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MOVIMENTO

Eleições na construção civil do Ceará: Não vale tudo, PSTU!

Nericilda Rocha e Nestor Bezerra, de Fortaleza, CE.
  1. Esse breve texto busca fazer uma reflexão sobre as relações de disputas políticas dentro da esquerda. Os limites dessas disputas, ou fronteiras políticas e morais, principalmente em um contexto de profunda decadência política e moral da sociedade burguesa. Recortando geograficamente esta reflexão, vale a pena em tempos de “não verdades”, de fake news, de negacionismos prevalecentes no Brasil de Bolsonaro, refletir, até que ponto a podridão das classes dominantes pode contaminar as classes trabalhadoras e suas representações.
  2. Dias 3, 4 e 5 de maio, ocorrerão as eleições para o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza, um sindicato reconhecido pela tradição de luta e democracia dos operários. O processo de registro de chapas está em curso, se apresentaram duas chapas que estão em período de análise da comissão eleitoral, e o método das calúnias e difamação ensaia emergir do pântano da podre moral dos capitalistas.
  3. A diretoria atual, eleita em 2018, é composta por 10 diretores da Resistência/Psol, 10 diretores da Unidade classista e 4 diretores do PSTU. A renovação para o próximo triênio ocorre em um dos momentos mais difíceis e dramáticos para a classe trabalhadora nos últimos 35 anos. Os operários e operárias da construção, efetivamente, sofrem os duros ataques deflagrados contra o conjunto dos trabalhadores desde o golpe jurídico-parlamentar que depôs o PT da Presidência da República e prendeu o ex-presidente Lula, para facilitar a chegada de Bolsonaro ao palácio do Planalto.
  4. Vivemos um cenário de devastação do trabalho e dos direitos trabalhistas, combinado com uma ofensiva governamental contra os sindicatos. Soma-se a isso a morte de quase 300 mil brasileiros vítimas de uma pandemia que poderia estar monitorada e controlada, não fosse a política genocida de Bolsonaro, que, conscientemente, trabalha para eliminar uma grande parte da classe que vive do trabalho.
  5. Nos canteiros de obra, os operários e operárias de Fortaleza indicam, através de suas ações e sindicato, que não aceitarão morrer por surto de Covid. Além de desenvolverem a campanha vacina para todos e Fora Bolsonaro, em janeiro protocolaram documento ao governo do estado e Secretaria de Saúde, solicitando a inclusão do setor no plano estadual de vacinação nas faixas de prioridades, visto que o setor é considerado serviço essencial e é excluído de medidas restritivas e lockdown.
  6. Há duas semanas a categoria, junto com o sindicato, realizou paralisações das atividades nos canteiros de obra, e com isso, conquistou audiência na Delegacia Regional do Trabalho sendo suspenso o trabalho aos sábados e a realização de horas-extras durante a semana, além da reafirmação de que as empresas necessitam garantir o Kit de prevenção (três máscaras e álcool em gel) a cada trabalhador, e medidas de distanciamento no interior dos canteiros. Vale lembrar que o Ceará está em lockdown, mas toda a indústria está liberada a seguir funcionando normalmente. O lucro das empresas está acima da vida. Aqueles que dependem da venda de sua força de trabalho para sobreviver, são desprezados pelo governo federal sem nenhuma medida que garanta a estabilidade do emprego ou renda básica para que possam circular menos e assim evitar alta contaminação do vírus. Mas já está evidente que Bolsonaro incentiva a contaminação. O lamentável é que o governo petista estadual, que tem uma gestão diferente de Bolsonaro, aplique um lockdown que preserva uma parte da população e condena outra.
  7. Destacamos o terrível momento que vive a classe trabalhadora e a população pobre, as enormes dificuldades dos operários da construção, para contextualizar o quanto é grave, torpe, mesquinho, imoral e degenerado, a posição política de usar de mentiras, calunias e difamação em uma disputa eleitoral de um sindicato, no caso concreto. Isso é condenável, e deve ser duramente combatido em qualquer circunstância, ainda mais em um momento em que a classe apenas se defende dos duros ataques de seus inimigos de classe. A classe trabalhadora e a esquerda marxista, do ponto de vista da estratégia de luta permanente pela sua emancipação dos grilhões da exploração à qual é submetida, tem um programa, um método e uma moral. Não vale tudo!
  8. Um dirigente do PSTU e da CSP-Conlutas em Fortaleza, José Batista, que articula uma chapa de oposição para o pleito de 3 a 5 de maio, publicou em suas redes sociais no sábado, 13/3, uma foto dos dois principais dirigentes do Sindicato dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza, Nestor Bezerra (Resistência/Psol) e Roberto Santos (PCB/Unidade Classista) com a seguinte mensagem:“dupla desonesta, não prestou conta de 648 mil e Nestor transferiu 30 mil reais do Sindicato para sua conta. Um com rabo preso no outro”.

  9. Nos surpreendeu de forma muito triste. Temos tido profundas diferenças políticas com estes companheiros, mas isso? Acusação de roubo e com conotação homofóbica? O PSTU e a CSP-Conlutas defenderam, ao menos aqui, na categoria, que o impeachment não foi golpe e que o governo que entrasse não seria pior para a classe trabalhadora. Defenderam também que a prisão do Lula pela lava jato era algo que os trabalhadores não deveriam se envolver, a frase de efeito que usavam era “Lula tá colhendo o que plantou”.
  10. Quanto aos aspectos financeiros, nos três anos de gestão à frente do sindicato, tivemos que fechar campanha salarial realizando as tradicionais assembleias decisórias, porém, buscando individualmente a autorização do trabalhador para a contribuição assistencial. É de conhecimento de todos que desde a reforma trabalhista aprovada pelos golpistas, o financiamento dos Sindicatos, principalmente do setor privado, depende exclusivamente dos seus associados. E o Sindicato dos trabalhadores da construção civil se orgulha de ser um dos que mais possuem associados, apesar da enorme rotatividade do setor, o que demonstra o respaldo que a diretoria possui na base da categoria. A prestação de contas da entidade, ainda não foi possível ser apresentada por impossibilidade de assembleia geral, devido às restrições da pandemia. As assembleias de abertura da campanha salarial tiveram que acontecer nos canteiros, mas as de prestação de contas não podem. Contudo, não pode ser esta ausência a motivação de tamanha calúnia. Enfim, em nossa opinião, é injustificável e inaceitável estes métodos, seja neste processo eleitoral ou qualquer outro.

Vale destacar ainda que, conscientes da situação difícil, estivemos por mais de três semanas, apesar das diferenças políticas, reunindo com esse dirigente do PSTU – que agora nos acusa – com o objetivo de tentar uma chapa unitária. Unidade também reivindicada pelos companheiros do Pstu, que agora nos acusam de roubo. Não pode ser que, numa semana, somos lutadores honestos, e convidados a compor uma chapa unitária, e, na semana seguinte, não prestamos e sofremos acusações absurdas e sem prova. Lamentável! Queremos reafirmar que a união e luta dos e das trabalhadoras, é condição para superar esse momento tão adverso e esse governo genocida. Mas união e luta requer o mínimo de lealdade. A esquerda pode e deve ser melhor que as disputas fratricidas, caluniosas e difamatórias. Não podemos trasladar para a classe dos oprimidos a podre moral do vale tudo da classe opressora.