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CULTURA

2024 e o desmonte de um Teatro em Suzano

Bel Jaccoud, de Suzano (SP)
Douglas Cordeiro

Última apresentação do grupo no espaço em Suzano com a obra “O incrível homem pelo avesso”

Nessas últimas semanas em Suzano o céu abriu, uma casa de encantaria, comunidade livre, palco para recriar a vida, um teatro de containers se desmonta, e o teto que protegia o nascimento de suas grandes obras se transforma em céu aberto e se despede das terras Suzanenses em um movimento de resistência e luta na contramão de uma cidade que está sob a gestão de uma prefeitura que mantém a todo custo a manutenção de uma província instituída com o prefeito Rodrigo Ashiuchi (PL), e uma Secretaria de Cultura que vem institucionalizando o desmonte no setor cultural, desorganizando a esquerda e agindo através da tirania no que se estende à censura e perseguição de artistas independentes locais na representação do vice-prefeito e até então Secretário de Cultura Walmir Pinto (PV).

Para o contragosto dos tiranos a arte como reserva primordial de resistência, onde o fascismo não habita, o Grupo Contadores de Mentira teceu sua trajetória na cidade ao longo de renomados 28 anos, fazendo parte intrinsecamente dos processos e momentos políticos determinantes para a cidade, seu espaço foi sede e casa para o nascimento dos movimentos organizados que hoje constroem uma unidade de oposição que há muito não existiu na esquerda Suzanense.

O espaço que agora se prepara para alçar novos voos em um outro lugar abriu suas portas ao Encontro Nacional de Grêmios, a organização e manutenção da Frente LGBTQIAP+ de Suzano, o M.A.I.S – Movimento Artivista Independente de Suzano, ao ressurgimento do carnaval de rua e tantas outras conferências e momentos de discussão e realinhamento político.

O ostracismo de uma Secretaria de Cultura com os artistas de sua cidade não é algo comum, vide uma gestão que se diz progressista, mas isso ocorreu e mais grave que isso a interferência direta dos poderes na retirada do grupo, artistas e espaço, uma edificação coletiva em que os próprios integrantes do grupo construíram, dia a dia, bloco por bloco, tijolo por tijolo.

A classe artística segue em 2024 organizada por redes que ultrapassam a fronteira dos mapas, e aos poucos se reestruturando em um ano decisivo para a conjuntura atual, a luta com os companheires do Teatro Contadores de Mentira trouxe novamente aos artistas e militantes um entendimento coletivo eficaz no que tange uma luta de classe perpassada pela histórica resistência da arte.
E como é parte da estratégia o apagamento de corpos e coletividades dissidentes o espaço em questão residia do outro lado da ponte no bairro Parque Maria Helena em Suzano, lugar esquecido e muito pouco visitado pelo poder público, registrará em sua história o triste episódio de fechar um teatro em 2024.

Ao Teatro Contadores de Mentira registra-se a maciez do tempo em resistir com afeto como poucos e aumentar cada dia mais sua comunidade, não se dobrar aos desmandos de um tirano é a promessa do futuro, que permanecerá no anseio de uma classe trabalhadora inteira que almeja dias melhores no cenário cultural brasileiro.
Avoa Contadores! SEGUIREMOS NA LUTA!

Contadores vive e viverá, artista independente não para de lutar

Bel Jaccoud é artista, poeta, militante do PSOL, integrante da diretoria da Frente LGBTQIAPN+ de Suzano e integrante do M.A.I.S – movimento artivista independente de Suzano.

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cultura / suzano / teatro