A tentativa de golpe de Estado, as depredações e os saques do dia 8 de janeiro foram abomináveis. É urgente apurar as responsabilidades e, em especial, punir os parlamentares que estimularam as agressões brutais à instituição da qual fazem ou farão parte.
A chamada Casa de Representação do Povo Brasileiro completa 200 anos em abril desse 2023. Uma história de altos e baixos, de afirmações e defesa da democracia e da participação popular, mas também de momentos de abrigo da autocracia, com fechamentos e restrições da liberdade, fruto do autoritarismo ainda predominante na sociedade brasileira.
Além do ataque vil e criminoso que acompanhamos pela TV, não podemos esquecer que há outras maneiras de “demolir” o Legislativo e corroer a sua credibilidade: torná-lo um balcão de negócios, e não de projetos para o país. Um espaço de negociatas e do “toma lá dá cá”. É baixa e corrompida a política de fazer do orçamento público uma operação secreta para beneficiar “currais eleitorais” de patota de amigos.
Arthur Lira, candidato à reeleição como presidente da Câmara dos Deputados, aspira ter até 500 votos. Um presidente mandatado por essa quantidade de votos teria um poder quase imperial: quanto mais votos, maior poder de barganha para o Centrão, mais força de pressão sobre Lula, o legítimo vitorioso no pleito de 30 de outubro. Fiscalizar não é chantagear! Voto não pode ser trocado por cargos!
O seu pacote de “bondades” editado pela Mesa Diretora que preside, em finzinho de mandato, a uma semana do pleito, tem o claro intuito de atrair os deputados do chamado baixo clero.
O complemento do auxílio-moradia foi de R$ 4.148,80, totalizando a possibilidade das Excelências alugarem imóveis por até R$ 8.401,00. Um aumento de 40%, acima da inflação de 26,93%, de 2019 a 2022.
A cota de combustíveis foi elevada em 56,53%, passando para R$ 9.392,00, também acima da inflação do período.
Esse “agrado” adicional com recursos públicos contrasta com a situação de miséria do país e até com o discurso da direita, que apoia Lira, de “austeridade fiscal” e “corte de gastos”.
Na política, Lira apequenou a Câmara engavetando mais de 100 pedidos de impeachment de Bolsonaro. A tornou mera carimbadora das ações do antigo Executivo, que favoreceram o armamentismo, o desmatamento, a epidemia, o patriarcalismo, o garimpo ilegal, o entreguismo, a destruição de direitos e dos povos indígenas – como se evidencia agora, de forma trágica, no genocídio do povo yanomami.
A Câmara precisa representar de fato a diversidade da nossa gente, o interesse público, a soberania nacional. É espaço de dissenso democrático, chamado a contribuir com a reconstrução de um país igualitário, justo e fraterno, após esse período de trevas.
Uma candidatura única de Lira (defensor permanente de Bolsonaro e do Centrão fisiológico) à própria reeleição desafinaria a necessária luta contra a escalada neofascista e golpista.
Por essas e outras razões o PSOL decidiu lançar meu nome – que representa propostas e modo de entender o Parlamento – à presidência da Casa.
Por uma efetiva atuação parlamentar, e não “pra lamentar”! Por uma Câmara aberta, transparente e mais popular.
A única batalha perdida é a que não se trava.
Publicado originalmente na Revista Fórum
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