Por: Daniel Tomazine, de Duque de Caxias – RJ
Nesta quarta-feira (15), foi divulgada uma pesquisa de opinião realizada pela CNT/M, que aponta Luiz Inácio Lula da Silva como favorito à Presidência da República nas eleições de outubro de 2018. O ex-presidente do PT venceria em todos os cenários, inclusive no segundo turno. A pesquisa contrapôs Lula a possíveis candidatos, como Marina Silva (Rede), Aécio Neves e Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSC) e Michel Temer (PMDB). Partidos à esquerda do PT que costumam lançar candidatos não foram lembrados, como PSOL e PSTU.
Um dado espantoso dessa pesquisa foi que o candidato fascistoide do PSC aparece em terceiro lugar, próximo a Marina Silva, com 11,3%, no primeiro cenário. Em 2018, um ponto da campanha de todos aqueles que presam por um mínimo de liberdades democráticas será a de fazer uma anticampanha a Bolsonaro e toda sua família.
Os mais de 30% de intenções de voto em Lula, mais do que o dobro da segunda colocada, a candidata da Rede (11,8%), demonstram uma força considerável que a figura do ex-metalúrgico possui, mesmo após dois governos seus, e um e meio de sua sucessora. O projeto Lula 2018 parece ser o horizonte possível, para a maioria da classe trabalhadora que vem sofrendo com a crise econômica e os ataques cruéis de patrões e seus serviçais nos governos federal, estaduais e municipais, além das câmaras parlamentares.
Mas não só a crise e os ataques aos direitos da classe explicam – apesar de serem os fatores principais. O próprio golpe parlamentar que retirou Dilma Roussef (PT) da presidência, e colocou o odiado Michel Temer em seu lugar, reforçou em parte o projeto Lulista. O sentimento democrático pesa, numa sociedade que ainda tem pesadelos pelos 20 anos de terror impostos pela ditadura civíl-militar (1964-1984).
O PT: que rumos tomar?
Este ano, no início do mês de abril, ocorrerá o 6º Congresso Nacional do PT. Sete textos embasam a discussão. São sete propostas programáticas para o próximo período. Todas têm em comum a tentativa de responder à mudança que trouxe para o partido a operação Lava a Jato e o Impeachment.
Existem várias propostas, que tentam dar uma nova cara ao PT, sem, no entanto, fazer um balanço profundo dos 14 anos de governos nacionais petistas, muito menos da política de alianças amplas, que levaram Michel Temer a ocupar a vice-presidência e, assim, se candidatar a ocupar a vaga de Dilma Roussef.
Nem mesmo a mais “radical” das teses, escrita pelo jornalista Breno Altmann, toca nesse assunto. E olha que ele propõe resgates significativos ao programa do PT da década de 1980, bem como algumas inovações progressistas: fim da lei do Impeachment, que seria substituído pela possibilidade de convocar um referendo revocatório (a exemplo do que a oposição de direita venezuelana tenta contra Maduro); desmilitarização das polícias; mandatos de oito anos para juízes do Supremo Tribunal Federal (mas mantendo a indicação do Presidente, e a aprovação pelo Senado); proibição de bancos privados; descriminalização do aborto; limitação do tamanho das propriedades rurais; espaço na TV para os sindicatos e uma regulamentação da mídia.
Nenhuma dessas propostas tem grandes chances de ser aprovada no Congresso do PT. Ainda que fosse, sem rever a política de alianças amplas para governar – o velho “toma lá, da cá” –, nada disso seria de fato implementado. Assim como a reforma agrária não foi feita nos quatro governos petistas. Assim como as privatizações não foram desfeitas. Assim como não se retomou o monopólio estatal sobre o petróleo e os minérios.
Opinamos que o classismo, isto é, a identificação do partido com sua base social, a classe trabalhadora, foi o que permitiu seu surgimento e é o que poderá permitir sua recuperação. O primeiro passo seria que o 6º Congresso se perguntasse: “Valeu a pena se alinhar com tantos, governar para todos?”. Pensamos que não. O golpe e suas consequências já seriam prova suficiente. Não foi a esquerda radical que colocou Temer no planalto. Foi o próprio PT.
