Hoje a Bahia está em festa. Há 200 anos a independência do Brasil começou, mas só se concretizou no ano seguinte, em 2 de julho de 1823, nestas terras. Não foi um “grito de Ipiranga” que nos libertou, mas o sangue dos nossos antepassados. Liderados por figuras como Maria Felipa, uma mulher negra escravizada, verdadeira heroína que de fato representa nosso povo.
Esse ano também queremos começar a nos libertar de um mal que a quase quatro anos devasta nosso país. Bolsonaro e o Bolsonarismo precisam ser derrotados nas urnas e nas ruas. O presidente genocida estará em Salvador e fará sua tradicional motociata da morte. Mas a estrela do Dois de Julho deste ano certamente tem outro nome: Lula.
Lula participa do tradicional cortejo, que segue da Igreja da Lapinha, no Barbalho para o Pelourinho, agora no início da manhã. Por volta das 11h terá um encontro com a militância no estádio da Fonte Nova.
Reproduzimos abaixo parte do artigo escrito pelo militante e historiador Jean Montezuma sobre a importância dessa data, publicado no EOL em 2021.
‐–‐—-
“Há 198 anos o sol nascia brilhando mais forte, era 02 de julho de 1823, e a cidade de Salvador amanhecia livre. Quando as tropas brasileiras chegaram em marcha, o derrotado exército de ocupação português já havia fugido pelo Atlântico, rumo ao velho continente para lamber suas feridas em terras lusitanas. Quase 10 meses após o grito do Ipiranga proclamado por D. Pedro, enfim Portugal abandonava suas pretensões de manter o controle metropolitano sobre o Brasil.
É conveniente para uma visão tradicionalista e conservadora reproduzir o processo da independência do Brasil com uma rica trama palaciana, um jogo de xadrez no qual somente os “bem-nascidos” e ilustrados tomaram parte. Nada mais falso, não haveria independência do país que viria a se constituir como Brasil, sem que uma verdadeira guerra de independência ocorresse na Bahia, em Pernambuco e outras regiões do nordeste.
A Independência do Brasil na Bahia, com suas diversas batalhas, teve como protagonista uma geração de heróis e heroínas que vieram de baixo, que não tinham nomes pomposos, nem linhagem, brasões e sangue azul. Ao invés de Leopoldinas, tivemos Maria Felipa e Maria Quitéria. A primeira, negra escravizada, organizou outras mulheres iguais a ela para evitar que os portugueses tomassem a Ilha de Itaparica. A segunda, rebelou-se contra os paradigmas que impediam o ingresso de mulheres nas tropas. Disfarçada de homem, ingressou no Exército dos Periquitos. Aliás, este batalhão de voluntários foi criado e comandado pelo avô do poeta Castro Alves, Coronel José Antônio da Silva Castro, e recebeu o curioso nome de “periquitos” por causa do tom verde das suas fardas.
Sob o julgo do general português Madeira de Mello, o povo de Salvador resistia como podia. A Abadessa Joana Angélica sacrificou a própria vida, para evitar que as tropas portuguesas invadissem o Convento da Lapa e prendessem rebeldes que lá buscaram abrigo. Grupos de capoeiras, formados por negros libertos ou não, enfrentavam os soldados portugueses nas ruas e vielas da cidade. Enquanto os ricos fugiam ou faziam acordos, era o povo “desclassificado” quem resistia como podia.
Às margens da capital, o exército libertador avançava em sua marcha vinda das cidades do Recôncavo em direção a Salvador. Nessa marcha contra a tirania, a batalha decisiva da Independência do Brasil foi travada bem longe do riacho do Ipiranga, e ocorreu na madrugada do 8 de novembro de 1822, em Pirajá. O embate em Pirajá envolveu milhares de soldados e é considerado um dos mais importantes ocorridos no continente americano durante o século XIX. O triunfo na batalha de Pirajá foi decisivo, com a vitória brasileira o cerco a Madeira de Mello estava consolidado, e o assalto para libertar Salvador tornou-se possível.”
Salve ao 02 de julho!
Salve as heroínas e heróis da nossa resistência!
Fora Bolsonaro genocida!
Comentários