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TEORIA

Ruy Braga discute precariado, populismo e lulismo na UFRJ

Na próxima terça-feira, 26 de março, o sociólogo Ruy Braga discutirá  no IFCS/UFRJ o seu novo livro, A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista (Boitempo, 2012). Na sessão, que começará às 10:20 no Salão Nobre, estará presente o sociólogo e diretor do IFCS, Marco Aurélio Santana.  Para quem estiver no Rio, vale a pena conferir.

Veja a apresentação do livro publicada no site da editora Boitempo:

Em seu novo livro, o sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, Ruy Braga, utiliza os instrumentos teóricos da sociologia marxista crítica a fim de propor uma leitura inovadora da história social do Brasil – do populismo fordista ao atual lulismo hegemônico –, tendo como vetor analítico a “política do precariado”. Definido como o proletariado precarizado, o conceito de “precariado” situa esse grupo como parte integrante da classe trabalhadora, enfatizando a precariedade como inevitável no processo de mercantilização do trabalho.

Neste livro ambicioso, Braga se coloca diante da tarefa de decifrar a relação entre o proletariado precarizado e a hegemonia lulista. Uma das inspirações do autor são as análises afiadas de Francisco de Oliveira, que priorizaram a reflexão sobre a “formação do avesso” ao demonstrar a despolitização da classe trabalhadora como consequência do governo petista e das políticas públicas federais que alimentaram na última década o mito da superação da crise por meio do aumento constante do consumo popular. Em um trabalho de intensa acumulação crítica, Braga também dialoga com André Singer e Jessé Souza em suas leituras do fenômeno lulista. O livro é dividido em quatro capítulos, seguidos por uma coletânea de artigos escritos ao longo de 2011 e 2012. Tais “intervenções” indicam de maneira privilegiada o movimento de reflexão engajada de um pensador profundamente atento às dinâmicas históricas de seu tempo e às manifestações fragmentadas do processo de precarização em marcha.

O estudo de Ruy Braga procura dar conta tanto dos processos econômicos estruturais (o fordismo periférico, sua crise, a passagem ao pós-fordismo financeirizado) como da dimensão subjetiva do proletariado precarizado (a angústia dos subalternos, a inquietação operária, a pulsão plebeia ou classista dos explorados). Essa atenção à subjetividade do proletariado precarizado, particularmente desenvolvida no capítulo sobre os teleoperadores da indústria do call center, forma atual do precariado brasileiro, é uma das contribuições mais interessantes e originais para a análise da hegemonia em questão. Outro diferencial inovador é insistência na necessária reflexão sobre a política do precariado antes e depois do golpe militar – o que resulta na ousada tese de que o lulismo se caracteriza pela superação do populismo – no sentido da Aufhebung hegeliana: nega, conserva e eleva a um patamar superior.

Tão rigorosa quanto inovadora, essa obra é também provocante a ponto de desmanchar consensos e “eminentemente radical, crítica e subversiva”, nas palavras de Michael Löwy, autor do prefácio. Na contracorrente do consenso dominante, a pesquisa de Ruy Braga indica que a despeito da relativa “satisfação” acusada pelas eleições presidenciais, e da aparente estabilidade do modo de regulação proporcionada pelo “transformismo” petista, a hegemonia lulista encontra-se assentada em um terreno historicamente movediço. A instabilidade de base seria resultado de um consentimento passivo das massas que aderiram momentaneamente ao governo, seduzidas pelas políticas públicas redistributivas e pelos modestos ganhos salariais advindos do crescimento econômico; e de um consentimento ativo das direções sindicais, seduzidas por posições no aparato estatal, fora as incontáveis vantagens materiais proporcionadas pelo controle dos fundos de pensão.

Quando a pulsão plebeia esmiuçada no livro volta a impulsionar a atividade grevista no país, Ruy Braga nos impele a refletir sobre os limites do atual modelo de desenvolvimento brasileiro. A política do precariado é, portanto, leitura obrigatória para os que desejam entender e transformar o momento presente.

Sobre o livro

“Por que tantos trabalhos acadêmicos de sociologia são chatos? Uso a palavra ‘chato’ em seus dois sentidos: ‘aborrecido’ e ‘achatado’, isto é, superficial, sem profundidade. A resposta é simples: eles são conformistas, positivistas, sem força crítica e sem radicalidade. Felizmente, existem pesquisas que vão exatamente no sentido contrário. É o caso deste belo trabalho de Ruy Braga, obra eminentemente radical, crítica e subversiva, inspirada por um compromisso irredutível com a causa do ‘precariado’, sua autoatividade e sua luta emancipadora.” – Michael Löwy

Trecho do livro

“O recente aumento dos acidentes e das mortes no trabalho, a resiliência do número absoluto de trabalhadores submetidos à informalidade, a concentração da massa dos empregos na base da pirâmide salarial ou a elevação da taxa global de rotatividade e de terceirização da força de trabalho dão ideia da desagregação social que a ortodoxia rentista afiançada pela “Carta ao Povo Brasileiro” assegurou ao país na década de 20007. Por seu lado, a teoria da formação da “nova classe” somada à tese da hegemonia às avessas ajudaram a esboçar uma resposta sociológica ao enigma da conversão do petismo ao rentismo globalizado: para pilotar o modelo de desenvolvimento pós‑fordista no país sem romper com o ciclo da valorização financeira só mesmo pacificando as fontes do trabalho barato, daí uma modesta desconcentração de renda na base da pirâmide salarial a fim de garantir uma severa concentração de capital financeiro no cume do regime de acumulação. Tudo somado ao “transformismo” da direção histórica dos movimentos sociais no país”.

Sobre Ruy Braga

Ruy Braga é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e ex-diretor do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP (Cenedic). É autor de A nostalgia do fordismo: modernização e crise na teoria da sociedade salarial (Xamã, 2003) e um dos organizadores deHegemonia às avessas: economia, política e cultura na era da servidão financeira (Boitempo, 2010) e da coletâneas de ensaios Infoproletários: Degradação real do trabalho virtual (com Ricardo Antunes, 2009, Boitempo). Ruy Braga também é colunista do Blog da Boitempo.

Sobre a Coleção Mundo do Trabalho

Coordenada por Ricardo Antunes, publica estudos sobre o trabalho, a sua centralidade na sociedade capitalista, a análise do sindicalismo, questões de gênero e o impacto das transformações trazidas pela globalização.