No Brasil a grande mídia está fazendo mera torcida pelos EUA e pela OTAN. Salvo poucas exceções, não existe nenhuma seriedade na cobertura jornalística. Chegam a criar ciladas para entrevistados, fazendo armações. Dizem que Putin quer “Império Soviético”, estilo “Evil Empire”. Mas esta mesma imprensa que clama a OTAN como defesa do mundo livre e da democracia, cala-se quando os bombardeios são na Palestina, Yemen ou Somália. Como sempre, a Globo diz que o bonzinho é o Capitão América contra os vilões russos.
Essa hipocrisia, até por reflexo, induz parte da esquerda a supor que seja o exato inverso. Que muitas vezes termina caindo no conto de vigaristas e charlatões. No filme Apocalypse Now tem um personagem que é um jornalista que se torna um fã do Coronel Kurtz, entrando em idolatria típica de seitas. Alguns canais da esquerda tratam Putin como um grande herói redentor. Dançando euforicamente ao som do rufar dos tambores de guerra, em um frenesi delirante . Fazem piadinhas rindo dos mísseis russos, dizendo “Diga Olá para o Sr. Iskander”; como se a morte das pessoas fosse algo engraçado. A esquerda precisa tomar muito cuidado com discursos de setores que na verdade estão ligados ao fascismo, e ao rasputin Alexandr Dugin, que na França apoiam Zemmour, apoiam Trump e os Proud Boys, são anti-vacina e entusiastas da cloroquina. Não por acaso a Fox News, em especial o apresentador Tucker Carlson, tem feito uma cobertura elogiosa a Putin [1], assim como Steve Bannon. Tanto que no Brasil, Bolsonaro, depois de visitar Putin, tem feito um enorme contorcionismo, assim como a extrema direita no mundo todo [2].
Para além das torcidas, existe um debate sério a ser feito na esquerda diante do tema. Onde existem duas posições, principais, legítimas e defensáveis:
1- Apoiar a Rússia, como forma de derrotar a OTAN.
2- Ser contra a OTAN, mas também contra a invasão Russa.
Para a presente análise é necessário tratar com respeito e equilíbrio tanto uma posição quanto outra. Pois é possível defender tanto uma posição quanto outra de forma honesta, e buscando estar pautado por um programa socialista. O divisor de águas é entender qual o caráter da Rússia hoje.
O que é o Direito Internacional?
A Carta das Nações Unidas no Artigo Primeiro determina que:
“Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são:
(…)
- Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;” [3]
Mas o que seria o Direito Internacional? O Direito, dentro de um Estado nacional, é uma forma de organização do Estado, portanto da violência organizada. Tal ordem de relações sociais reflete os interesses da classe dominante. Entretanto, no Sistema Internacional de Estados as relações não ocorrem diretamente entre classes, mas entre Estados. Mesmo entre os Estados burgueses existem as nações imperialistas, existem as colônias e semi-colônias. Ainda que formalmente entre as Nações não exista tal distinção. A formalidade que existe, na Carta das Nações Unidas, reflete a correlação de forças desenhada no mundo após a 2ª Guerra Mundial.
Lênin definiu a época Imperialista como a época das guerras e revoluções. Após a 2ª Guerra Mundial houve um novo desenho da correlação de forças entre as classes no mundo. Entretanto, este desenho muda com a restauração capitalista, simbolizada pela queda do Muro de Berlim. Na década de 1990 existem as guerras dos Balcãs. No início dos anos 2000 surgem as guerras do Iraque e do Afeganistão. Pode-se dizer que a fuga dos EUA de Cabul, em agosto de 2021, tenha sido um marco dos novos tempos.
Agressão da OTAN
Toda Guerra tem uma declaração de guerra que fundamente seus argumentos e objetivos, a delimitação do que seria a “Causus Belli”. Putin elencou seus argumentos no seus discurso, que foi a declaração de guerra [4]. Seu argumento é:
“Podemos afirmar com confiança que todo o chamado bloco ocidental, formado pelos Estados Unidos à sua própria imagem e semelhança, é o próprio “império da mentira”
Nesta série, e com promessas ao nosso país de não expandir a NATO um centímetro para leste. ”
Como é normal nas lutas entre mafiosos, muitas vezes falam a verdade quando se acusam mutuamente. Nesse caso a OTAN havia prometido não avançar para o leste, mas avançou. E, de fato, caso seja instalada uma base de mísseis nucleares na Ucrânia, há um risco real para a segurança da Rússia. Portanto, efetivamente há uma provocação por parte da OTAN. A situação de guerra é provocada por uma agressão da OTAN. Em 2019 a Ucrânia aprovou uma mudança constitucional para ingressar na OTAN. Portanto, efetivamente os passos estavam sendo dados.
