Por: Silvia Ferraro, colunista do Esquerda Online
O plano estava pronto e em franca execução. As dez medidas do suposto combate à corrupção propostas pelo Ministério Público Federal foram votadas em comissão especial da Câmara dos Deputados, na quarta, dia 23. Antes disso, um bombardeio midiático sobre a importância de combater a corrupção no Brasil, para logicamente, justificar a necessidade de um ajuste fiscal que pudesse restabelecer a ‘saúde’ da economia e, de quebra, bonapartizar o judiciário com mais restrições às liberdades democráticas.
Mas, para o plano dar certo, seria preciso acalmar o baixo clero congressual com a anistia do caixa dois. Afinal, para que os nobres deputados pudessem votar no pacote do judiciário, teriam que livrar seus pescoços das cordas primeiro.
Acontece que é impossível ter tudo ao mesmo tempo. Optar pelo discurso demagógico da moralidade e ao mesmo tempo querer se safar do crime de caixa dois é incompatível e está cobrando o seu preço. Uma maioria congressual que participou de um golpe parlamentar com o argumento do combate à corrupção é vista agora lutando para garantir a anistia de seus próprios favorecimentos ilícitos. Toda mentira tem limites e a crise na Câmara dos Deputados está instalada.
Os obstáculos para acelerar a votação do ajuste fiscal,vieram dobrados para o governo Temer e o fator imprevisível apareceu. Uma figura desconhecida, um ministro da Cultura, uma pasta que ninguém dá importância, aparece na cena para embolar o meio de campo.
O depoimento de Marcelo Calero é a última coisa que o governo Temer precisava na semana que antecede a votação do primeiro turno da PEC 55 no Senado. Calero é bombástico ao afirmar que Temer, junto com Geddel Vieira Lima, o pressionaram para que ele desse um jeito de liberar a obra de um prédio a ser construído em local tombado pelo Iphan(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Geddel, dono de um dos apartamentos do empreendimento imobiliário, não estava ligando muito para prejudicar o patrimônio histórico da orla de Salvador. Ele queria, nada mais nada menos, que a liberação de um prédio suntuoso em local proibido pelo Iphan. Mas, para tentar conseguir a liberação do ex-ministro da Cultura, contou com a colaboração do Michel Temer, que considera normal dar uma pressionada em coisas desse tipo.
A construção de imagens irreais não tem durabilidade eterna. No caso do Michel Temer, se o depoimento de Calero se confirmar e se nenhuma operação abafa prevalecer, a máscara e a popularidade podem cair ainda mais. Os elementos imprevisíveis muitas vezes se tornam imprescindíveis para descortinar a história.
Foto: Beto Barata/PR
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