“Vamos juntas que tem muito pra fazer
Sem fingir que dá, que dói, é só dizer
Somos duas, nós e todas nós
Vamos levantar o sol”
(Língua Solta – Elza Soares)
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A pandemia de COVID e uma epidemia de violência
O 8 de março é conhecido como o dia das mulheres. Assim como toda e qualquer data que busca marcar a história, o seu significado é disputado permanentemente. Disputamos espaço com ideias que reafirmam os lugares das mulheres sob o olhar do machismo e tentam usar a data como mais um dia voltado para o consumo e nos entregar flores e bombons. Contra esse conservadorismo afirmamos um 8 de março identificado com a história de luta e mudança social que as mulheres fizeram e fazem parte. É indiscutível o papel histórico das mulheres na luta por direitos, contra a violência e em mudanças socias, à exemplo do Chile em 2019-21, a organização das mulheres pelo direito ao aborto no movimento “Nem uma a menos” na Argentina, e a recente vitória das Colombianas pelo direito ao aborto nesses primeiros meses de 2022.
No Brasil, o #Elenão foi um marco de manifestações que colocaram mulheres na rua contra o projeto que estamos vendo ser implementado desde a chegada do governo Bolsonaro ao poder. Em meio as disputas de ideias, temos nos movimentos sociais um necessário espaço de organização.
O 8 de março tem sido, nos últimos anos, a data que marca o inicio de jornadas de lutas para as mulheres. Ou melhor, abertura de jornada de lutas de todos os lutadores que tem cerrado fileiras contra os desmontes dos direitos e que veem o aumento da fome, o genocídio da população negra e indígena, o aumento do feminicídio, a perda de condições básicas como acesso a água e energia e gás, após esse desgoverno contra a vida. Essa política escancarou ainda mais com a pandemia.
Não é verdade que esses problemas iniciaram com a pandemia, eles já existiam na vida das grande maiorias das mulheres, mas a pandemia desnudou, aprofundou a pobreza e expôs a maior carga horaria de trabalho que as mulheres carregam na esfera da reprodução social. Em palavras mais simples, a pandemia reafirmou, para não deixar dúvidas, como as mulheres além do trabalho fora de casa, são responsabilizadas pelo cuidado da família, sua dupla jornada de trabalho.
Em meio a esta crise social que nos faz lembrar do “planeta fome” do qual emergiu Elza Soares, a maior parte da população negra e parda estão em situação de vulnerabilidade social. Aonde temos as regiões norte e nordeste concentrando a maior parte da face feminina da pobreza de pretas e pardas do Brasil, e um governo que fala em defesa da família, mas na verdade pratica uma política que aprofunda a pobreza e não tem nenhuma responsabilidade em defesa da vida.
O Negacionismo é uma das características da política desse governo responsável por divulgar informações falsas, organizar pessoas que atuam para que crianças não se vacinem, não investir em políticas de acolhimento a vítimas de violência de gênero, impulsionar políticas e perseguição contra mulheres, como o caso da menina de 10 anos de idade que foi vítima de estupro e teve sair do seu estado para conseguir acesso ao aborto no estado de Pernambuco e mesmo assim, ainda foi vítima de perseguição na entrada do hospital. Esse negacionismo mata, sobretudo as mulheres, e é uma das características desse governo conservador.
Sob esse governo da morte, o porte de arma triplicou, ao passo que o anuário de violência mostra que 51% das vítimas de feminicídio foram por arma de fogo e dessa 51%, 70 % são mulheres negras². Como no livro Grandes sertões veredas, “Viver é muito perigoso”. Para mulheres, negros, LGBTQI’s e trabalhadores organizados, viver tem sido mais perigoso sob um governo misógino, racista e anti-povo.
