Por Leandro Olímpio, Baixada Santista, SP
Diante da iminente votação da reforma da previdência, as centrais sindicais do país articulam um dia de paralisação nacional para 15 de março. Uma iniciativa importante, já que os desafios impostos à classe trabalhadora exigem uma resposta imediata e unificada dos movimentos sociais e sindical.
A verdade é que estamos atrasados na resposta aos ataques do governo ilegítimo de Temer. Embora seja a medida mais grave, a reforma da previdência não é a única iniciativa que pode causar um estrago histórico aos direitos dos trabalhadores. Com o apoio da imprensa, Congresso Nacional e Judiciário, o governo da coalizão PMDB-PSDB já costura uma reforma trabalhista que rasga a CLT e uma medida provisória que torna a greve, na prática, um instrumento ilegal. Tudo isso para garantir que, em meio à crise econômica e política, tais medidas passem sem resistência.
A este cenário de devastação, soma-se o drama de doze milhões de desempregados. Trata-se de números oficiais do IBGE, que escondem uma parcela importante de brasileiros que trabalha na informalidade, em empregos precários ou, pior ainda, que sequer possui condições financeiras e psicológicas de buscar uma vaga no mercado de trabalho. E quando há crise profunda, desemprego, os que mais sofrem são as populações historicamente oprimidas e discriminadas, como as mulheres, negros e negras e LGBTs.
Na Baixada Santista, importante polo industrial do estado de São Paulo, a situação é crítica. A crise fez com que quase 20 mil postos de trabalho formais fossem fechados no ano passado nas nove cidades que formam a região. Segundo dados do Ministério do Trabalho, a queda chega a 25% na comparação com 2015. Em Cubatão, o desemprego em massa (caiu cerca de 70% na comparação entre 2015 e 2016) desembocou em manifestações espontâneas e massivas de trabalhadores demitidos das mais variadas empresas, dentre elas a Petrobras, sobretudo terceirizados, e a Usiminas, envolvendo próprios e indiretos. Só na Usiminas, por exemplo, os mais de 10 mil trabalhadores foram reduzidos a dois mil, gerando uma reação em cadeia de demissões em outras áreas, como prestadores de serviços e comércio municipal.
É preciso reagir
Por isso, passa a ser fundamental na Baixada Santista a construção de uma agenda comum dos sindicatos e coletivos combativos para garantir que esse dia não passe despercebido. Seja através de atos, atrasos ou piquetes, envolver os trabalhadores e trabalhadoras da região em um dia nacional de paralisações pode ser uma injeção de ânimo para as necessárias ações futuras que precisam ser desenvolvidas. Se por um lado é verdade que em muitas categorias o clima é de medo e apreensão, por outro não faltam bandeiras aparentemente específicas que fazem parte, na verdade, de um mesmo enfrentamento. No lugar de lutas fragmentas e dispersas, devemos apostar na unidade. No lugar do projeto “Lula 2018”, no qual muitas direções sindicais já embarcaram, devemos apostar na mobilização e organização independente da classe como saída para a crise. Os ataques estão sendo aprovados a toque de caixa, não há o que esperar.
Neste sentido, enxergamos como central o papel da Frente Sindical Classista da Baixada Santista, que reúne os principais sindicatos combativos da região. Saudamos a iniciativa articulada para o dia 7 de março, quando será realizado na sede do Sindicato dos Petroleiros, em Santos, um debate sobre a reforma da previdência. É importante que esse fórum sirva para compreendermos a fundo o conteúdo da reforma, mas além disso entendemos que a partir da Frente seja possível também impulsionar e organizar um dia de paralisações e atos no dia 15 de março aqui na Baixada Santista. Foi assim, por exemplo, no Dia Nacional de Lutas, realizado em 25 de novembro do ano passado. A partir da Frente, foram realizados diversos atos e paralisações pela manhã e um significativo ato no final da tarde, em Santos.
É preciso construir na região uma mobilização à altura deste ataque. Os metalúrgicos estão na linha de frente da luta pela preservação do emprego; os servidores de Santos, por sua vez, estão em plena campanha salarial e prestes a deflagrar greve contra reajuste zero; os petroleiros, que enfrentam um dos maiores processos de privatização da Petrobras, também enfrentam o desafio da preservação do emprego na medida em que a própria companhia está ameaçada; e bancários, que recentemente demonstraram uma importante disposição de luta na campanha salarial. O mesmo vale para outras categorias, como servidores federais e professores.
Todas essas lutas divididas não poderão ser vitoriosas e não terão o necessário apoio da população e dos demais movimentos (mulheres, negros e negras e LGBTs), que também são duramente afetados pelas medidas de Temer e dos demais governos. A única chance de virar o jogo é lutar juntos. Todos à paralisação nacional de 15 de março.
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