A bárbara morte de Marcelo Aloizio de Arruda, dirigente do PT em Foz do Iguaçu, em sua festa de aniversário, repercutiu como uma marca da violência política no país e o crime tem sido atribuído ao discurso de ódio do presidente Jair Bolsonaro. O assassino, o agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho, assumidamente bolsonarista, teria gritado “Aqui é Bolsonaro”, antes de invadir armado o local da festa.
Bolsonaro sentiu mais esta repercussão negativa, após as mortes de Dom e Bruno. Após silêncio, mas depois tentou eximir-se da responsabilidade sobre o crime de ódio, a ponto de gravar uma conversa com dois irmãos de Marcelo, que sequer estavam na festa.
Agora Bolsonaro busca utilizar o repugnante caso do médico que estuprou uma mulher durante o parto, para atacar a esquerda e inverter a dinâmica dos debates nas redes. Em vídeo, ele comenta o caso de estupro e tenta apresentar Giovanni Quintella Bezerra como se fosse de esquerda. “A gente pensa, né: qual a educação desse cara? O que ele aprendeu na faculdade? Lógico que ele aprendeu a ser anestesista lá, mas o que mais foi ensinado na faculdade para ele? O que tinha no centro acadêmico? Qual a ideologia dessa universidade?”, afirma o presidente.
A tentativa desesperada é uma fake news. Ao contrário do assassino bolsonarista de Foz do Iguaçu, não há nada que indique que o estuprador possua orientação ideológica definida, nem à esquerda e nem à direita. A tentativa de estabelecer o uma possível influência de ideologia de esquerda é parte da campanha permanente contra a educação e as universidades, em função da resistência contra o governo e do pensamento livre e crítico que predomina no ambiente acadêmico.
“Bolsonaro não perde nenhuma oportunidade de atacar os movimentos sociais. Esta fala dele é mais um exemplo disso. É absurda. A luta contra o machismo é uma das principais lutas do movimento estudantil hoje, a gente sabe disso”, afirma Carol Paiva Leal, 3ª vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes, estudante da UFMG e ativista do coletivo Afronte!. Carol reconhece que há machismo na universidade, como em todos os lugares, mas registra que a esquerda é quem combate a violência contra as mulheres. “Recentemente, aconteceu um caso de estupro na UnB e fizemos grandes atos em repúdio, que foram organizados pelo movimento estudantil. A gente promove a luta contra o machismo na prática, com agendas de rua, atividades de formação e construindo instrumentos para combater todas as formas de opressão e para que as mulheres tenham protagonismo no ME e em todos os espaços!”, afirma.
Carol devolve o ataque de Bolsonaro, relacionando os casos de estupro e de assédio ao machismo e a misogínia do bolsonarismo. “A gente sabe bem que a forma como Bolsonaro trata as mulheres reforça todas as violências, inclusive como a que foi cometida pelo médico. Quando a presidenta da Caixa assumiu (depois de denúncias de assédio sexual), a gente viu a maneira rude como Bolsonaro a tratou, o que ficou evidente em um simples gesto, na passagem de uma caneta pra ela. Esta é a forma como ele trata as mulheres, né? É um governo misógino!”, conclui.
Por mais absurda que pareça a fake news, ela obedece a um método, cumpre um objetivo. A frase busca desumanizar ativistas de esquerda, feministas, LGBTQIA+s, todos os ativismos e movimentos sociais. Repetir que o médico estuprador é fruto da “ideologia” de esquerda, é algo chave para esta narrativa, que mostra a eleição como uma luta entre o bem e o mal, e com o mal (no caso, a esquerda), como algo que poderia ser simplesmente eliminado. Ao vincular a esquerda a um “monstro” como o médico estuprador, o bolsonarismo dá sinal verde para que outros monstros surjam e entrem em cena, e promovam novos casos de violência como o de Foz do Iguaçu (PR). Bolsonaro mereceria ser responsabilizado também por isso.
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