Nesta manhã de “sol frio”, o termômetro marcava 10 graus as 7 horas, recebi a mensagem de um amigo do México: “Esteban Volkov já não está entre nós”, o coração apertou e veio aquela sensação de perder um amigo do peito, um irmão.
Esteban Volkov ou Sieva Volkov seu nome russo, era neto do teórico marxista e líder da Revolução Russa Leon Trotsky e faleceu aos 97 anos na Cidade do México que acolheu seu avô e ele mesmo depois de uma intensa batalha judicial travada por Trotsky pela sua guarda.
Tive a honra de conhecê-lo e por algumas vezes junto com outros camaradas conversar longamente e ouvir atentamente as histórias de sua longa jornada desde a fuga dos Gulags, passando pela vida em Paris, depois México, a convivência com o revolucionário avô, o atentado que conseguiu se salvar e o fatídico o atentado que assassinou Leon Trotsky em agosto de 1940.
Fui apresentado a Esteban em agosto de 2009 estava em uma Conferência na Associação de Jornalistas do México e ele era um dos palestrantes, depois jantamos e no dia seguinte visitamos a Casa Museu Leon Trotsky e ainda tivemos uma palestra com ele, aberta a perguntas no Auditório da Casa Museu, um excelente local com acomodações para umas 100 pessoas, o ouvimos e fizemos perguntas por umas 3 horas. Ele já tinha mais de 80 anos e se manteve todo o tempo firme e paciente respondendo a todas perguntas.
Depois a antiga organização política que eu militava (Esquerda Marxista) organizou em junho de 2011 um giro de Esteban realizamos com apoio do Sindicato dos Vidreiros de São Paulo, dos Químicos de São Paulo, Químicos de Pernambuco, Sindicato dos Servidores Municipais de Joinville SC e da Fábrica Ocupada Flaskô. Foi a segunda vez que ele esteve no Brasil, a primeira foi num seminário organizado pelo professor Osvaldo Coggiola na USP, aliás na Casa Museu estão em exposição os cartazes dessas duas atividades.
O principal evento foi no lendário TUCA (Teatro da PUC São Paulo) que lotou num dia de semana para ouvir e ver Esteban Volkov, neto de Leon Trotsky. A mesa dessa atividade foi composta pelos companheiros Verivaldo Mota (Galo) do Sindicato dos Vidreiros, Pipoca Sindicato dos Quimicos SP, Serge Goulart da Esquerda Marxista, Pedro Santinho da Flaskô e claro pelo próprio Esteban. Também viajou à Joinville, Recife e visitou a Fábrica Ocupada Flaskô na cidade de Sumaré SP, onde declarou aos operários da fábrica onde declarou emocionado e ser a melhor atividade que fez por estar junto com “operários que tomavam em suas mãos seu próprio destino.”
Sua voz grave e suave falando em espanhol com sotaque mexicano eram harmônicas com seus olhos brilhando sempre quando falava das ideias e ideais de seu avô. Apesar dos 85 anos, sua voz ganhava força e irradiava otimismo quando falava da luta de Leon Trotsky a quem se referia em terceira pessoa. Foi durante toda sua vida um defensor incansável do legado de Trotsky, da luta contra a difamação e calúnias do stalinismo que sempre denunciou como nefasta as ideias socialistas.
Eu deveria estar contente porque ele cumpriu, dedicando sua vida, a tarefa de ser a “memória viva” do legado de Trotsky, mas sinto um aperto no peito, pois se foi o último elo físico da incrível jornada com o líder da maior ousadia do proletariado mundial: a revolução e tomada do poder através dos bolcheviques na Revolução Russa de 1917.
Obrigado Esteban, você estará nas mentes e corações da vanguarda da classe trabalhadora, dos explorados dos oprimidos para todo o sempre.
Obrigado!
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