Derrotar e destruir completamente a OTAN é uma necessidade histórica da classe trabalhadora mundial. A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, ou NATO, em inglês) é o bloco militar comandado pelos EUA que impõe a ordem imperialista no mundo.
“Desnazificar” a Ucrânia ou negar sua existência?
Putin afirma que:
“Os principais países da NATO, para alcançar os seus próprios objetivos, apoiam em tudo os nacionalistas extremistas e neonazis na Ucrânia.
Neste aspecto cabe destacar que sim de fato o governo da Ucrânia é composto por nazistas, como o chamado “Batalhão Azov”. Não por acaso os nazistas brasileiros falavam em “Ucranizar o Brasil”. Ou Sérgio Moro que queria fazer o tal tribunal ucraniano. Entretanto, ninguém de forma honesta vai dizer que Putin está movendo o exército vermelho para salvar a revolução proletária, nem sequer que vá de fato garantir uma democracia após a invasão.
“Lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, bem como levar à justiça aqueles que cometeram numerosos e sangrentos crimes contra civis
(…) decidi conduzir uma operação militar especial.
O seu objetivo é proteger as pessoas que foram sujeitas a intimidação e genocídio pelo regime de Kiev durante oito anos. E para isso lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, bem como levar à justiça aqueles que cometeram numerosos e sangrentos crimes contra civis, incluindo cidadãos da Federação Russa.
Ao mesmo tempo, os nossos planos não incluem a ocupação de territórios ucranianos. Não vamos impor nada a ninguém pela força.”
Entretanto, esse discurso entra em contradição com o discurso de Putin de três dias antes, em 21 de fevereiro de 2022, quando na prática negou a existência e a autodeterminação da Ucrânia. Na leitura de Putin a Ucrânia seria uma mera criação artificial:
Então, vou começar com o fato de que a Ucrânia moderna foi total e completamente criada pela Rússia, mais precisamente, bolchevique, a Rússia comunista. Esse processo começou quase imediatamente após a revolução de 1917, e Lenin e seus associados o fizeram de maneira muito rude com a própria Rússia – separando, arrancando dela parte de seus próprios territórios históricos. Claro, ninguém perguntou nada para os milhões de pessoas que moravam lá.
(…)
Na verdade, como já disse, como resultado da política bolchevique, surgiu a Ucrânia soviética, que ainda hoje pode ser chamada com razão de “Ucrânia com o nome de Vladimir Ilitch Lenin”. Ele é seu autor e arquiteto.
nenhum marxista sério defendeu a opressão de um Estado burguês sobre os povos.
O tema da autodeterminação dos povos é muito importante paras os marxistas. Tendo sido objeto de grandes polêmicas entre Lenin [5] e Rosa Luxemburgo [6]. Entretanto, nenhum marxista sério defendeu a opressão de um Estado burguês sobre os povos. Lenin, sobre o tema da Ucrânia, disse, referindo-se ao fato dos ucranianos exigirem autonomia, que:
Somente o reconhecimento irrestrito desse direito permite defender uma união livre dos ucranianos e dos Grã-russos, uma associação voluntária dos dois povos em um Estado. Só o reconhecimento irrestrito deste direito pode realmente romper completa e irrevogavelmente com o maldito passado czarista, quando tudo foi feito para provocar um distanciamento mútuo dos dois povos tão próximos um do outro em língua, território, caráter e história. O maldito tsarismo fez dos grandes russos carrascos do povo ucraniano e fomentou neles o ódio por aqueles que até proibiam as crianças ucranianas de falar e estudar em sua língua nativa. [7]
Putin não pretende de nenhuma forma resgatar o leninismo, ao contrário, pretende resgatar o Czarismo. Putin é uma antítese de Lenin. Putin na verdade é tão imperialista na sua declaração de Guerra que sequer reconhece a existência da Ucrânia como outro país. Tanto que nem mesmo há uma “declaração de guerra”, mas sim uma “operação militar especial”, pois atua tal qual como se estivesse dentro do seu próprio território. Declara-se guerra quando há o reconhecimento do outro como um outro Estado independente.
