Por Camila Lisboa e Mauro Puerro, de São Paulo, SP
Quase 2 mil delegados se preparam para participar do 3º Congresso da CSP Conlutas, que começa no próximo dia 12. Seguramente, os delegados e as delegadas lá presentes vão refletir as lutas e os desafios colocados no último período. De 2015 para cá, quando se realizou o último congresso de nossa Central, a necessidade de potencializar a resistência contra os planos de ataques aos nossos direitos esteve mais colocada do que nunca.
Crise econômica e golpe parlamentar
Nesses últimos dois anos, a crise econômica aprofundou-se em nosso país. Os governos e empresários armaram-se para aplicação de um plano de ajuste fiscal duríssimo contra os trabalhadores. O então governo Dilma (PT) demonstrava toda a disposição de aplicar esses planos e, inclusive, os iniciou. No entanto, o empresariado brasileiro e setores políticos da direita tradicional, como o próprio vice-presidente Michel Temer (PMDB), aplicaram um golpe parlamentar, para assegurar que esses planos não apenas seriam aplicados, como aprofundados.
No final de 2016, foi aprovada a PEC 55, que impõe um teto de gastos para as áreas sociais durante 20 anos. Não há precedente de um ataque deste tipo nas últimas décadas da nossa história. Junto a isso, Temer e Congresso Nacional aprovaram o fim da CLT com a Reforma Trabalhista e seguem ameaçando os direitos previdenciários.
Os desafios da resistência
Apesar de importantes manifestações contra Temer, como a marcha que reuniu mais de 60 mil pessoas em São Paulo, em setembro de 2016, e as ocupações das escolas e universidades contra a PEC 55, foi em 2017 que a força da nossa classe se demonstrou de forma mais categórica.
Os dias 8 e 15 de março prepararam a poderosa greve geral do dia 28 de abril. Impusemos recuos ao governo, que tinha como plano aprovar a reforma da previdência no 1º semestre. A partir dessa força, era necessário avançar em mais um grande dia de greve geral. Infelizmente, as maiores Centrais de nosso país recuaram da disposição demonstrada em Abril. Em alguns casos, por apoiar diretamente o governo Temer (Força Sindical e UGT), em outros, por optar em construir uma candidatura para 2018 e abster-se da resistência do presente (CUT e CTB).
Fato é que, diante disso, o governo conseguiu aprovar a reforma trabalhista, o projeto de lei que permite terceirizar tudo e manter-se no poder, mesmo após diversos escândalos de corrupção, como a delação da JBS.
Portanto, construir a resistência nesse 2º semestre e no próximo período, tem como desafio central retomar a unidade que permitiu a realização das ações de março, abril e maio (#ocupa Brasília) de 2017. Para isso é muito importante medidas como a plenária unificada dos metalúrgicos com participação de outros setores que marcou o dia nacional de luta em 10 de novembro.
Combater o avanço da direita e construir uma alternativa da esquerda classista
Os ataques sobre nossa classe estão combinados com um fortalecimento político e ideológico de setores de direita e ultradireita. Discursos intolerantes que ganham simpatia também entre a classe trabalhadora. A crise econômica e o ambiente de desesperança que ela cria, combinado com a desmoralização completa da classe política, abrem espaços para setores reacionários levantarem a cabeça e se colocarem na disputa sobre o desfecho dessa crise. Assim, o general Antônio Hamilton Mourão “tranquilamente” dá uma declaração sobre a possibilidade de intervenção militar e Bolsonaro vem crescendo nas pesquisas eleitorais e no gosto popular.
Essa situação deve nos dar um alerta. É preciso armar nossa classe e nossos instrumentos de luta, como a CSP Conlutas, contra o avanço da direita. Porque seu avanço não se expressa só em Bolsonaro e simpatizantes da intervenção militar, mas também nas figuras “não políticas”, como de João Dória, prefeito de São Paulo pelo PSDB, árduo defensor das privatizações.
Esse cenário, entretanto, não pode nos fazer repetir os erros do passado. Para combater o avanço da direita de forma consequente é necessário construir um campo de independência de classe. Uma articulação política dos movimentos sociais e organizações políticas que dispute corações e mentes da população trabalhadora com um programa classista e anticapitalista. Uma articulação que se apresente como uma alternativa de classe não só aos diversos representantes do capital, como também à política de conciliação de classes. Os 13 anos de conciliação de classes dos governos petistas e suas alianças contribuíram para o surgimento do governo Temer e toda sua agressividade contra os trabalhadores.
O Congresso da CSP Conlutas tem capacidade de se apresentar ao conjunto do movimento social brasileiro com essa disposição. Para isso, é necessário fortalecer o discurso e a prática unitária, ter firmeza no horizonte de combate e capacidade de diálogo.
Resistir com a força e com a cara da nossa classe
O 3º Congresso também vai refletir as lutas do movimento popular e dos movimentos de luta contra a opressão. De 2015 para cá, assistimos a muitas ocupações urbanas, como consequência da crise, que impacta o direito à moradia. São diversos movimentos populares que fortaleceram a resistência em nosso país e se unificaram com o movimento sindical para combater os ataques. Nossa Central, a única a ser sindical e popular, cada vez mais precisa ter capacidade de diálogo com esta forma de resistência.
O avanço da intolerância contra as mulheres, negros/as e LGBT’s também se traduziu em resistências importantes, como a luta contra o genocídio da juventude negra, a violência às mulheres e ataques aos direitos reprodutivos e o recente combate à “cura gay”. O caráter democrático dessas lutas exige que nossa Central saiba intervir nesses processos com disposição de unidade e combate.
Fortalecer a CSP-Conlutas como instrumento de frente única da nossa classe
A importância política de nossa Central não pode nos fazer fechar os olhos para seus limites. Construímos a Central mais dinâmica e mais responsável com a defesa dos direitos de nossa classe, mas somos uma Central minoritária na realidade. Foi essa avaliação que fez, por muitas vezes, com que os setores políticos que constroem a CSP Conlutas se engajassem na construção de sínteses dos acúmulos políticos de cada entidade e cada organização que a constrói.
Seu atual formato contribui para isso, pois suas Coordenações Nacionais de dois em dois meses permitem atualizações políticas da conjuntura importantes. Além disso, é necessário preservar o aspecto democrático desse formato, que permite que sua direção mais cotidiana, a Secretaria Executiva Nacional, tenha contato com os debates e elaborações das entidades e movimentos filiados.
Portanto, é decisivo aprofundar o funcionamento democrático da central, fortalecendo suas instâncias, suas entidades e seus caráter de organização de frente única, evitando o risco e perigo de se transformar em colateral de organização política, pois isso, infelizmente, ocorreu com a ampla maioria das centrais. A CSP-Conlutas precisa e deve ser exceção. Esse congresso tem o grande desafio de (re)afirmar essa concepção democrática.
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