Na madrugada do último dia 24/02, várias regiões da Ucrânia começaram a ser bombardeadas pelas forças militares da Rússia, no começo de um processo de agressão cujos desdobramentos ainda estão em aberto. Durante a elaboração deste artigo, regiões como a capital, Kiev, eram acossadas pela aviação e pelas tropas russas, enquanto a população civil desesperada buscava refúgio em túneis da rede de metrô ou em países vizinhos.
Como resposta, a UE e os EUA já começaram um processo de retaliações à Rússia, através de medidas que buscam incidir de forma sensível em seu sistema financeiro e inibir seu projeto em torno de um gasoduto russo-alemão no mar báltico, cujas consequências, invariavelmente, serão sentidas na pele pelo povo russo. Nesse tocante, não poucas notícias dão conta de que, só no primeiro dia da ofensiva russa sobre a Ucrânia, quase 2000 pessoas já foram presas pelas polícias de Putin no contexto de protestos contra o ataque.
Contudo e a bem da verdade, a agressão à Ucrânia está longe de ser o lampejo de um raio solitário em um imenso céu azul. Na verdade trata-se do desdobramento de quase uma década de tensões na região, na qual a indefectível Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (ou NATO, por sua sigla em inglês para North Atlantic Treaty Organization) é um dos atores diretamente envolvidos, para a qual vale-se da narrativa demagógica de defender a soberania ucraniana, o que não passa de uma cínica manobra de propaganda, afinal, esses mesmos países nunca respeitaram a soberania de Cuba ou Venezuela, por exemplo.
Na verdade, o real objetivo por trás dessa pomposa retórica é reduzir a Ucrânia a um mero protetorado militar, em outras palavras, torná-la uma plataforma para instalação de mísseis e canhões, com a vantagem da perigosíssima linha fronteiriça compartilhada com a Rússia. Algo similar ao que houve com Kosovo, no contexto da guerra da Sérvia em 1999.
73 anos de ameaça aos povos de todo o mundo
Desde 1949 a OTAN parece seguir operando no mundo atual com aquela mesma doutrina com a qual animava sua sanha bélica sete décadas atrás, professada de forma não pouco arrogante pelo seu secretário geral entre os anos 1952 e 1957, Hastings Ismay: “to keep Americans in, the Russians out and the Germans down”, ou seja, preservar a supremacia imperial americana em todo o mundo, relegar a Rússia a um papel de quinta importância e manter de joelhos o imperialismo alemão.
Ela surgiu a partir de um pacto assinado em Washington por 12 países (Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal e Reino Unido) no contexto da chamada Guerra Fria, travada contra a então União Soviética, que também se apoiava em um tratado militar batizado de Pacto de Varsóvia.
A cada um de seus membros ela concede “garantias mútuas de não agressão” e prevê “a cooperação na área de segurança, bem como ajuda mútua no caso de uma agressão por terceiros países, o que significa a coletivização da defesa”. Entretanto, ela não representa exatamente um destacamento militar multinacional, mas de fato uma aliança militar internacional, dita defensiva, entre seus países signatários. O fator essencial do pacto está consubstanciado em seu Artigo 5º, que estabelece que, como dispositivo de defesa mútua, qualquer ataque a um dos membros individuais signatários do tratado será considerado um ataque a todos os membros signatários do tratado:
“As Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51.° da Carta das Nações Unidas, prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com as restantes Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança na região do Atlântico Norte”.
Trata-se, portanto, de um cartel militar imperialista.
A OTAN depois da Guerra Fria
Em tese, com a dissolução da URSS em 1991, a prevalência do tratado militar estaria esvaziada de sentido, já que junto com a dissolução da URSS ficou dissolvido o Pacto de Varsóvia, seu concorrente direto no plano geopolítico-militar. Afinal, só se mantém um pacto dessa envergadura, entre várias nações, se há um inimigo a combater. Pelo menos foi esse o acordo estabelecido em conversações entre Bush (o pai) e Gorbachev.