Outra face da violência que se escancara são as ameaças que parlamentares mulheres, negras e LGBTQI’s vem sofrendo. Há 4 anos buscamos saber que mandou matar Marielle Franco, parlamentar negra, lutadora de causais sociais. No mesmo Brasil, o Dep. Estadual Arthur do Val tem áudios vazados com forte teor machistas que objetifica e faz alusão a violência sexual de mulheres em situação de extrema vulnerabilidade na Ucrânia, em meio a uma Guerra. A Guerra é um espaço de suspensão de moral e de desumanidade, aonde a prática de escravidão sexual é bem conhecida na história. Fazer apologia a esse tipo de prática é de um nível profundo de violência. Esses elementos escancaram a desigualdade e estrutura machista/misógina que instituições se enquadram. Não podemos exigir menos que o fim de seu mandato parlamentar e que responda por crime.
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Um 2022 possível – Vamos sentir o calor da rua
Chegamos ao 2022 com uma tarefa de unificar forças para organizar a derrota do governo Bolsonaro. Sua derrota eleitoral não será um ato final, mas parte fundamental do acúmulo de forças necessário para varrer do mapa a política bolsonarista, que hoje não se limita ao Bolsonaro. A disputa desse 8 de março passa por unificar forças para combater a política conservadora. Nós acreditamos que o inimigo número 1 das mulheres é o governo Bolsonaro. O Feminismo que defendemos precisa apresentar um programa que se paute pela defesa dos direitos das mulheres, o combate a violência de gênero/racista, combate a fome e a situação de vulnerabilidade de gênero, unificando-se com o conjunto da classe para fortalecer a derrubada do Bolsonaro.
Nesse sentido, perante o fato da candidatura Lula se apresentar, aos olhos de milhões de mulheres e homens, como o nome possível para derrotar o Bolsonaro e compreendendo que esta trincheira de luta é um espaço importante, precisamos exigir que um governo que se coloque em oposição ao Bolsonaro, se coloque em oposição as políticas por ele implementa. Romper com as políticas de ódio que o ministério da mulher, comandado por Damares, que hoje orienta a políticas anti-gênero, construção de restaurantes públicos com preços populares para coletivização do trabalho domestico e diminuição da fome, equiparação de licença maternidade/paternidade, combate a violência com um debate de gênero nas escolas, investimento em políticas de assistência a vítima de violência, legalização do aborto e garantia de acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva pelo SUS, revogação da Reforma Trabalhista e de todo o legado do golpe, desmilitarização da PM.
Por isso que as mulheres precisam disputar a construção de um vice que nãos esteja alinhado com políticas contra as mulheres. Alckimin, que vem sendo cotado como uma possibilidade cada vez mais real, representa o oposto das necessidades das mulheres. Os argumentos giram em torno da necessidade de uma aliança progressiva que combata o bolsonarismo, o questionamento se dar em como pode ser uma aliança progressiva com um homem que participou diretamente do golpe de 2016 que abriu espaço para a situação que nos encontramos hoje? Como uma chapa que possui um vice acostumado a reprimir greves e utilizar de força ostensiva para desabrigar famílias, como o a ocupação do Pinherinho, pode ser esse aliado?
O 8 de março é o dia internacional de luta das mulheres, que lutam por direitos históricos e pela vida. Assim como nossas companheiras latinas que tiveram vitorias significativas na Colômbia, Argentina, Chile e muitas outras, marcharemos nesse 8 de março, pela vida das mulheres, por um Brasil sem machismo, racismo e fome. Em apoio a mulheres Ucranianas que vivem situações desumanas e violentas, faremos parte do Grito Global das transfronteiriças, por quê acreditamos que a luta pela liberdade e contra violência é tarefa internacional das mulheres trabalhadoras.
“Eu não vou sucumbir
Avisa na hora de tremer o chão
Amiga, é agora, segura minha mão”
(Libertação – Elza Soares)
#HuelgaaLaGuerra #StrikeTheWar
#8MGritoGlobal #8MGlobalScream
Fontes:
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