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OPRESSÕES

Como os padrões estéticos podem desencadear transtornos alimentares

Mariana de Paula*, de São Paulo, SP
Cottonbro/Pexels

A história do corpo começa junto com a história da civilização. O padrão de beleza existe desde que o mundo é mundo, podendo variar muito de acordo com cada cultura e com o tempo, mas a consideração do que é belo sempre foi pré-estabelecida em todas as sociedades.

O padrão de beleza recai principalmente sobre as mulheres, visto que há um processo histórico em que a mulher era representação da fertilidade, depois que deveria servir ao seu homem, chegando à introdução da mulher no mercado de trabalho. A preocupação com o peso foi se intensificando cada vez mais conforme os padrões de beleza foram mudando e o corpo “magro e sarado” passou a ser visto como o “belo e saudável”. O padrão é ainda mais doloroso para mulheres negras, já que além da preocupação com o peso também temos a definição de que a beleza advém da mulher europeia, ou seja, branca, com olhos e cabelos claros.

O padrão de beleza imposto sobre as mulheres pode significar adoecimento quando a busca pelo corpo “perfeito” vai além dos limites saudáveis.

Além da pressão que há sobre o corpo feminino, a mídia intensifica e aprisiona cada vez mais as mulheres dentro dessa caixinha. A mídia promove uma preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal e cria a relação de que a mulher bem-sucedida na carreira, no amor, com os amigos e família é aquela que está dentro dos padrões de beleza estabelecidos. É possível observar essa associação ao que chega na grande massa por meio de filmes, seriados e novelas.

Isso tudo faz com que as mulheres recorram a estratégias para se encaixar, podendo ser através de exercícios físicos, procedimentos estéticos, cirurgias plásticas e, principalmente, dietas milagrosas. O primeiro livro a tratar de dietas foi “The Art of Living Long” de Luigi Cornaro, de 1558, que apresentava uma dieta para promover perda de peso: a dieta dos “Ovos de Veneza”, que consistia em uma alimentação de apenas 400g de comida e 500ml de vinho por dia.

A partir disso, diversas outras dietas que visavam perda de peso começaram a surgir até chegarmos às mais conhecidas e difundidas atualmente, como as com baixo teor de carboidratos, jejum intermitente, dieta dos pontos, entre outras, em sua grande maioria com objetivo de emagrecimento.

Ao tratarmos de dietas chegamos a um ponto importante, pois dietas restritivas podem gerar transtornos alimentares. Os transtornos alimentares são desencadeados por diversos fatores relacionados à saúde psicológica, sociocultural, biológica e genética. São mais prevalentes em mulheres jovens. O meio em que a mulher está inserida e os gatilhos que recebe por meio da mídia, comentários de familiares e amigos, as tentativas frustrantes de dietas, entre diversos outros, são fatores.

Portanto, é de extrema importância trazer esse debate à tona, principalmente para as mulheres já que são as mais impactadas por toda essa pressão e aprisionamento do padrão de beleza. Atualmente existem diversos movimentos body positive que fazem um trabalho, principalmente, nas mídias sociais, fazendo com que mulheres se empoderem a respeito de seus corpos.

Além dessa rede de apoio que tem ajudado muitas mulheres, o acompanhamento com profissionais de saúde que tenham uma abordagem voltada ao comportamento alimentar também se faz muito importante, já que um corpo saudável não é, necessariamente, um corpo magro e sarado.

*Mariana de Paula é militante do Afronte!, nutricionista e cursa aprimoramento no AMBULIM do HCFMUSP.