Contudo não foi isso o que ocorreu. A plena incorporação dos antigos estados operários no capitalismo mundial foi seguida da intensificação da hegemonia norte-americana sobre o planeta. E a OTAN reemergiu na nova correlação de forças mundial, que então se desenhava, como um instrumento não mais de pretensa defesa militar contra uma potência inimiga, mas como um instrumento inimigo de todas as demais nações que ousarem ensaiar qualquer gesto que seja visto como ameaça para o imperialismo.
A sanha expansionista em direção ao Leste Europeu que se acendeu no então governo Bill Clinton, diga-se de passagem, avalizada pelos congressistas, foi criticada por muitas autoridades norte-americanas, como o ex-assessor Theodore Sorensen, que considerou “difícil de imaginar uma ação tão provocativa”, além do embaixador George Kennan, que a considerou um “erro estratégico de proporções potencialmente épicas”.
Mesmo assim, ao longo dos anos 90 e 2000, a OTAN deu sequência ao processo de alargamento de sua composição incorporando países que no passado pertenceram ao bloco socialista (embora não necessariamente também pertencentes ao Pacto de Varsóvia, nos caso das nações da antiga Iugoslávia), fortalecendo seu domínio no Leste Europeu. De fato, nas últimas três décadas a OTAN experimentou 4 ondas de expansão, todas elas naquela região: em 1999, foram incorporadas a Hungria, a República Checa e a Polônia; em 2004 aderiram Bulgária, Romênia, Eslovênia, Eslováquia, e as três nações do mar Báltico, ou seja, Estônia, Letônia e Lituânia; Croácia e Albânia assinaram o tratado em 2009; entre 2017 e 2020 foi a vez de Montenegro e Macedônia do Norte aderirem [1].
Assim, como afirmou o historiador baiano, Moniz Bandeira, em seu livro A desordem mundial:
A OTAN, na realidade, estava a converter-se em um instrumento econômico e político, com o fito de alinhar e subordinar os países da Europa aos interesses de Washington e de seus maiores bancos (Chase Manhattan Bank, JPMorgan, Morgan Stanley, National City Bank of New York, Bank of America, Wells Fargo). Era uma forma de alargar o mercado para a indústria bélica, aumentar o financiamento dos bancos com a venda de armamento aos novos membros da Aliança Atlântica, assim como de assegurar os interesses econômicos e geopolíticos dos Estados Unidos, fora do âmbito original do tratado de 1949.
Sérvia e Afeganistão
Ao longo das décadas seguintes, a OTAN continuou não só a incorporar novas nações, mas também a intervir em vários eventos. O processo de desintegração da Iugoslávia e a invasão ao Afeganistão foram dois dos principais eventos desse período.
Com a morte de Tito, a Iugoslávia entrou em uma espiral caótica de decomposição, marcada por conflitos étnicos e territoriais ao longo dos anos 90. No centro das tensões, estava a Sérvia, governada por Slobodan Milošević, antigo burocrata comunista Sérvio, que buscava exercer o domínio sobre as demais nações e atuou como um verdadeiro açougueiro contra os que se opusessem ao seu projeto nacionalista e burocrático.
No marco daquele conflito formou-se o ELK – Exército de Libertação do Kosovo, uma guerrilha composta por albaneses que lutava pela separação do território de Kosovo da Sérvia e que resistia contra Milošević. Em março de 1999, Javier Solana, então secretário geral da OTAN, deu a ordem para iniciar a intervenção no conflito a pretexto de proteger os kosovares de Milošević e de atender a reivindicação de libertação nacional, mergulhando a Sérvia em um banho de sangue, fumaça e pólvora durante 78 dias: “Foram destruídas as indústrias químicas e de utensílios domésticos. A fábrica de automóveis Zastava foi bombardeada 4 vezes, com o objetivo de tornar impossível sua reconstrução. Foram destruídas 200 escolas, assim como quase todas as pontes sobre o rio Danúbio”.