Uma nova ordem mundial?
O acordo entre a Rússia e a China [8], em 4 de fevereiro de 2022, foi celebrado como o sinal dos novos tempos. A anunciação de um novo mundo “multipolar”. Primeiro que se de um lado há a OTAN e do outro um bloco Beijing/Moscou, não é “multipolar”, talvez “bipolar”. Em todo caso após a restauração do capitalismo na China, com seu “socialismo de mercado”, trata-se somente de um bloco de Estados burgueses com pretensões imperialistas contra outro bloco imperialista hegemônico. Na sua declaração Guerra Putin sinaliza para redesenhar a ordem mundial do pós-Guerra, como também rever o papel da Rússia após a queda da URSS.
Karl Kautsky havia ajudado Engels a organizar o último livro d´O Capital, de Karl Marx. Kautsky estava à frente da 2ª Internacional Socialista, na Alemanha o partido era o Social Democrata (SPD), que tinha a maior bancada de deputados em 1914. Quando então eclode a Grande Guerra Mundial. Kautsky então formula uma teoria do “Ultra-Imperialismo” (ou Superimperialismo). Lenin classificou-o como “O Renegado”. Basicamente ele defende que se apoie a Alemanha na Grande Guerra, que então não era chamada de I Guerra. A bancada de deputados do SPD votou a favor da guerra. Deve-se notar de fato na época de um lado estava o Imperialismo Britânico e o Imperialismo Francês. Do outro forma-se um bloco entre Império Alemão, Austro-Hungáro e Otomano, e tentavam incorporar a Itália no grupo. De modo que tentavam agrupar os países de capitalismo mais atrasado. Para apoiar tal grupo Kautsky argumenta que :
Mas o imperialismo tem outro lado. A tendência para a ocupação e subjugação das zonas agrárias produziu contradições entre os Estados capitalistas industrializados. O resultado que a corrida armamentista, que anteriormente era apenas uma corrida para armamentos terrestres e que se tornou uma corrida armamentista naval, tornou-se fato na profetizada Guerra Mundial. Este lado do imperialismo é, sobretudo, uma necessidade para a sobrevivência do capitalismo ou isso pode ser superado com o próprio capitalismo?
Não há nenhuma necessidade econômica para continuar a corrida armamentista após a Guerra Mundial, mesmo na perspectiva da classe capitalista, com exceção de, no máximo, certos grupos que lucrariam com determinados armamentos. Pelo contrário, a economia capitalista é seriamente ameaçada gerando contradições entre seus membros. Todo clarividente capitalista hoje tem de recorrer a seus companheiros: os capitalistas de todos os países, uni-vos! Pois, em primeiro lugar, há a crescente oposição das zonas agrárias mais desenvolvidas, o que ameaça não apenas um ou outro dos Estados imperialistas, mas todos eles juntos. Isso é verdade para a situação da Ásia Oriental e da Índia, assim como o movimento pan-islâmico no Médio Oriente e no norte da África. [9]
Aqui Kautsky praticamente faz o mesmo discurso dos que hoje defendem “um mundo multipolar”. Sendo que todos os pólos seriam imperialistas e capitalistas. Os socialistas devem defender sim um mundo socialista, não um mundo “multipolar”.
A exposição acima foi concluída antes de a Áustria surpreender-nos com o seu ultimato à Sérvia. Conflitos como o entre a Áustria e a Sérvia não surgem meramente de tendências imperialistas. No Leste Europeu, o nacionalismo ainda é uma força motriz revolucionária, e o atual conflito entre a Áustria e Sérvia, tem essas raízes bem como imperialistas também. A Áustria tentou projetar uma política imperialista, anexando a Bósnia e ameaçando incluir a Albânia em sua esfera de influência. Isto despertou a oposição nacionalista da Sérvia, que se sentiu ameaçada pela Áustria e agora é um perigo para a existência da Áustria.
