Estas são apenas notas iniciais de balanço das eleições presidenciais. São prévias a uma análise pormenorizada da votação e a uma reflexão coletiva. São, sobretudo, considerações políticas dos resultados, no calor do momento. Estão sujeitas a debate, crítica e revisão, desde logo por parte de quem as escreveu, mas sobretudo por quem as ler. Importa também salientar que o nosso coletivo “Semear o Futuro” esteve empenhado na campanha da Marisa Matias com todo o gosto e orgulho. Assumimos essa derrota eleitoral, mas não é por isso que vacilamos, nem será por aí que faremos o nosso balanço da campanha. Estamos orgulhosos por termos estado juntos nesta luta contra a extrema-direita também no campo eleitoral e na disputa ideológica e mais estratégica em relação ao extremo-centro (PS e PSD) para que possamos no futuro almejar vencer colocando a classe trabalhadora e os seus sectores mais oprimidos na disputa do poder.
- Marcelo Rebelo de Sousa (MRS), candidato da direita (PSD e CDS) e do Governo PS, foi o vencedor com cerca de 60,7% (2.533.799) dos votos sem necessidade de realizar uma 2ª volta. A reeleição de MRS era expectável, mas importa assinalar que em relação à eleição de 2016, teve mais 122.147 votos. Este resultado num contexto de uma crise económica, social e pandémica é de assinalar e está relacionada com uma parte do eleitorado que tradicionalmente vota à esquerda que pela iminência do perigo fascista decidiu “votar útil” em MRS contra André Ventura (AV). Mas esta opção de “combater” AV e as suas ideias fascistas votando em MRS não podia estar mais errada. Em entrevista ao Público, em plena campanha, MRS afirmou que hoje já há alternativa ao Governo, ao contrário de 2018. Em debate com Ventura, garantiu que aceitaria repetir a nível nacional a coligação entre direita e neofascismo feita nos Açores. Ao afirmar que, em tal cenário, exigiria que Ventura assinasse compromissos escritos, só está a sublinhar que aceita a entrada do neofascismo no poder – sendo que acreditar que Ventura cumpra qualquer compromisso, escrito ou não, é ingenuidade ou cinismo. Concomitantemente à eleição vimos o retorno de Cavaco Silva e sobretudo de Passos Coelho à praça pública, exigindo uma direita mais à direita, e o escândalo montado pelo PSD em torno da trapalhada inacreditável causada pela nomeação de um procurador europeu, são sinais. A direita começa a sentir confiança para apertar o cerco e Marcelo, que já deu alfinetadas em Costa, está agora livre para dar facadas. O acordo dos Açores providência o modelo para as direitas e Marcelo já deu o aval ao projeto. O que nos espera é uma crise política e a possibilidade de um Governo de direita com ministros neofascistas
- Ana Gomes (AG), militante do PS, obteve 541.345 votos. Apresentou-se assumindo como objetivos políticos prioritários preencher o espaço da esquerda tradicionalmente ocupado pelo PS, levar à 2ªvolta MRS e combater AV mas falhou ao que se propôs. Não conseguiu ser a candidatura da área do PS. Não forçou uma segunda volta porque, no essencial, disputou mais eleitorado à esquerda, sobretudo a Marisa Matias, do que ao centro-esquerda. Não serviu tanto para unir a esquerda como para a canibalizar, baralhar e amenizar. Demonstra-se que uma eventual desistência de João Ferreira e Marisa Matias a favor de Ana Gomes, proposta que a própria chegou a insinuar, seria contraproducente. A capitulação da esquerda não beliscaria Marcelo e, na melhor das hipóteses, iria transferir os votos de Marisa Matias e João Ferreira para Ana Gomes -provavelmente nem isso – deixando a esquerda mais combativa sem expressão. Felizmente, Ana Gomes ficou à frente de André Ventura, ainda que por pouco. Foi provavelmente a maior beneficiária de um clima de contestação que se criou nas ruas e nas redes, inclusive com #vermelhoemBelem. Ainda assim, ao contrário da candidatura de João Ferreira e, sobretudo, de Marisa Matias, não garante bases para uma continuação da luta pós-eleitoral nem contra André Ventura e a direita, nem na construção de uma oposição de esquerda ao Governo.
- André Ventura (AV) foi um dos vencedores das eleições alcançando o 3ºlugar com 496.653 votos. A tendência internacional de crescimento do Neofascismo embora mais atrasada expressou-se em Portugal já nas eleições legislativas de 2019 e agora de forma mais consistente. O neofascismo veio para ficar. Enfiar a cabeça na areia não resolve, aliás essa tática de o ignorar foi o que permitiu a eleição de AV em 2019 e que depois permitiu que AV utilizasse o palco mediático para fortalecer a sua mensagem, ainda que os motivos para o crescimento da extrema direita sejam mais estruturais e de fundo. Não havia nenhuma tática eleitoral mágica para vencer o neofascismo, esta é uma luta mais estratégica. No entanto, e apesar do perigo que é o resultado alcançado pela candidatura neofascista, não é uma avalanche. Ou seja, AV não consegue uma subida meteórica comparável a Bolsonaro em 2018 ou Trump em 2016 – em que estes passaram praticamente do nada a presidentes dos respetivos países. Inicia-se assim uma longa e dura disputa, mas não uma avalanche neofascista imparável. É possível derrotá-los e vencer, as manifestações antifascistas e a onda do #vermelhoembelém comprovam que há esse espaço.
- A Esquerda sofre uma derrota nestas eleições. As candidaturas de Marisa Matias (MM) e João Ferreira (JF) juntas obtiveram um resultado inferior à candidatura neofascista. JF obteve 180.473 votos e a MM obteve 164.731 votos. A pressão do voto útil em AG e até MRS contra a extrema-direita prejudicaram os resultados da esquerda. JF teve uma boa prestação na campanha sobretudo nos debates com os restantes candidatos. Contudo, não foi suficiente para atingir um resultado que inverta os maus resultados que PCP tem vindo a obter nos últimos anos. Se comparamos com as presidenciais de 2016, em que a cand
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