Dois meses depois da expulsão de Beth Elliot da Conferência Lésbica Feminista, feministas radicais também reproduziram o mesmo discurso transfóbico na parada do Christopher Street Liberation Day (Dia de Libertação na Rua Christopher), no último dia da Gay Pride Week (Semana do Orgulho Gay). Essa era a rua onde se situa o bar Stonewall. A Parada Gay de 1973 foi financiada por alguns bares LGBTs da região e foi bem maior que nos anos anteriores.
A feminista radical Jean O’Leary fez um discurso defendendo que as drag queens representavam o crescente machismo no movimento gay. Os argumentos por ela utilizados eram bem parecidos, de conteúdo, com os da Robin Morgan.
Em resposta, Sylvia Rivera, uma importante ativista que participou da Revolta de Stonewal, mulher trans porto-riquenha, membro do grupo STAR (Street Transvestite Action Revolutionaries, que pode ser traduzido como Revolucionárias de Ação Transgêneros de Rua) relatou ter que “batalhar para subir no trio. Completou: “fui literalmente agredida e recebi socos de pessoas que eu achava que eram minhas camaradas, para conseguir pegar o microfone”.
“Jean O’Leary, uma fundadora das Radicalesbians, decidiu que as drag queens insultavam as mulheres… Disseram pra mim que eu falaria naquele comício. E foi quando as coisas saíram do controle. Eu sou muito militante quando se trata de certas coisas, e eu não gostei do que estava acontecendo com a Jean O’Leary dizendo que nós estávamos insultando as mulheres… Ela disse para Vito Russo me agredir no palco… mas eu ainda assim subi e falei o meu discurso.” – Relato de Sylvia Rivera.
O vídeo do discurso da Sylvia Rivera pode ser encontrado na internet.
“É melhor vocês todos ficarem quietos! Eu estou tentando subir aqui o dia inteiro pelos seus irmãos gays e suas irmãs gays na cadeia que escrevem pra mim toda maldita semana e pedem a ajuda de vocês. E vocês não fazem absolutamente nada por elas.
Vocês já foram espancadas? Estupradas? Presas? Agora pensem. Elas foram agredidas e estupradas e tiveram que gastar muito dinheiro na cadeia para conseguir uma casa e tentar a mudança de sexo (sic). As mulheres tentaram lutar pela sua mudança de sexo, para se tornarem mulheres, da libertação das mulheres. E elas escrevem para a STAR, não para o grupo das mulheres. Elas não escrevem para as mulheres. Elas não escrevem para os homens. Elas escrevem para a STAR, porque nós estamos tentando fazer algo por elas.
Eu já fui presa! Eu já fui estuprada! E espancada. Muitas vezes! Por homens! Homens heterossexuais que não pertencem ao guarda-chuva gay. Mas vocês fazem alguma coisa por elas? Não! Vocês todos me dizem pra ir embora e esconder meu rabo entre as pernas. Eu não vou mais tolerar essa merda. Eu já fui espancada, tive meu nariz quebrado, eu fui jogada na prisão, perdi meu emprego, perdi meu apartamento, pela liberação gay. E vocês todos me tratam assim? Mas que merda tem de errado com vocês todos? Pensem nisso!
Eu não acredito numa revolução, mas vocês todos acreditam. Eu acredito no poder gay. Eu acredito em nós conseguindo nossos direitos ou então eu não estaria por aí lutando pelos nossos direitos. Isso é tudo que eu queria dizer pra vocês todos.
Se vocês querem saber sobre as pessoas que estão na cadeia, e não se esqueçam da Bambi L’Amour, Andora Marks, Kenny Messner, e outras pessoas gays na cadeia, venham ver as pessoas na casa STAR [endereço]. As pessoas que estão tentando fazer alguma coisa, por todas nós, e não homens e mulheres que pertencem a um clube branco da classe média branca! E é a ele que vocês todos pertencem!
Revolução Já!!!!
Me dê um G! [plateia: G!]
Me dê um A! [plateia: A!]
Me dê um Y! [plateia: Y!]
Me dê um P! [plateia: P!]
Me dê um O! [plateia: O!]
Me dê um W! [plateia: W!]
Me dê um E! [plateia: E!]
Me dê um R! [plateia: R!]
Gay… Gay Power (Poder Gay). Gay Power!!!”
Apesar de seu belo discurso, este evento fez com que Sylvia Rivera entrasse em depressão e tentasse cometer suicídio. Exausta, ela permaneceu afastada do movimento trans por 20 anos. Aliás, justiça seja feita: Jean O’Leary arrependeu-se pelas visões transfóbicas que tinha em 1973.
Com o objetivo de não serem confundidas com as feministas radicais que defendem a exclusão de pessoas trans, outras feministas radicais cisgêneras deram a elas o nome de feministas radicais trans-excludentes (trans-exclusionary radical feminists), ou, abreviadamente, TERFs.
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