Além das perdas materiais, cuja reconstrução demorou muitos anos, o bombardeio “humanitário” da OTAN levou quase 2000 vidas, incluindo 400 crianças, além de 10.000 feridos, entre militares e civis. Ao fim e ao cabo, Kosovo conseguiu sua reivindicação de separar-se da Sérvia, mas acabou virando um protetorado vassalar da OTAN, logo que esta anunciou que “a sua permanência na região deverá estender-se, no mínimo, ‘por 30 anos’, o que significa que os Balcãs ficariam reduzidos a um estatuto colonial”. Ou seja, depois dos bombardeios sobre a Sérvia, a OTAN seguiu na região como tropa de ocupação.
Muitos intelectuais, como Noam Chomsky, condenaram o ataque na Sérvia. Mas os principais protestos vieram dos sindicatos classistas kosovares e sérvios:
“Em 1° de julho de 1999, representantes dos sindicatos da Sérvia e de Kosovo se encontram no Congresso da Confederação Europeia de Sindicatos. Esses trabalhadores observaram: ‘o drama da Iugoslávia vem do fato que nos tiraram a condição de trabalhadores, para que ficássemos marcados pela divisão étnica e religiosa.’ Os mineiros de Trepca têm consciência do que significa a ocupação do país. Em 2000 já afirmavam: ‘A Kfor francesa [força de ocupação da OTAN] ocupa nossas minas e as fábricas nas quais produzimos o metal, e se nega a nos deixar entrar. Nos últimos anos, nós mineiros perdemos quase tudo o que tínhamos ganhado com nosso trabalho’”.
Em 2001 foi a vez do Afeganistão experimentar o dissabor das bombas da OTAN. Em 11 de setembro daquele ano, uma série de atentados realizados nos EUA foram atribuídos à Al Qaeda, uma rede fundamentalista liderada pelo bilionário saudita, Osama Bin Laden, que também era acusado de apoiar o Talibã, facção muçulmana que governava o Afeganistão e que estaria abrigando-o.
Começava aí uma campanha imperialista de histeria contra o “terrorismo mundial”, que na verdade escondia a cobiça colonial pelo gás e petróleo afegãos e pelo controle dos oleodutos do país, afinal, a localização do Afeganistão, entre a Ásia Central e o Oriente Médio, é chave do ponto de vista comercial. No dia seguinte, a OTAN acionou pela primeira vez seu famigerado Artigo 5°. Não muitas semanas depois o então presidente Bush anunciou a invasão ao país asiático, de onde só sairia 18 anos depois, praticamente devolvendo o poder ao Talibã. Ao longo de todo esse período, foram contabilizadas mais de 174.000 mortes, entre civis, membros das forças de segurança afegãs e soldados ligados ao Talibã, além daquelas mortes causadas pelos efeitos colaterais da própria guerra, como destruição da infra estrutura do país, contaminação poços de água, etc.
Ucrânia: entre o martelo e a bigorna
Em 2013, o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, decidiu rejeitar um acordo com a UE, que vinha sendo discutido há alguns meses e, no lugar, resolveu contrair uma série de empréstimos oferecidos pela Rússia. Anos antes, Yanukovich havia firmado com o então presidente russo, Dmitri Medvedev, um acordo de renovação do arrendamento da base naval de Sebastopol, na Criméia, então sob controle administrativo da Ucrânia, com a contrapartida de investimentos russos na região onde se situa a base naval.
Foi a gota d’água para que se abrisse uma onda de instabilidade política em toda a Ucrânia. Nos dias seguintes, a partir do mês de novembro, o país foi tomado por manifestações que muito rapidamente entraram em uma dinâmica de radicalização. Os enormes atos que convergiam para a praça Maidan, em Kiev, traziam consigo simbologias e fraseologias carregadas de ultranacionalismo, xenofobia anti-russa e disposição pelo alinhamento com a UE-OTAN. Milícias neofascistas armadas com pedras, paus, correntes, barras de aço, facas, coquetéis molotov e todo tipo de armas de fogo se enfrentaram violentamente com a polícia e ocuparam prédios públicos, dando o tom das mobilizações.
No marco desse golpe contrarrevolucionário, antigas figuras ultranacioanlistas ligadas à colaboração pró-nazista e anti-soviética na Ucrânia foram reabilitadas. Embora não seja a única, a principal delas é Stepan Bandera, agitador anti-semita e anti-comunista, inspirador de vários grupos de extrema direita no país, cuja imagem estampou cartazes nas marchas e que, mais tarde, teve sua memória homenageada pelo estado, através de títulos e monumentos.
