Infelizmente chegamos a triste marca de 3.000 óbitos no estado de Sergipe por conta da pandemia de coronavírus. Sabemos que o maior responsável por essa tragédia é o presidente da república. Hoje não temos um plano eficiente de vacinação, renda básica e Bolsonaro ainda incentiva aglomeração sem máscara e comemora as mortes. Em todo o país a população negra tem lutado para sobreviver em meio ao caos sanitário, desemprego, ausência de condições mínimas de moradia e saneamento. Estamos expostos na linha de frente dos trabalhos essenciais, como as trabalhadoras/es da saúde, limpeza, transportes, entregadores de aplicativo, e também expostos à violência estatal. O movimento negro teve importantes iniciativas como campanhas de solidariedade e, por meio da coalizão negra, protocolou pedido de impeachment no ano passado.
Uma das primeiras reivindicações do movimento durante a pandemia foi a divulgação do indicador cor/raça nos números oficiais do coronavírus. Em Sergipe, o PSOL, a partir de uma demanda de sua militância negra, fez essa exigência ao governo Belivaldo. O partido protocolou representação no Ministério Público Estadual e somente com essa pressão institucional o governo divulgou os dados. A divulgação, contudo, tem deixado bastante a desejar e evidencia como a pandemia atinge a todos, mas principalmente negros e negras.
Em primeiro lugar, chama atenção que a divulgação não é feita por números exatos, somente por meio de aproximação em um gráfico. Quando a divulgação oficial é feita por municípios sergipanos ou por bairros de Aracaju, o governo apresenta o número exato de casos confirmados e óbitos. Mas, quando se trata do indicador cor/raça, a leitura dos dados é por aproximação. Por qual motivo isso ocorre?
Segundo, o principal indicador na divulgação é a classificação “não informado”. Isto é, de 154 mil casos confirmados de coronavírus no estado até o momento, aproximadamente 70 mil casos confirmados não possuem identificação de cor/raça. No caso de pessoas que vieram a falecer, do total de 3.000 mil óbitos, o indicador “não identificado” corresponde a aproximadamente 900 pessoas. Porque o governo não tem esse controle do critério cor/raça? Está sendo, de fato, obrigatória a inclusão do indicador cor/raça nas notificações da covid-19 em Sergipe? É muito estranho que mais de 70 mil pessoas infectadas simplesmente sejam “não identificadas”.
Em terceiro lugar, excluídos os “não identificados”, temos uma soma de aproximadamente 60 mil pessoas negras entre os casos confirmados, sendo 55 mil pardas e 5 mil pretas. No caso dos óbitos, a soma é de aproximadamente 1.500 mortes negras, sendo 1.300 pessoas que foram notificadas como pardas e 200 como pretas. Em termos percentuais, significa dizer que no mínimo 71% das mortes por coronavírus em Sergipe estão entre a população negra (soma de pardos e pretos). Afirmamos que é o mínimo, pois não é possível conhecer os que estão classificados como “não identificados”, mas não temos dúvida de que correspondem em sua maioria à população negra.
A análise dessas precárias informações, que foram conseguidas com muito custo, ajudam a entender um dos motivos centrais para que não tenhamos uma ação mais efetiva contra o coronavírus por parte do governo Belivaldo e dos prefeitos sergipanos: o racismo! Se é a população negra a maior vítima do coronavírus em Sergipe, para que fazer uma ação efetiva do Estado e dos municípios? Somente esse desprezo pelo povo pobre e negro pode explicar o fato do governo do estado ter cortado 18 mil pessoas do auxílio de R$ 100,00 em dezembro e a prefeitura de Aracaju ser contra a criação de uma renda emergencial.
Chamamos atenção da sociedade e das autoridades para a gravidade da situação da população negra sergipana. Estamos atentos e na luta pela sobrevivência no presente, construiremos o nosso amanhã. Vocês não perdem por esperar.
*Professor e militante de núcleo de negros e negras do PSOL Sergipe e ex-candidato a prefeito de Aracaju
Comentários