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CULTURA

Tripla resistência das minas: Roda Cultural da Brasil

Por: Elber Almeida, do ABC paulista

Apenas em sua segunda edição, a Roda Cultural da Brasil, batalha das minas, em São Bernardo do Campo, mostra a que veio: resistir

Na praça Brasil, ponto de encontro de skatistas da cidade, próximo ao Terminal Ferrazópolis, iniciou a roda que acontecerá toda sexta-feira à noite trazendo música ao local. A roda promete trazer atrações do Rap Nacional gratuitas, para além das batalhas, especialmente atrações femininas.

A batalha é só de minas. Alguns podem chamar isso de segregação, mas, além da Batalha das Minas que a organização da Batalha da Matrix promove de tempos em tempos, as mulheres têm pouco espaço nas batalhas também no ABC paulista. O mic está aberto, só que na cultura machista em que vivemos elas são ensinadas a não se expressarem. Além disso, sofrem vários ataques verbais machistas nas rinhas, incluso quando não estão rimando.

Desta vez, a Guarda Civil Municipal (GCM) tentou impedir o evento, querendo reprimi-lo. Porém, as minas resistiram com apoio de organizadores da Batalha da Matrix que estavam no local e possuem larga experiência em lidar com abusos policiais. A batalha foi até o fim, apesar dos guardas de terem convencido o pessoal do posto de gasolina local a desconectar a energia que haviam emprestado para alimentar as caixas.

A resistência das batalhas de rap no Brasil faz parte da resistência de uma camada de maioria de jovens trabalhadores que enfrentam poucas perspectivas de futuro no sistema capitalista. A cada três jovens brasileiros, um está desempregado. Esse índice aumenta quando falamos de negros e de mulheres.

Essa rapa enfrenta não só desemprego, falta de vagas nas universidades, educação e transporte público destruídos, mas até perseguição ao direito mínimo à liberdade de expressão e ocupação dos espaços públicos. Um exemplo é o que ocorre na repressão às batalhas. Assim, essa juventude encara três resistências: a de fazer parte de uma nova geração de trabalhadores com poucos direitos garantidos, de ser uma maioria de negros que enfrentam o racismo e, no caso das minas, de sofrerem com o machismo até mesmo no Hip Hop.

O rap feminino se fortalece com a ascensão de novas MC’s no cenário nacional. Outro exemplo de sua força é a batalha Dominação, que ocorre toda segunda-feira à noite próximo à estação São Bento do metrô em São Paulo. A Roda Cultural da Brasil também promete por ser um espaço de expressão artística de alguns dos setores mais oprimidos da sociedade. Toda sexta-feira, 19horas, Praça Brasil, São Bernardo do Campo. Veja o recado da página da organização:

“Salve Salve manos e manas do A.B.C.D.M.R 7
Como muitos ainda não sabem, desde o dia 27/01/2017, toda sexta feira, ás 19:00 horas
na praça Brasil , no centro de São Bernardo do Campo … rola a Roda Cultural!”

A batalha das minas é um projeto voltado aos elementos da cultura hip hop e fora dele em prol de empoderar, ainda mais, as mina na cena. O movimento é novo, mas consiste numa antiga luta!!!

Liberdade de expressão e igualdade perante os seres humanos!!!

No último dia 03 rolou a segunda edição. Logo após a final, fomos abordados pela Guarda Civil Municipal (GCM) e ouvimos ameaças contra o movimento e repressão. Eles disseram que ali não se estabeleceria nenhum movimento de cultura sem haver um ofício da prefeitura. Mas a nossa Constituição nos diz no artigo 5°, parágrafo 9: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientifica e de comunicação, independente de censura ou licença”. E a liberdade de expressão pode ser exercida em qualquer momento e lugar, desde que não interfira na integridade física ou mental dos cidadãos. Fica explicito também na Constituição, no artigo 5°, parágrafo 16: ”Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao publico, independente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso á autoridade competente”. Não necessitamos de pedido de permissão e sim de comunicação. E as devidas providencias quanto a isso já foram tomadas!!

Não podemos ser reprimidos e oprimidos por executar nosso direito de liberdade de expressão, por pessoas que nem ao menos entendem que também lutamos pelos direitos delas!!

Podem vestir fardas, mas não podem discernir o que um movimento cultural representa para a sociedade inferior, que vive nos bairros afastados do centro e na podridão que é o próprio centro. Esperamos e contamos com a participação de todos, para que nessa sexta feira, não seja nada diferente dos dias anteriores. Contamos com muita gente, muito barulho e muito axé para esse evento maravilhoso acontecer!!

Manas e manos convidem a família tragam as crianças, vamos festejar a vida e sua liberdade de informar !!!

Minas, vamos chegar com força no bagulho, o evento é pra todos, mas principalmente para vocês. Não é atoa que a batalha é feminina, quem apresenta é uma mina, quem põe o som para rolar é uma mina. Então, nada mais certo do que as minas chegarem em peso. Gratidão àqueles que reservaram um pouco do tempo para dar uma atenção, agradecendo ainda mais, quem abraçou a ideia e vai ta chegando para a gente formar uma grande família que o sistema teme.

A familia C.U.S.P.I. (Coletivo Unificado Social Político Informativo) agradece!!!

Leia também:

#0 Cultura e resistência no ABC paulista

1# Batalha da Pistinha

2# Batalha da Praça

3# Batalha da Vila Luzita

4# Batalha da Galeria

5# Batalha da Palavra

6# Resiste Batalha do Carrefa!

7# A Batalha do Cooperativa

Mapa das batalhas de rap no ABC