Assim como grupos nazistas, também proliferaram no país inúmeras ONGs e Think Tanks ligados a mega especuladores internacionais como George Soros (foto). Ao mesmo tempo, no púlpito da praça Maidan, permanentemente ocupada pelos manifestantes, não poucas figuras ligadas ao governo norte-americano [2], como o senador por Connecticut, Chris Murphy, discursaram e foram ovacionados: “Voltaremos a esta praça, para celebrar com vocês uma Ucrânia que fica com a Europa e com os EUA”.
Finalmente, com o país ingovernável, em fevereiro de 2014 Yanukovich abandonou o cargo e buscou refúgio na Rússia. Putin, logo em seguida, percebendo a possibilidade de perder o controle sobre a península da Crimeia, tomou-a da Ucrânia, legitimando este movimento através de um referendo no qual a maioria da população russa da península votou em peso pela reincorporação à Rússia. No mês seguinte, na região carbonífera do Donbass, um movimento de oposição ao governo de Kiev culminou em maio na formação das mini-repúblicas pró-russas de Donetsk e Lugansk. Na prática, oficializou-se aí o começo da guerra civil entre as duas mini-repúblicas, apoiadas pela Rússia, contra o restante da Ucrânia, apoiada pela UE e pela OTAN.
Em outras cidades ao Leste, onde a maioria da população é etnicamente russa, as tensões chegaram ao ápice, quando, em maio de 2014, 44 militantes anti-golpistas acabaram encurralados e incendiados dentro de um prédio sindical, depois deste ter sido atacada com coquetéis molotov lançados por militantes pró-Maidan. O massacre de Odessa, como esse evento ficou conhecido, foi celebrado pelos bandos nazistas ucranianos como um “momento de orgulho nacional”.
Também nesse marco, em 2015 tiveram sua legalidade oficialmente cassada o Partido Comunista da Ucrânia, o Partido Comunista e o Partido Comunista dos Trabalhadores e Camponeses da Ucrânia, medida que foi acompanhada da destruição física de suas sedes, expulsão de muitos de seus dirigentes, além de perseguição, estupro e tortura a militantes de esquerda. Ao mesmo tempo, as estátuas de Lênin foram removidas de toda a Ucrânia, tanto pelo seu simbolismo político como pela sua origem russa.
Consolidado o triunfo da contrarrevolução, em março de 2015 foram realizadas novas eleições e Petro Poroshenko foi eleito, um bilionário com atuação em vários ramos da economia e dono de um dos vários canais de TV que apoiaram abertamente o putsch de 2013-14. Na sequência, a própria UE não fez muita cerimônia e correu para estabelecer acordos comerciais com o novo governo advindo do golpe; o país voltou a receber vultosos subsídios da UE e dos EUA; e os novos líderes foram recebidos em vários países. Uma das principais medidas de Poroshenko foi justamente retomar as negociações com a UE e a OTAN, continuadas pelo seu sucessor e atual presidente, Volodymyr Zelensky, eleito em 2019.
Essa longa sequência de eventos, todos eles umbilicalmente unidos entre si, sem buscar fornecer qualquer legitimidade para a agressão de Putin, evidenciam que não estamos diante de um fato surgido do acaso, pois já há uma guerra em curso há quase uma década, dentro da Ucrânia, cuja raiz está no golpe instigado pelos países da OTAN. Portanto, se é verdade que Putin é objetivamente o iniciador da agressão militar atualmente em curso, que não restem dúvidas de que a OTAN, a pretexto de “proteger” a Ucrânia e de “defender” sua soberania contra a Rússia, forçou a barra o quanto pôde para se chegar a atual situação, desde que tem buscado incorporá-la em seu tratado.
Ao fim e ao cabo, sob o controle de gangues nazistas e oligarcas vinculados ao bloco UE-EUA que atuam como sustentáculo do atual presidente, Volodimir Zelesnky, a quem tão bem cabe o vexatório papel de títere e idiota útil, a Ucrânia acabou ficando entre a bigorna da OTAN e o martelo da Rússia.
