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EDITORIAL

A forças das manifestações e os primeiros passos de Trump

Editorial de 25 de janeiro,

O último sábado, dia 21, foi um grande dia. Milhões saíram às ruas para protestar contra a agenda reacionária de Donald Trump, o bilionário racista e misógino que assumiu o poder em Washington.

Comandado pelas organizações de defesa dos direitos das mulheres, um amplo arco de forças sociais se uniu e deu o seu primeiro recado.

A manifestação que estava prevista para ter seu grande momento em Washington estendeu-se com força similar em várias grandes cidades americanas e em muitas outras localidades. Calcula-se que foram cerca de três milhões de pessoas às ruas, seguramente uma das maiores manifestações da história do país.

Porém, infelizmente, o peso do aparato do Partido Democrata foi grande nesses atos, em especial na capital. Superar esse vínculo é um dos grandes desafios de um movimento que mostrou a força dos explorados e oprimidos do país mais poderoso do mundo.

Diante da mobilização de massas, o governo sentiu o golpe e inventou teorias fantasiosas, como os famosos “fatos alternativos” para negar a força da mobilização social, o que um repórter da cadeia NBC americana descreveu simplesmente como “falsidades”.

Mesmo assim, o governo não pestanejou em começar a aplicar um tsunami reacionário de medidas. Na verdade, nada é muito diferente do falado na campanha eleitoral e na longa transição, mas a realidade sempre é mais rica e seus efeitos muito mais palpáveis e terríveis.

Ações externas
Em nível internacional, veio o anúncio de que os EUA abandonavam o TPP (Parceria Trans Pacífica), o que causa um vazio comercial na região e que os chineses tentam suprir. Presenciamos cenas insólitas, como Xi Jin Ping, chefe do governo chinês, defendendo a globalização na reunião dos ricos do mundo em Davos. Ainda tonto, Shinzo Abe, o ultrarreacionário primeiro-ministro japonês, insiste em manter o TPP, ao passo que a Austrália já se pronunciou por um tratado, mantendo o desenho do TPP, com os países da região e em particular com a China, o seu principal parceiro comercial.

Mas onde as investidas trumpianas podem ter um efeito brutal mais imediato é nas ameaças de denunciar o NAFTA (Acordo de Livre Comércio entre os EUA, o Canadá e o México), caso não consiga negociar melhoras no tratado. O detalhe é que o comércio entre o México e os EUA alcança cerca de 1 trilhão de dólares (!!) ao ano. Incontáveis multinacionais americanas exploram os trabalhadores mexicanos, cujos salários já são mais baixos que os da China e equivaliam em 2011 a 6 vezes menos do que os americanos.

A mudança para pior desses acordos significará um golpe incomensurável para os mexicanos e às condições políticas naquele país, que já enfrenta uma importante crise econômica, política e social. Mais do que nunca, o velho ditado mexicano, “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”, é mais verdadeiro que nunca.

Claro que alguns nem precisam de sinais mais explícitos e tentam se aproveitar: em Israel, os sionistas lançaram-se em planos de milhares de novas casas nos territórios ocupados e em Jerusalém Oriental, bem como uma onda de demolições de casas palestinas “ilegais” e de aldeias de beduínos no deserto de Nakab, ao sul das fronteiras de 1948.

Medidas internas
No terreno nacional, a primeira medida foi a restrição aos gastos determinados pelo plano de atenção básica à saúde (privado, mas com subsídio estatal), denominado Obamacare, que pode causar problemas imensos para os cerca de 20 milhões de americanos pobres que dependem dele.

Ontem, a imensa influência da indústria de energia se fez sentir na determinação de que a construção dos oleodutos Keystone XL e o que passa pelas terras dos Sioux, em Dakota do Norte seja retomada. Os heroicos indígenas que protagonizaram uma luta ímpar em Standing Rock logo estarão em pé de guerra novamente. Não foi um detalhe secundário que o anúncio tenha sido feito logo após ter se reunido com os executivos das três principais companhias automotoras americanas, a Ford, a GM e a Chrysler, numa demonstração de que está a favor de fazer para “desregulamentar” a proteção ambiental.

Seguiu-se a provocação ao movimento de mulheres. Reeditando uma medida dos tempos de Reagan, Trump proibiu o financiamento internacional às organizações que incluam entre suas ações qualquer programa de assistência à saúde que proporcione ou mesmo discuta o aborto a suas pacientes, a não ser em casos de estupro, incesto ou perigo de vida. Isso afetaria também muitos outros programas de saúde pública de tais organizações.

E hoje, quarta-feira, Trump anunciará as novas medidas de fechamento seletivo de fronteiras. Sete países, todos muçulmanos, teriam os vistos para seus cidadãos suspensos. Mas não é só. Trump anunciou também, pelo Tweeter, que iniciará a construção do muro na fronteira com o México. A medida será divulgada oficialmente, em todos seus detalhes, ainda hoje. A construção do Muro, uma das promessas da campanha do bilionário, representa um duríssimo ataque aos imigrantes em geral, especialmente aos mexicanos.

Nos EUA e no mundo todo: nenhuma trégua a Trump
As gigantescas manifestações nos EUA anunciaram a possibilidade de uma resistência forte e massiva contra Trump.
Nesse momento, é fundamental dar continuidade à resistência. Trump não pode ter um minuto de sossego. É possível, com luta e organização, derrotá-lo. Trata-se de uma luta centrada nos EUA, obviamente, mas também internacional. Afinal, a derrota de Trump será a vitória dos trabalhadores e dos povos oprimidos no mundo todo.