Por Raquel Varela, Colunista do Esquerda Online
Tempos houve em que a Igreja ocupava o lugar central das cidades. Hoje esse lugar é ocupado por um banco. Espero que um dia seja ocupado por uma universidade. Como as igrejas à conquista do céu, os edifícios sede de bancos – que acumulam os juros usurários de obras megalómanas – são esmagadores.
Para que ninguém duvide do tamanho, aparente, do poder. Sonho com um dia em que no centro das nossas cidades haverá universidades, horizontais, do nosso tamanho, ajardinadas, de portas abertas a quem entra por bem, faça o que fizer com o que lá aprende, mas que possa entrar e ouvir, as matérias que quiser. Devolveremos assim à sociedade centenas de anos de investimento em ciência. Esta tem sido a batalha de muitos professores da UERJ(Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
A palavra escola tem a sua origem na palavra ócio, que para os gregos era o contrário de negócio. Ócio não era preguiça, era tempo de reflexão. Uma universidade – e este é o âmago da questão – não pode ser uma instituição que produz a formação da força de trabalho para o mercado. Ela é uma instituição de contrapoderes, seja à Igreja, ao Estado, aos partidos ou ao mercado. A sua função – temos que quebrar este tabu – não é adaptar-se “ao que o mercado necessita”. O mercado, ou seja, a forma como hoje vivemos, produzimos e reproduzimos a sociedade, é que tem de vir com urgência à universidade para ser criticado, no lugar onde se produz conhecimento, onde se questiona o óbvio, onde se desafia, com coragem, o senso comum. Por isso ela é um espaço de liberdade e democracia.
Quero prestar a solidariedade aos meus colegas, professores Universitários da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, uma das maiores e melhores universidades da América Latina, ameaçada de encerramento porque quem Governa achou por bem construir estádios de futebol e jogos olímpicos.
Dei aulas mais do que uma vez na UERJ na Faculdade de Serviço Social, e na de Direito. Gente séria, densa, que trabalha com dedicação. Foram colegas da UERJ que me ajudaram a perceber coisas tão complexas como os relatórios do banco mundial que sugerem a criação de programas públicos de financiamento a universidades privadas, programas públicos que são portadores de juros, um «cheque ensino», e cujos donos, das universidades privadas, são…banqueiros.
Lembrei-me de uma anedota que por estes dias partilhada no facebook. Um amigo passa por outro e diz-lhe «Saúde!». O outro, para surpresa, responde «Educação!», logo chega um outro amigo e diz «Emprego», e um deles responde «Segurança Social». Diz que acabaram todos a cantar…A Internacional, escrita por Eugène Pottier, poeta e operário, em 1871 para a Comuna de Paris. E musicada dez anos depois pelo compositor franco-belga, o socialista Pierre De Geyter. Bem unidos façamos uma universidade pública, de qualidade, um espaço de portas abertas, do tamanho das pessoas de bem.
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