A Guerra Mundial não incluiu a Áustria porque o imperialismo era uma necessidade para ela, mas porque, pela sua própria estrutura em si é ameaçada por seu próprio imperialismo. O imperialismo só poderia ser praticado por um Estado internamente homogêneo que possui zonas agrárias culturalmente diferentes. Mas neste caso, com um território nacional dividido, um Estado semi-eslavo queria praticar o imperialismo à custa de um vizinho eslavo, cuja cultura tem a mesma origem das regiões vizinhas de seu oponente. Naturalmente, esta política só pode ter conseqüências inesperadas e enormes, porque há contradições e conflitos que o imperialismo criou entre as outras grandes potências. Todas as conseqüências do amadurecimento no seio da atual Guerra Mundial ainda não viram a luz. O seu resultado ainda pode ser que as tendências imperialistas acelerem a corrida armamentista no início – nesse caso, a paz posterior será um armistício curto. [10]
O discurso de Kautsky, em 1914, para justificar o ataque da Áustria contra a Sérvia é muito semelhante ao discurso de 2022, de setores da esquerda, para justificar o ataque da Rússia contra a Ucrânia. Quem defende a invasão chega muito perto de defender um “espaço vital” russo. Algo parecido com o que os alemães chamaram de “Lebensraum”. Rosa Luxemburgo respondeu ao tema da seguinte forma:
- Ao votar a favor do orçamento de guerra e proclamar a unidade nacional, as direções oficiais dos partidos socialistas da Alemanha, França e Inglaterra (com exceção do Independent Labour Party) fortaleceram o imperialismo, induziram as massas populares a resignarem-se à miséria e aos horrores da guerra, contribuíram para desencadear o frenesi imperialista sem limites, o prolongamento do massacre e o aumento do número de vítimas, e assumiram sua parte de responsabilidade pela guerra e suas conseqüências. [11]
Lenin foi igualmente duro no enfrentamento a tal capitulação oportunista. Não se pode dizer que Lenin foi contra a guerra interimperialista poder ser um mero pacifista vulgar. O cálculo de Lenin [12] sempre foi muito pragmático, e quando necessário defendeu as guerras que trouxessem vitórias para a classe trabalhadora.
Só neste sentido os socialistas reconheciam e reconhecem hoje o carácter legítimo progressista e justo da «defesa da pátria» ou da guerra «defensiva». Por exemplo, se amanhã Marrocos declarasse guerra à França, a Índia à Inglaterra, a Pérsia ou a China à Rússia, etc., essas seriam guerras «justas», «defensivas», independentemente de quem primeiro atacasse, e qualquer socialista desejaria a vitória dos Estados oprimidos, dependentes, sem plenos direitos, contra as «grandes» potências opressoras, escravistas, espoliadoras. Mas imaginemos que um escravista que possui 100 escravos faz guerra a um escravista que possui 200 escravos por uma partilha mais «justa» dos escravos. É evidente que a aplicação a semelhante caso do conceito de guerra «defensiva» ou de «defesa da pátria» seria historicamente falsa e na prática uma simples mistificação do povo simples, da pequena burguesia, das pessoas ignorantes pelos escravistas. É precisamente assim que a actual burguesia, imperialista, mistifica os povos por meio da ideologia «nacional» e do conceito de defesa da pátria na presente guerra entre os escravistas para consolidar e reforçar a escravidão. [13]
Portanto, é importante destacar que não importa que deu início à guerra. Mas o critério fundamental é se a guerra é entre um Estado oprimido contra uma potência imperialista, sempre a classe trabalhadora deverá se colocar do lado da nação oprimida. Qualquer conflito entre Estados Operários e nações capitalistas sempre a classe deve se colocar na defesa dos Estados Operários, conforme desenvolve Trotsky em Defesa do Marxismo. Mas quando existe um conflito entre duas potências imperialistas, então neste caso os socialistas devem ser contra a guerra.
O tema aqui na essência é identificar se a Rússia é um Estado oprimido, que enfrenta a OTAN. Ou, por outro lado, se a Rússia estaria fazendo uma jogada ensaiada com a China, e ambas comporiam uma forma de bloco imperialista. Estamos em um momento de virada de forças. Poderíamos apoiar belicamente a Rússia, mesmo que tenha iniciado o conflito, mesmo que seu governante seja um desgraçado reacionário. Na política pode-se, taticamente, para enfrentar o imperialismo, fazer unidade de ação militar até mesmo com terríveis ditadores, como foi Galtieri contra a Inglaterra nas Malvinas, ou Saddam contra os EUA. Isso tem um elemento tático. Pode-se debater na esquerda o papel que Putin e a Rússia podem desempenhar diante do imperialismo.
