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BRASIL

Sobre a retomada da Economia Brasileira

Alexandre Aguena, de Niterói (RJ)

No dia 1º de março, o IBGE divulgou os dados sobre economia brasileira, referentes ao trimestre de novembro, dezembro de 2017 e janeiro de 2018. Os dados apresentam o crescimento de 1% do PIB em 2017. Não demorou muito para o impopular presidente pronunciar seu palavrório: “Estamos colocando o Brasil em ordem”. Michel Temer busca se credenciar como o presidente solucionador de recessões. A magnífica agenda de seu governo é apresentada como o santo remédio que tirou o Brasil da recessão. O crescimento em 2017 sepulta de vez os onze trimestres recessivos, a inflação abaixo do teto, os juros baixos e a “modernização” das relações de trabalho põem as condições macroeconômicas necessárias para que o país deslanche. Tudo isso obra de nosso possível futuro candidato à Presidência. Vejamos se foi bem assim.

Como o próprio IBGE aponta, 70% do crescimento do PIB do ano passado foi agraciado com o crescimento do setor agropecuário, que acumulou alta de 13%, com destaque para milho e soja. A alta ocorreu principalmente no primeiro trimestre do ano com crescimento de 13,4%, devido as safras recordes no setor. O que parece ter pouca relação com qualquer medida de nosso presidente. A safra recorde ainda contribuiu para a queda da inflação derrubando o preço dos alimentos.

Poderíamos atribuir o controle da inflação a agenda do governo, porém como bem apresenta a economista Laura Carvalho em coluna na folha a inflação começa a ceder no início de 2016. A queda sistemática na inflação acumulada de 12 meses começa em fevereiro precisamente. Antes mesmo que o golpe seja consumado. E, obviamente, que com a taxa de desemprego alta e a redução de salários não tem como a inflação não ceder.

Parece que a retomada da economia tem pouco a ver com as medidas de Temer, Meirelles e cia. Muitos economistas admitem, inclusive, que medidas como a reforma da previdência são de “longo prazo e não tem resultados imediatos”. A retomada da economia está mais relacionada a um cenário externo mais favorável e condições postas pelos próprios dois anos de recessão como inflação baixa que possibilitou um ciclo de redução da taxa de juros que hoje atinge os baixíssimos 6,75% e outras condições alheias à política econômica.

Mesmo com esses números sinalizando uma recuperação, ela se dá a marchas lentas. Após dois anos de retração de 3,5% do PIB, 2017 tem crescimento de 1%. Se compararmos a recessão de 81-83, o ano imediatamente posterior teve crescimento de 6,9%. O investimento atingiu seu patamar mais baixo de 15,6% em relação ao PIB e o crescimento da indústria parece se apoiar mais no baixo nível de utilização da capacidade instalada que está abaixo do nível pré-crise de 82,6%. A retomada do emprego também segue lenta. Após um ano de queda a taxa de desocupação ainda está em 12,2%, longe do patamar de 6,5%-7% pré-crise. Os poucos postos criados foram em detrimento dos empregos de carteira assinada, que decaíram 1,7% comparando o trimestre de novembro a janeiro de 2018 com o mesmo trimestre do ano anterior enquanto os postos sem carteira assinada, de trabalhadores autônomos e domésticos cresceram 5,56%, 4,4% e 4,4% respectivamente, lançando 1, 834 milhões de trabalhadores em empregos piores ao passo que 566 mil saíram de postos com carteira assinada.

Em contraste, os mercados financeiros estão bastante eufóricos com as medidas do governo. Algumas corretoras preveem que o índice Bovespa atinja 120 mil pontos em 2018, uma valorização de aproximadamente 40%, já que o índice abriu o ano em torno de 79 mil pontos. As ações de empresas que o governo anunciou para projetos de privatização dispararam como nunca, como a Eletrobras que chegou a ter valorização de 49,01% em um dia para as ações ordinárias.

O que vislumbramos para frente é uma retomada lenta, gradual que se dá sobre novas condições de exploração na economia capitalista brasileira. Com desemprego alto, crescimento baixo, retomada lenta dos investimentos, desvalorização dos salários, que em 2018 teve um reajuste de apenas 1,8% para o salário mínimo, fim da CLT e subemprego. A única “ordem” que Temer conseguiu foi para os de cima, para os tubarões do mercado financeiro que terão grandes ganhos na bolsa esse ano. Fora isso, pode apenas reivindicar carestia e pauperismo para classe trabalhadora, nada mais, nem mesmo o tímido crescimento de 2017.

Foto: EBC

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economia / ibge / temer