Por: Leandro Olimpio, de Santos, SP.
Minutos antes de iniciar a assembleia, a fila para preencher a lista de presença só aumenta. Meia hora depois, para não atrasar ainda mais o início dos debates, o esquema montado na entrada do sindicato é deixado de lado. Que todos entrem e assinem depois. Um grupo de trabalhadores, mais parecido com torcedores de futebol ou com a turma do fundão da escola, vai à loucura e solta gritos de alegria a cada novo companheiro que chega no auditório.
No microfone, um dirigente pede aos trabalhadores que gravem um depoimento em vídeo explicando por que não aceitam reajuste zero. Espontaneamente, servidores ativos e aposentados se deslocam até a filmadora. “Eu não aceito esse reajuste, as escolas são super lotadas de criança, não tem mediador, não tem professor, não tem funcionário suficiente. Estamos pastando na escola, sem apoio de ninguém. Eu não aceito”, desabafou uma professora.
Foi com este clima de bastante confiança e revolta contra a proposta de reajuste zero que os servidores de Santos aprovaram, na última quinta-feira (23), greve por tempo indeterminado a partir do dia 9 de março. Às 8 horas, na Praça Mauá, onde fica a Prefeitura, a categoria inicia uma dura batalha contra o prefeito tucano Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).
Até lá, reuniões preparatórias de greve serão realizadas para organizar por local de trabalho e setor a mobilização. “É uma assembleia representativa, que com certeza tem mais do que onze pessoas”, disse no microfone o vice-presidente do Sindicato, Cássio Canhoto, numa frase em parte retórica, em parte “piada interna” para um público superior a 600 pessoas. O auditório do Sindicato dos Metalúrgicos estava lotado mesmo com um calor escaldante e sensação térmica superior a 40 graus.
A declaração de Cássio é uma referência ao Sindest – sindicato pelego que realizou uma assembleia para discutir a mesma pauta justamente com este número: onze pessoas, boa parte diretores. Tradicionalmente, essa entidade serve apenas de correia de transmissão do gabinete do prefeito. Ano a ano, aprova em assembleias esvaziadas as propostas da Prefeitura, que não por acaso foi uma entusiasta de sua criação. Com isso, curiosamente, os servidores são “representados” por dois sindicatos. O Sindserv representa celetistas e estatutários, enquanto o Sindest “representa” somente estatutários.
Tem dinheiro e alternativas para reduzir custos
Repetindo o discurso de todos os governos municipais, estaduais e federal, o prefeito Paulo Barbosa (PSDB) afirma que não é possível conceder reajuste digno por causa da crise econômica. Entretanto, não é verdade. O orçamento municipal teve um aumento de 8% em relação a 2016 (2,7 bilhões de reais este ano, frente a 2,5 bilhões anos passado), sendo o maior orçamento da história da cidade. Orçamento elástico o suficiente, por exemplo, para absorver um reajuste de 16% e 10%, respectivamente, nos salários do prefeito e dos seus secretários. Ainda assim, como resposta às lamentações de Paulo Barbosa, os servidores apresentaram uma série de medidas alternativas para diminuir gastos.
Entre elas, a redução de 20% nas remunerações do prefeito, dos cargos de confiança (ocupados por indicações políticas) e dos vereadores. Em relação aos cargos de confiança, ainda é proposto a extinção de 30% dessas funções, uma vez que servem apenas como cabide de emprego. Para ganhar musculatura e dobrar o prefeito, a greve da categoria tem a difícil tarefa de envolver a maior parte dos 11 mil servidores de Santos e ganhar a opinião pública – geralmente refém da imprensa. A assembleia realizada na noite da última quinta-feira demonstrou que não falta aos servidores santistas disposição de luta, demonstrou que é possível vencer. Todo apoio aos servidores de Santos em luta!
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