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EDITORIAL

Eleição nos EUA e Reforma Política

Por: Bruno Figueiredo, de São Paulo, SP

Muito se tem debatido sobre as eleições dos EUA. Entretanto, existe um dado relevante, pouco mencionado. Nos Estados Unidos não existe democracia no seu conceito mais básico. Ou seja, o mito de uma pessoa um voto, e todos votos são iguais, lá não passa de falatório para a plateia. Da mesma forma como no Brasil foi necessária uma campanha pelas ‘Diretas Já!’, nos EUA tal campanha se faz necessária.

No coração do Imperialismo, a ‘Maior Democracia do mundo’ não é tão democrática assim. Nos EUA as eleições são indiretas. De modo que Trump obteve 60.371.193 votos, enquanto Hillary Clinton 61.039.676. Ou seja, se a democracia seria a vontade da maioria, a maioria votou em Hillary. Entretanto, como a eleição nos EUA se dá de forma indireta, ou seja, se vota nos ‘colégios eleitorais’, isso implica em várias distorções. De um lado, o voto distrital implica em uma primeira parte da distorção, pois é como se a cada eleição parlamentar houvesse uma eleição majoritária em cada distrito. E como são divididos os distritos? Aqui surge a “salamandra de Gerry”, conhecido como “Gerrymandering”. Trata-se de uma forma de dividir os distritos. Com a divisão, se escolhe quem será o vencedor. Outra distorção do voto majoritário nas eleições proporcionais é que o voto ideológico se torna quase impossível, passando a prevalecer as celebridades locais em detrimento das ideias em debate. Pois as pessoas passam a votar no amigo, no líder religioso ou comunitário, entre outros com a mesma lógica.

Com este sistema de votação quem faz a maioria dos delegados de um estado leva todos os delegados do mesmo estado. Por exemplo, na Pennsylvania Trump obteve 2.912.941 votos contra 2.844.705 de Hillary. Mesmo com uma diferença de menos de 2%, ele obteve todos os delegados deste estado. Já na Califórnia, Hillary obteve 5.991.747 votos, contra 3.208.374 votos de Trump, de modo que assim ela obteve todos os delegados. Entretanto, no segundo exemplo, a Democrata obteve quase o dobro do Republicano, resultando no efeito dos “votos perdidos”.

O resultado final é que não é a primeira vez na história que um presidente foi eleito nos EUA tendo a minoria dos votos. O mesmo fato ocorreu com Bush, em 2000, quando o Republicano obteve 50.460.110 contra 51.003.926 do Democrata Al Gore.

Enquanto isso, no Brasil avança a passos largos, entre outros ataques aos trabalhadores, mais uma ofensiva. Sob o título de “Reforma Política”, o Senado, por meio da PEC 36, pretende criar uma cláusula de barreira. Isto significa restringir o espectro político brasileiro. O imaginário das pessoas aceita a ideia de que se tem “muitos partidos”. Entretanto, restringir os partidos significa limitar apenas ao PMDB, PSDB, DEM e PT. Até mesmo partidos como PSOL, ou PCdoB estariam ameaçados. Este é um perigo grave para a Democracia. A história democrática do Brasil está permeada pela história de legalidade e perseguição ao PCB. Sempre que se atacou a legalidade dos partidos de oposição, junto houve um ataque à democracia.

Por outro lado, é preciso exigir eleições ‘Diretas Já!’. No Brasil também. Temer assumiu a Presidência por meio de um golpe institucional. Foi comprovado que ele recebeu propina em cheque nominal. Caso Temer venha a ser afastado, ainda este ano, ocorreriam novas eleições presidenciais. Já se ele for afastado no próximo ano, a eleição seria indireta. Ou seja, o TSE deveria antecipar o julgamento de Temer. Da mesma forma que o STF, para manter a coerência, também deveria afastá-lo.

Entretanto, o que os trabalhadores devem fazer não é confiar e esperar coerência destas instituições. Mas, sim, se unir e exigir mais democracia, defender as conquistas existentes. Denunciar o papel do PT que quando estava no governo foi conivente com uma Reforma Política que já limitou os espaços democráticos. Mas, nem por isso podemos ser coniventes com o golpe e os ataques à Democracia decorrentes do mesmo. Na atual conjuntura é fundamental unirmos as forças dos trabalhadores e dos setores democráticos contra tais ataques.
Por Diretas Já! No Brasil e nos EUA!