A despedida de Marcelo Aloizio de Arruda, dirigente do PT em Foz do Iguaçu, assassinado em sua festa de aniversário de 50 anos, começou na noite de domingo e se estendeu até às 15h30 de segunda-feira, quando centenas de pessoas acompanharam o cortejo até o Cemitério Jardim São Paulo, parando na sede da Guarda Municipal, onde Marcelo trabalhou por 28 anos.
Marcelo deixa esposa e quatro filhos. Além da revolta e de pedidos por justiça, o velório foi marcado por grande emoção e muitas homenagens de amigos e familiares. Um vídeo que circula na internet mostra o momento em que amigos cantam uma das músicas preferidas de Marcelo (Tá escrito, com o grupo Revelação) e cujos versos parecem ter sido escolhidos para a situação política atual, na qual o bolsonarismo tenta intimidar os opositores com a violência política. “Quem cultiva a semente do amor / Segue em frente e não se apavora / Se na vida encontrar dissabor / Vai saber esperar a sua hora”, cantaram os amigos e colegas de trabalho no ginásio Sebastião Flor, que contou ainda com um “parabéns para você”, junto com Pamela Silva, esposa do guarda municipal e sindicalista.
A cerimônia contou com a presença de diversas lideranças políticas e partidos de esquerda, entre eles a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, deputada pelo Paraná, e do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Leia abaixo o relato de Orlando, publicado em suas redes sociais.
“Quando soube do assassinato de Marcelo Arruda fiquei perplexo, chocado.
Passei o dia de ontem tentando compreender o fato, o que ele sinaliza e suas consequências. Decidi não ir a sessão do Congresso Nacional, e segui para Foz do Iguaçu para acompanhar o velório e o sepultamento. Não compreendo como as lideranças políticas aceitam naturalizar fato de tamanha gravidade.
Saí do funeral devastado! Não conhecia Marcelo pessoalmente. Mas os depoimentos foram muito emocionantes. Fui acolhido por todos com tanto afeto que me senti totalmente integrado aquela cerimônia de despedida.
Antes de fechar definitivamente o caixão três cenas me tocaram profundamente.
A sua esposa, aos prantos, aproximou o bebê do corpo do pai como se tentasse permitir que ele se despedisse de um homem que nunca conhecera.
A sua esposa, aos prantos, aproximou o bebê do corpo do pai como se tentasse permitir que ele se despedisse de um homem que nunca conhecera. Esse filho de Marcelo tem um mês de idade.
Uma guarda municipal que trabalhou com Marcelo por 25 anos, e inúmeras vezes dividiu a mesma viatura na ronda, anunciou cada conquista que servidores públicos alcançaram sob a liderança daquele companheiro. A última foi na véspera do assassinato. O ganho no nosso holerite que todos receberam tem a marca dele.
Surgiu um amigo de 27 anos, que esteve na festa. Para surpresa de muitos que acompanhavam o funeral, ele lembrou que “bolsonaristas” foram ao aniversário e esse traço até dava graça a festa. A gozação estava em surpreendê-los com fotos onde apareciam envolvidos nas imagens de Lula que decoravam o encontro. Quando o assassino entrou e gritou lá fora “aqui é Bolsonaro”, a turma pensou que seria mais um pronto pra se divertir. E Marcelo até se dar conta do que se tratava, ostentava um sorriso no rosto.
Não é natural uma pessoa assassinar outra por divergência política. O discurso de ódio precisa ser enfrentado. Nossa única alternativa é isolar e derrotar o atual presidente, é isso exigirá amplitude, coragem e determinação.
Por Marcelo, pelo Brasil.”
Assista ao vídeo com o momento do velório onde amigos cantam o samba
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