2018 se constrói agora, na luta
Esse debate, o balanço dos 4 governos petistas, pode ser feito com calma. Não são poucos os trabalhadores e militantes honestos que acreditam que não havia alternativa. Que era preciso. Nós entendemos o oposto. Que foram esses 14 anos de conluio com tudo que há de pior na política e economia brasileira e internacional que abriram caminho para o que vivemos atualmente.
Mas esse debate do passado não pode fechar as portas para o futuro. Basta olharmos para o presente. A outra possibilidade de resgate do classismo, de definir quem pode ou não pode compor um projeto Lula 2018, reside em estabelecer alguns critérios. Acreditamos que esses critérios tenham que partir do princípio de separar quem está ao lado dos direitos da classe trabalhadora, e quem está nos atacando.
Assim, basta olhar para o espectro político brasileiro e se perguntar se pode ou não estar numa frente eleitoral ou compor um governo:
1) Quem votou a favor da PEC 55, que congela investimentos sociais por 20 anos, pode ser parte?
2) Quem votou a favor da MP 746/2016, que desmonta o Ensino Médio, pode participar?
3) Aqueles que defendem a reforma da previdência, que, se aprovada, fará a maioria da população brasileira trabalhar até morrer, pode compor a chapa ou governo?
4) Quem defende a reforma trabalhista, que dará amplos poderes aos patrões, acabando com vários direitos básico e históricos da classe trabalhadora, pode ser nosso aliado?
5) E aqueles que, em nível estadual e/ou municipal, aplica pacotes de maldade, os chamados “ajustes”, contra a população carente e os servidores públicos, podem dividir espaço na mesma frente que nós?
Só há uma resposta decente a todas essas perguntas: Não.
Se todos esses setores não podem formar uma coalizão eleitoral/governamental que interesse a classe trabalhadora, então quem pode? A resposta está nas próprias perguntas. São aqueles que estão sofrendo com os ataques dos governos de plantão. São os jovens estudantes que perderam a vaga na faculdade. São os mais de 12 milhões de desempregados. São dezenas de milhões de servidores públicos que estão sendo culpabilizados e punidos pela crise que não criaram. É a população que depende dos serviços de saúde do SUS. É a negrada que morre em uma guerra estúpida, um verdadeiro holocausto contra pretos. São as mulheres que abortam clandestinamente. São os usuários de drogas que superlotam as cadeias. São as pessoas que vem seus carrinhos de compra ficarem cada vez mais vazios. Ou seja, todos aqueles que sofrem e resistem – como podem – aos ataques do governo Michel Temer e seus aliados locais.
O que o PT precisa não é do apoio de novos Sarneys, Collors e Calheiros. O que o Brasil precisa, é de um governo dos trabalhadores. A resistência aos ataques, aos “ajustes” e “reformas”, formará o núcleo que terá a autoridade para postular governar este país. Por isso, mais importante do que pensar num Lula 2018, é pensar em construir uma Frente Única para barrar a reforma da previdência e trabalhista, em nível nacional, bem como lutar contra os diversos ataques à classe nos Estados e municípios. Dia 8 de Março pode ser um primeiro impulso, utilizando a força desse movimento que promete ser internacional, para sentar bases sólidas a nossa resistência. Duas semanas depois, no dia 15 de março, será a vez dos profissionais de educação por todo o país paralisarem. Que as demais categorias, especialmente aquelas vinculadas à CUT, CTB e CSP-Conlutas, se incorporem nesses atos e comecem a construir a necessária greve geral.
Nossa vitória contra Temer e a burguesia seria o combustível fundamental para a apresentação de uma alternativa socialista ao Brasil.
Foto: Garanhuns, PE – Presidente Lula discursa durante sua visita a sede provisória da Unidade Acadêmica de Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
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