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BRASIL

Unir nossa classe contra Bolsonaro

Paulo Pasin* e Mauro Puerro**, de São Paulo, SP
Jorge Leão
“Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”
Mãos dadas, Carlos Drummond de Andrade

 

“Mãos Dadas” é um dos poemas mais conhecidos de Drummond. Foi publicado em 1940 no livro “Sentimento do Mundo”. À época, os fascistas e nazistas estavam em uma terrível ofensiva e ameaçavam o mundo. Com “Mãos Dadas” o poeta buscava refletir sobre a dura realidade e expor liricamente a importância da unidade da classe trabalhadora para enfrentar o nazi-fascismo.

A esquerda marxista tradicionalmente costuma ter a mesma posição de Carlos Drummond. Perante o perigo fascista e seus horrores busca unir a classe para combatê-lo. Sabe que as organizações sindicais e políticas dos trabalhadores e da esquerda serão implacavelmente perseguidas e, inclusive aniquiladas, por um regime fascista.

Nestas eleições, a esquerda marxista está dividida quanto às táticas eleitorais. O Psol apoia Lula para derrotar Bolsonaro desde o primeiro turno, enquanto o PCB, o PSTU e a UP lançaram candidatos próprios, deixando aberta a hipótese de chamar voto no Lula no segundo turno. As candidaturas de Sofia Manzano pelo PCB, de Vera Lúcia pelo PSTU e Polo Socialista Revolucionário e de Leo Péricles pela Unidade Popular devem ser tratadas com o máximo respeito, mesmo que se discorde desta tática eleitoral.

As três defenderam até aqui suas posições políticas, em nossa opinião algumas corretas outras erradas, apesar das dificuldades imposta pela limitada democracia brasileira. Não tiveram acesso aos debates na tv, à propaganda eleitoral, além de pouquíssimo espaço na cobertura da grande mídia. Temos muito respeito pela aguerrida militância do PSTU e do Polo Socialista, do PCB e da UP. Sempre estivemos na mesma trincheira da luta e seguramente deveremos estar em tantas outras no futuro.

Cremos que, sinceramente, os camaradas já cumpriram com seus objetivos na campanha eleitoral, divulgando seus projetos e visão de sociedade. Porém seria um erro arriscar, deixando a decisão da eleição para o segundo turno. Bolsonaro segue agitando contra a Justiça Eleitoral. “Se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)” disse o miliciano em entrevista ao SBT em Londres. Uma frase grave. Uma explícita ameaça golpista.

Subestimar as ameaças fascistas deste governo é imenso erro político. Dar mais um mês de campanha para o genocida é tudo que ele quer neste momento. Tempo para buscar aumentar sua votação. Tempo para aumentar o clima de medo, a violência e assassinatos contra quem se opõe à barbárie da bandidagem instalada no Planalto. Tempo para que o Exército, que incrivelmente ganhou do TSE o direito de fazer apuração paralela, questione a vontade popular nas eleições. A esquerda marxista não pode dar este tempo aos fascistas.

O destino da esquerda e do movimento sindical e popular, das organizações da classe trabalhadora, está em jogo, talvez por várias gerações. Num regime autoritário todos serão implacavelmente perseguidos. Em hipótese nenhuma podemos correr o risco de um segundo governo do genocida. O bolsonarismo não acabará em 2 de outubro, mas uma derrota eleitoral acachapante no primeiro turno, dá moral à nossa classe e nos coloca em melhor situação para mandar essa corrente fascistóide para o lixo da história.

Votar em Lula no primeiro turno não significa concordar com a política de alianças e o programa de sua candidatura. Reconhecemos que há muitos limites aí. Entretanto, com todas as limitações que se possam apontar, a classe trabalhadora, a juventude, os diversos movimentos sociais, a maioria da esquerda e do povo pobre abraçaram a candidatura Lula como o instrumento decisivo para derrotar o fascista. Todos e todas se sentirão mais fortes para lutar pelas reivindicações da nossa classe e necessariamente brigar por elas num possível governo Lula.

O segundo turno está antecipado para o primeiro. Assim respeitosamente dialogamos com as candidaturas do PCB, do PSTU e da UP que não seria nenhum demérito retirá-las agora para chamar o voto em Lula para derrotar eleitoralmente Bolsonaro em 2 de outubro. Isso fortaleceria as necessárias tarefas que teremos no futuro. Isso seria coerente com a tradição da esquerda marxista e com o grande escritor brasileiro que captou poeticamente essa necessidade contra o fascismo no passado.

*Metroviário ex-presidente da FENAMETRO (Federação Nacional dos Metroviários)
**Professor ex-diretor da FEPESP (Federação dos Professores do Estado de São Paulo)