desafios

Da Redação

Nos dias 9 e 10 de maio aconteceu a eleição que elegeu a diretoria da Associação Nacional dos Docentes em Ensino Superior, o Andes-SN, para o biênio de 2018 a 2020. Duas chapas participaram. A chapa 1, “ANDES Autônomo e de Luta”, venceu o pleito, tendo como presidente Antônio Gonçalves Filho, da Apruma Seção Sindical; como secretária-geral Eblin Farage, que é da Aduff SSind e atual presidente do ANDES-SN; e como tesoureira Raquel Dias Araújo, do Sinduece SSind. O Esquerda Online conversou com a atual presidente da entidade e próxima secretária-geral, Eblin, sobre a conjuntura do País; as chapas participantes e o resultado do processo; as lutas do setor, como a defesa da pesquisa científica e da sobrevivência da universidade pública; além das medidas que, em sua opinião, serão necessárias para derrotar as contrarreformas do governo de Michel Temer (MDB). 

Esquerda Online – Em qualquer conjuntura, a realização de eleições para um sindicato nacional, que se organiza pela base, é um desafio. No entanto, pela primeira vez, em mais de uma década, participaram duas chapas que expressaram posicionamentos distintos sobre concepção sindical e projeto de sociedade. Na sua opinião, qual o impacto dessa disputa para a próxima diretoria que vai tomar posse do ANDES-SN?

Eblin Farage – Primeiro, a gente achou muito positivo ter uma disputa de propostas no âmbito do sindicato. Isto fortalece a democracia no ANDES, isto mobiliza mais a base. Então, eu acho essa disputa positiva. Acho que se coloca como desafio para a próxima gestão a intensificação do trabalho de base. Trabalho com a parcela da categoria que foi às urnas manifestar sua posição contrária ao projeto de sindicato e universidade que defendemos, mas especialmente chegar na base que não foi para as urnas. Acho que este é o maior desafio da próxima gestão, chegar aos professores que se abstiveram do processo eleitoral.

Esquerda Online – Qual momento da campanha eleitoral foi mais marcante para você? Por quê?

Eblin Farage – O mais marcante é o reconhecimento de boa parte da categoria do projeto história que a gente defende. Ver os professores falando da trajetória que o ANDES tem, da defesa intransigente pela democracia e contra a retirada de direitos, acho que isso é muito impactante. E óbvio que é bom ver o reconhecimento da minha base. Ganhar na minha universidade, ganhar no meu departamento sem nenhum voto contrário, acho que são coisas que marcam um pouco porque mostram que o caminho está certo e não estamos só e estamos fazendo pares nesta disputa por este projeto que é coletivo.

Esquerda Online – Qual o papel do ANDES-SN na luta pela sobrevivência da Universidade Pública?

Eblin Farage – O mais importante no papel que o ANDES cumpre é o seguinte, no Brasil hoje não se teria universidade pública como nós temos, se o ANDES não tivesse cumprido há mais de 30 anos o papel que vem cumprindo. Nós já teríamos chegamos ao estágio de países como Portugal e Espanha e outros países que vivem o processo de aprofundamento da privatização, cobrança de mensalidade, destituição do sentido do público da universidade. O ANDES tem um papel fundamental da defesa do público em seu sentido amplo, de um público que é 100% estatal, público e de qualidade para todos e todas. Nesses anos a gente perdeu algumas batalhas, mas estas batalhas não nos tiraram do rumo do que defendemos. Hoje, a universidade pública ainda existe porque conta com o posicionamento do ANDES, que acaba sendo o posicionamento da categoria, de sua base, que defende a universidade pública.

Esquerda Online – Sobre o funcionamento das universidades e da pesquisa científica no Brasil, a atual gestão do Ministério da Educação já mostrou que está disposta a mobilizar mecanismos jurídicos e policiais do Estado para silenciar professores/cientistas, ferindo, com isso, os valores mais caros à universidade: a liberdade de pensamento e a difusão do conhecimento. O que a nova diretoria do ANDES-SN propõe para combater este tipo de retrocesso?

Eblin Farage – A gente vai intensificar o trabalho que já fazemos e que são deliberações do congresso. Primeiro, não se calar. Por mais que ameacem, por mais que persigam, não vamos nos calar e vamos incentivar a todos os professores e professoras do Brasil a denunciar qualquer tipo de assédio, de criminalização, qualquer tipo de tentativa de cerceamento da liberdade de cátedra de nossos professores. Nesse sentido, foi feita uma comissão no último congresso para colher e acompanhar jurídica e politicamente os casos de assédio nas universidades e a gente vai continuar trabalhando neste sentido. Onde for necessário, fazendo campanha, expondo, exigindo que a universidade também apure os casos. Essa é uma luta importante que tem que se intensificada no próximo período.

Esquerda Online – Quais iniciativas que a nova diretoria do ANDES-SN pode adotar para fortalecer uma unidade de ação com outras categorias e movimentos sociais dispostos a barrar e revogar as contrarreformas do governo Temer?

Eblin Farege – A unidade de ação é um dos grandes desafios no próximo período para barrar os retrocessos. Não tenha dúvida que sozinhos a gente não vai conseguir barrar os retrocessos que estamos tendo e conseguir reverter as contrarreformas que já foram realizadas. Por isso, é necessário fortalecer os espaços coletivos. Neste sentido, um dos desafios do ANDES no campo do serviço público federal é retomar a organização da CNESF, que está desmobilizada e fortalecer o Fonasefe como espaço de organização. No âmbito da articulação entre os diferentes servidores públicos estaduais, municipais e federais, e com os movimentos sociais, fortalecer a articulação nos estados via construção de frentes, onde não existe, em defesa do serviço público, articulando com movimentos sociais. Porque uma pauta importante que a gente precisa saber comunicar melhor é que a nossa defesa dos serviços públicos não é uma defesa corporativa, mas uma defesa dos direitos para toda a população. Quando a gente defende a verba pública para os serviços públicos, a gente defende os direitos básicos que atendem a população mais pobre. Por isso, é fundamental que a gente saiba comunicar isto para que outras categorias, outros segmentos, os movimentos sociais, também façam parte de espaços coletivos de organização da classe trabalhadora em defesa dos direitos sociais.

Foto: CDH – Senado Federal

Marcado como:
Andes / educação