É anti-imperialista e antifascista a luta de Putin na Ucrânia?
Nem por um segundo Putin pode ser confundido com um anti-imperialista, pois foi justamente a ele que coube continuar o trabalho de restaurar o capitalismo na Rússia, depois de Boris Yeltsin. Seu enfrentamento circunstancial contra o imperialismo euro-americano se dá tão somente em razão de sua sobrevivência política, bem como pela sua necessidade de garantir a continuidade de um governo títere na Ucrânia no lugar de Zelensky, ainda mais alinhado e subserviente do que foi o governo de Yanukovich, mas nunca por convicções revolucionárias.
Para enfrentar o imperialismo de forma consequente, seria necessário exortar as massas russas, ucranianas e de todo o Leste europeu contra a presença nociva da OTAN na região. Neste marco, assim como Lênin, teria que se colocar ao lado do povo ucraniano e em defesa de sua soberania, em vez de agredi-lo militarmente, o que daria um enorme impulso para que o povo ucraniano se desfizesse de Zelensky e rasgasse todos os tratados de intenção com a OTAN. Tarefas que certamente Putin nem remotamente cogitaria em razão da natureza burguesa e reacionária de seu governo.
A “desnazificação” da Ucrânia, traçada como um dos objetivos da invasão, é igualmente falaciosa, porque Putin, além de ser um líder de extrema-direita, cujo governo é movido por um apanhado de ideologias nacionalistas reacionárias grão-russas [3], também se serve de não poucos nazistas entre seus apoiadores, sobretudo dos que atuam na defesa das mini-repúblicas do Donbass, contra os nazistas ucranianos [4]. Na verdade, o mais provável é que cedo ou tarde o tiro saia pela culatra, e o resultado dessa agressão criminosa contra a Ucrânia, em vez de enfraquecer a direita pró-Maidan e “desnazificar” o país, acabe por jogar a população civil local no colo dos ultranacionalistas russofóbicos e de provocadores aventureiros, como o próprio Zelenski, demagogicamente homenageado pela mídia e por líderes europeus como um “herói”.
É do movimento de massas de todo o mundo e da esquerda a tarefa de acabar com o imperialismo e o fascismo
Se está fora de questão que Putin deve ser considerado como inimigo dos povos oprimidos, da classe operária e dos socialistas de todo o mundo, deve nos restar ainda menos dúvidas de que o maior perigo militar para o mundo contemporâneo é a OTAN, esse instrumento bárbaro dos imperialismos norte-americano e europeu, consórcio belicista multinacional e relíquia sinistra ainda não extinta.
São os países da OTAN que sustentam centenas de bases militares, não só no Leste Europeu, mas ao redor do Irã, no Magreb, no Japão e na Coréia do Sul, além de promoverem dezenas de golpes, como o próprio Euromaidan e o golpe de 2016, no Brasil. Sua onda expansionista rumo ao Leste Europeu não é uma ameaça somente ao governo Putin, mas uma ameaça à classe operária russa e de toda a região. Mas como um instrumento das burguesias, ela não pode simplesmente abrir mão de sua expansão por um gesto de boa vontade ou um lampejo de sensatez, ela precisa ser parada e o tratado deve ser desmantelado.
O justo movimento anti-guerra que ao longo dos últimos dias vem tomando as ruas de muitas capitais europeias, como Berlim, Londres, Atenas, Tbilisi etc, pode ser a semente de um novo internacionalismo e de um novo anti-imperialismo para essa década. Só esse movimento poderá forçar um recuo de Putin, criando laços com o povo russo, e, junto a isso, impor aos países membros a dissolução da OTAN. Só um um verdadeiro internacionalismo, que resgate o melhor da tradição dos socialistas de Zimmerwald e que empunhe de conjunto essas bandeiras, pode abrir passagem para um mundo sem guerras.
*Bruno Rodrigues é membro do Diretório Estadual do PSOL-CE e colaborador do Esquerda Online
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