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BRASIL

Copacabana: princesinha do mar ou palco do fascismo?

Mauro Puerro, de São Paulo, SP
Tânia Rêgo/Agência Brasil
Existem praias tão lindas cheias de luz
Nenhuma tem o encanto que tu possuis
Tuas areias, teu céu tão lindo
Tuas sereias sempre sorrindo
Copacabana princesinha do mar
Pelas manhãs tu és a vida a cantar
E à tardinha o Sol poente
Deixa sempre uma saudade na gente
Copacabana o mar eterno cantor
Ao te beijar ficou perdido de amor
E hoje vivo a murmurar só a ti
Copacabana eu hei de amar
(Alberto Ribeiro e Braguinha)

Em 1944 Alberto Ribeiro e João de Barro, o Braguinha, compuseram esta maravilhosa canção. Em 1946, foi gravada por Dick Farney com arranjos do maestro Radamés Gnattali transformando-se num enorme sucesso. Teve muitíssimas outras gravações até os dias atuais garantindo um prestígio internacional. Acabou se tornando um símbolo do Brasil, particularmente do Rio de Janeiro, em todo o mundo. Criou um retrato romantizado e idílico desta praia carioca, numa época em que Copacabana fervilhava na música e na política logo após a derrota do nazi-fascismo na segunda guerra mundial. Virou um cartão-postal do país e do Rio.

Ainda no início dos anos 50, Dorival Caymmi compôs “Sábado em Copacabana” que seguia o mesmo roteiro romantizado: “Um bom lugar para encontrar: Copacabana; pra passear à beira mar: Copacabana”. Já em 1993, Eduardo Rangel num diálogo com a canção original criou a música “Copacabana blues” – um retrato humano, mas ácido de uma Copacabana sem romantismo, desfigurada pela crise do capitalismo: “Copacabana não me engana, apenas desfila no meu coração como num fim de semana”. Finalmente em 2006, Joyce e Carlos Lyra, velho frequentador do bairro e um dos criadores da bossa nova, compõem “…E era Copacabana” – um olhar humano e lírico sobre o bairro, porém sem a visão romântica da canção original. “Foi num tempo em que era tudo demais, tempos atrás, quimera fugaz, sonhos de paz e promessas banais, mera fumaça que a vida desfaz, igual a um puro havana.”

O 7 De Setembro e os Fascistas

 

Pois é nesse cenário que Bolsonaro quer realizar seu grande ato de 7 de setembro. A escolha do local pelos fascistas como palco tradicional de atos no Rio de Janeiro não é por acaso. Faz parte da lógica nazista de se apropriar de símbolos nacionais dando-lhes sua roupagem. É o mesmo com a camisa da seleção, a bandeira do Brasil e por aí vai. Não foi inventado pelos fascios nacionais. A turma de Mussolini e Hitler já fazia isso.

O objetivo do Miliciano do Planalto é duplo. Primeiro, galvanizar seus apoiadores, prepará-los para a reta final da campanha, dar-lhes moral. Ele quer e precisa de votos para ir ao segundo turno. Segundo, usar o 7 de setembro como alavanca para o seu sonhado golpe, questionar o resultado eleitoral e se negar a aceitá-lo. Quer preparar sua tropa para isso. Quer amedrontar todas e todos que se opõem a ele para que se recolham em casa. Não se mobilizem nas ruas, não façam campanha. Os dois objetivos se relacionam. O genocida sabe que se perder no primeiro turno fica mais difícil aplicar o golpe, pois sai muito enfraquecido.

Vamos às ruas Dia 10

A política de assistir a tudo isso passivamente, torcendo para que as manifestações bolsonaristas sejam pequenas e esperando apenas chegar o 2 de outubro para colocar o voto na urna é um erro brutal. Erros assim podem custar muito caro. Podem custar uma derrota histórica da classe trabalhadora. Estas eleições e sua campanha são atípicas. Está em jogo nossa sobrevivência. O fascismo deve ser combatido com ações de rua. O defensor de torturadores está há mais de mês convocando seus apoiadores. Pretende e deve fazer um grande ato golpista. Mas ele não tem maioria social. Temos que mostrar que somos a maioria contra ele nas ruas e nas eleições.

É correto participar do tradicional Grito dos Excluídos no próprio 7 de setembro, mas é no dia 10 que é possível e necessário sair às ruas aos milhares por emprego, comida, salário. Sair às ruas contra o golpe, em defesa do resultado eleitoral, em defesa da democracia. A resposta tem que ser imediata. Estamos correndo contra o tempo, por isso é urgente a convocação. Os movimentos sociais precisam fazer um mutirão de chamada para os atos. As campanhas eleitorais, a começar pela de Lula, também devem convocar o dia 10 de setembro em todo o país, como está fazendo o Boulos. Depois do dia 10, é fundamental manter a mobilização com atos massivos de campanha e contra Bolsonaro até a reta final. As ruas devem ser nossas. Os fascistas é que devem ter medo.

Assim, ao defender nossos direitos, ao batalhar para nos livrar deste pesadelo que ameaça nossa existência, vamos defender também Copacabana da usurpação miliciana. Como diz a canção de Carlos Lyra e Joyce Moreno: “Caminhando pelas ruas assim dentro de mim, nem penso ao que vim, penso que a vida nem sempre é ruim. É só o enredo de um mau folhetim. A vida é simplesmente humana.” Bolsonaro e sua horda fascista é o enredo de um mau folhetim. Fora com eles.