Papel da Infantaria
Existe uma ideia de que as guerras se fazem hoje sem soldados e apenas com o uso de armas pesadas e de alto poder destrutivo. Isto é um profundo engano. Os EUA já tinham sido derrotados no Vietnã, em 1975. Na guerra do Iraque, e sua posterior ocupação, em 2003, ficou exposta a debilidade da infantaria dos EUA. Destaca-se as batalhas de Fallujah. A queda dos EUA no Afeganistão mostram a absoluta incapacidade do seu exército de ser o que se pretende ser o “Xerife do mundo”. Para tanto vale destacar o que aponta Valério Arcary:
“[…] a capacidade de cada Estado em manter a sua independência e o controle de suas áreas de influência. Ou seja, sua força militar de dissuasão, que depende não só do domínio da técnica militar ou da qualidade das suas Forças Armadas, mas do maior ou menor grau de coesão social da sociedade, portanto, da capacidade política do Estado de convencer a maioria do povo, se for incontornável, da necessidade da guerra;” [14]
Carl von Clausewitz em seu livro “Da Guerra” destaca o relevante papel da infantaria na tomada de regiões. Mesmo com o desenvolvimento tecnológico e armas de destruição em massa, ainda assim a coesão da infantaria é algo indispensável para vencer uma guerra. O uso do recurso da destruição significa de um lado a destruição da infraestrutura do país que se pretende ocupar.
O risco nuclear
Este artigo foi escrito no transcurso dos fatos, portanto, assim como a foto de um carro em movimento, pode haver alguma imprecisão dos fatos presentes. Putin já fez ameaças de uso de armas nucleares. Existe uma acusação de uso de armas termobárica, a chamada “bomba de vácuo”.
Nahuel Moreno no livro “Conversando com Moreno” [15] responde ao tema da possibilidade de uma Guerra Nuclear. Moreno traça a distinção entre as burocracias dos então Estados Operários e as potências Imperialistas. Na essência, Moreno conclui que as burocracias não dariam início a um conflito nuclear. Indicando que a necessidade de expansão permanente do capitalismo poderia conduzir a uma eventual guerra nuclear, iniciada pelos capitalistas. Não por acaso as únicas bombas nucleares usadas contra população civil na História da Humanidade foram usadas pelos EUA.
Ocorre que hoje não existem mais Estados Operários. Todos os lados envolvidos no conflito são potências capitalistas. Portanto, é possível que um dos dois lados, por desespero ou erro de cálculo, dê início a uma guerra nuclear.
O tema de ser uma potência nuclear é outro aspecto que deve ser observado na Rússia. Quando era um Estado Operário não há o que se falar de “Império Soviético”, isso é uma falsificação histórica descarada. Pois não havia exploração de lucro dentro da URSS. Mas na Rússia capitalista, mesmo que não seja uma da primeiras potências econômicas do globo, o fato de ser uma das principais potências militares lhe coloca no patamar de uma potência imperialista. Principalmente caso se confirme a hipótese de que a presente guerra é uma jogada combinada com a China.
Conclusões
Portanto, a principal polêmica que resta é se a Rússia na presente guerra tem um papel imperialista ou de nação oprimida. Há um potencial de a Guerra na Ucrânia definir os rumos do mundo neste século. Há em curso uma mudança de correlação de forças entre as potências imperialistas. Portanto, ter uma posição muito bem definida é algo essencial para que os socialistas se coloquem do lado certo da história. Estou muito convencido de que trate-se de um conflito inter-imperialista, e portanto devemos ser contra a guerra. Na hipótese de o bloco China-Rússia redesenhar a ordem mundial nada indica que isto significará uma melhoria na condição de vida da classe trabalhadora. Por isso essa é uma guerra em que todos são vilões e a classe trabalhadora deve combater a Guerra.
[2] https://www.nytimes.com/2022/02/26/world/europe/russia-putin-matteo-salvini-marine-le-pen.html
[3] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm
[5] https://www.marxists.org/portugues/lenin/1914/auto/cap01.htm
[6] https://www.marxists.org/portugues/luxemburgo/1909/mes/autonomia.htm
[7] https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1917/jun/28.htm
[8] https://www.dw.com/pt-br/china-e-r%C3%BAssia-se-unem-contra-expans%C3%A3o-da-otan/a-60664663
[9] https://www.marxists.org/portugues/kautsky/1914/09/11-1.htm
[10] https://www.marxists.org/portugues/kautsky/1914/09/11-1.htm
[11] https://www.marxists.org/portugues/luxemburgo/1915/mes/90.htm
[12] https://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/guerra/index.html
[13] https://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/guerra/01.html#c103
Comentários