Waldo Mermelstein
Com depoimentos atuais e ótimas imagens históricas, o Observatório da Imprensa, programa da TV Brasil, segundo suas próprias palavras, “recupera o assassinato de Trotsky da lata de lixo da história”.
O programa tem seus altos e baixos, mas a estatura pessoal e política de Trotsky, no 75º aniversário de sua morte, sobressai de forma clara. O ponto provavelmente mais baixo do programa foi a falta de qualquer explicação histórica sobre o conflito entre Trotsky e Stálin, cuja apresentação restringiu-se as rivalidades pessoais.
Outro ponto negativo foi nem sequer ter sido mencionado que Trotsky teve uma posição diametralmente oposta à de Stálin no tema da luta contra o nazismo. O programa, que dedica toda uma apresentação de Alberto Dine ao tema do ultra-esquerdismo stalinista do terceiro período, sequer menciona a posição de Trotsky na luta pela frente única entre comunistas e social-democratas. Dado que o programa centrava-se na figura de Trotsky, mencionar a política do stalinismo que levou à vitória do nazismo sem lembrar as posições do revolucionário ucraniano é no mínimo estranho. Ate mesmo porque a posição mais citada e respeitada de Trotsky nos temas de política internacional foi a da luta pela frente única dos trabalhadores contra o fascismo.
É também problemática a opinião de alguns comentaristas, em particular Milton Temer. Ao longo de sua intervenção, o dirigente do PSOL deixa a entender que as principais polêmicas de Trotsky com Lenin se expressavam na disputa entre Mencheviques e Bolsheviques, tendo Trotsky muito mais “pontos de acordo” com os Mencheviques. A afirmação de Temer, na melhor das hipóteses, é incorreta. Enquanto, de fato, Lenin e Trotsky polemizaram de forma dura entre si durante o período que separa 1905 e 1917, tais polêmicas centravam-se no tema da democracia interna nos partidos revolucionários e na natureza da revolução russa – Trotsky defendendo a fórmula da “revolução permanente” e da “ditadura do proletariado”, e Lenin, até as Teses de Abril, reivindicando para a Rússia uma “ditadura democrática dos operários e camponeses”. Tal debate em nada se relaciona ao cerne da polêmica entre Bolsheviques e Menchevques, que defendiam uma revolução democrático-burguesa para a Rússia. Sem mencionar que Lênin e Trotsky, ao contrário dos Menchevques, tiveram a mesma posição de combate internacionalista à guerra imperialista de 1914 e 1918.
O programa, porem, também tem seus pontos positivos. A fala final do Padura dizendo que ninguém ou quase ninguém hoje se diz stalinista, ao passo que muitos que ele encontra são ex-trotskistas ou trotskistas, dá uma ideia ainda que difusa da força de seu pensamento e de sua luta por ideias. Esperemos, agora, pelo próximo programa sobre os trotskistas brasileiros.
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