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EDITORIAL

Governo Temer chega ao máximo de autoritarismo e censura até Folha de São Paulo

Editorial 16 de fevereiro

Imprensa independente derruba bloqueio

Cada vez mais, Michel Temer se mostra um verdadeiro ditador. Ele já declarou que quer restringir o direito de greve. Nesta tera-feira (14), publicou um decreto permitindo o exército nas ruas para “manter a ordem”. Mas, uma medida que surpreendeu até alguns aliados foi a censura à Folha de São Paulo e ao jornal O Globo.

Os jornais publicaram informações sobre o processo na Justiça do hacker que teve acesso ao celular da primeira dama, Marcela Temer. E não, não vamos entrar no jogo baixo de falar da intimidade dela. O que nos interessa é que no celular de Marcela teria uma gravação que poderia comprometer politicamente o presidente.

Apesar da censura, os detalhes do caso foram mostrados no site The intercept. O editor-geral do site é o jornalista Glenn Greenwald, que foi quem revelou para a mídia os segredos do sistema de vigilância do governo dos Estados Unidos que estavam nas mãos do ex-funcionário da CIA Edward Snowden. De acordo com o site, o hacker cobrou R$ 300 mil reais de Marcela Temer porque teria um vídeo que iria colocar o nome do marido dela “na lama”.

O crime aconteceu em abril do ano passado, há alguns dias do impeachment. De acordo com o The Huffington Post, o áudio poderia ligar Temer a publicitários em articulações suspeitas. Provavelmente nunca vamos ter acesso ao áudio. O que sabemos é que Temer entrou na Justiça e conseguiu impedir que os jornais publicassem notícias sobre o ocorrido.

Para a situação se tornar ainda mais absurda, quem cuidou do caso pessoalmente foi o então secretário de segurança pública de São Paulo Alexandre de Moraes. O mesmo que foi indicado por Temer para ministro do Supremo Tribunal Federal.

Dois pesos e duas medidas
A mesma Justiça que censura notícias sobre gravações que comprometem Michel Temer liberou para a imprensa gravações sobre Lula e Dilma na época do impeachment. Por mais de vinte minutos, o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, declamou trechos de gravações com conversar pessoais do ex-presidente Lula. Tudo às claras para o país inteiro ouvir.

Não apoiamos o PT e achamos que seus governos traíram a classe trabalhadora. Mas chega a ser engraçado a postura parcial da Justiça. E também da própria mídia, que fez um estardalhaço quanto às gravações dos petistas e agora fala pouco da gravação que compromete Temer. E o pior é que mesmo sendo discreta, essa mídia é censurada.

Liberdade para cobrar que o caso seja investigado
Não temos nenhuma confiança na Globo e na Folha de São Paulo. São jornais empresariais que servem aos interesses da burguesia. Mas quando o governo proíbe até mesmo jornais aliados a publicar algo, o que ele pode fazer com o Esquerda Online ou outros órgãos de oposição?

Por isso somos contra a censura e vamos lutar contra ela. Não achamos que a liberdade de expressão pode ser desculpa para pregar o racismo, a homofobia ou o discurso de ódio que incentiva a violência contra setores oprimidos. Mas a livre expressão de ideias, mesmo as contrárias às nossas, deve ser parte do programa da esquerda.

E queremos liberdade para cobrar que este caso seja investigado. É um absurdo a Justiça ter informações que podem comprometer o Presidente da República e não divulgá-las. Temos direito de ter acesso ao áudio. Abertura total do processo, já.

Foto: Diego DEAA