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Governo Bolsonaro: a vacinação ou a queda

Walter Campanato / Agência Brasil

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello

Felipe Demier

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).

O principal eixo da esquerda socialista deve ser a existência de um plano nacional de vacinação, de modo que toda a população do país esteja vacinada até o fim do primeiro semestre de 2021. Milhares de brasileiros serviram como voluntários para os testes, e importantes instituições científicas nacionais tiveram um papel fundamental na descoberta das vacinas. Trata-se, portanto, de uma reivindicação mais do que justa.

Ao invés de destinado para o pagamento dos juros e amortizações da dívida, enriquecendo os já milionários credores, um montante significativo do fundo público tem que ser gasto com a produção em massa de vacinas e com a compra das mesmas junto aos laboratórios internacionais. O SUS deve ser responsável por 100 por cento da aplicação das vacinas, de modo que o direito à não contaminação não seja um privilégio dos que podem pagar pela imunização. Postos públicos de vacinação devem ser construídos emergencialmente de modo que haja celeridade na vacinação da população e que aglomerações não sejam criadas justamente quando as pessoas estarão prestes a se libertarem do risco da contaminação. Tudo isso é possível de ser feito, e de modo breve.

Um plano nacional de vacinação é hoje a maior necessidade de milhões e milhões de trabalhadores. Lutar por ele implica lutar tanto contra o governo neofascista e negacionista, quanto contra sua política econômica ultraneoliberal, que é apoiada pela “oposição” burguesa e seus finórios ideólogos tecnocráticos dos telejornais. Nada hoje vai mais ao encontro das necessidades das massas e de encontro ao bolsonarismo e ao ultraneoliberalismo do que a luta por um plano nacional de vacinação para toda a população brasileira o mais rápido possível. Que esta reivindicação básica se converta em pecado inadmissível aos olhos do mercado e dos neofascistas diz mais sobre o caráter genocida de ambos do que sobre o nosso radicalismo – o qual, entretanto, não precisamos esconder.

Aliás, se ser radical é ir à raiz dos problemas, e “se a raiz do homem é o próprio homem”, disse certa feita o ainda imberbe Marx, vale lembrar que esse homem tem de estar, antes de tudo, vivo. Se o governo Bolsonaro for incapaz de garantir este plano, se ele for incapaz de garantir a vida da população que governa, deve ser derrubado. Sem piedade.