Sou deputada federal, eleita no RJ com mais de 107 mil votos, mas meu corpo de mulher negra sempre foi necessariamente político. Política é a vida concreta que mulheres como eu experimentamos desde que nascemos. Política é quando minha mãe, com um barrigão da minha irmã, exausta depois do dia de trabalho, me carregava em um braço e com outro segurava meu irmão, subindo a ladeira da Riodades na volta pra casa. Quando meus alunos da Maré não tinham aula por conta de tiros sempre foi sobre política. Política é se tem arroz na mesa das mães trabalhadoras. Se verão os filhos crescerem vivos. Aprendi política com minha mãe, com meus alunos, com gente de verdade.
Acredito na luta concreta construída no PSOL. Só a coletividade transformará o mundo num lugar no qual vidas negras importam, sem o patriarcado, onde o trabalho sirva para melhorar as vidas e não para enriquecer alguns às custas de nosso sangue.
Pra mim, a institucionalidade é uma trincheira. Nos nossos mandatos, a rua, o povo, o território sempre nos guiaram. Por isso, não posso me calar diante do cerceamento imposto a nós. A política que fazemos está inviabilizada por ameaças graves à minha vida.
Não vou recuar, mas é preciso estar viva para fazer política. Nós mulheres negras, que emprestamos nosso corpo para essa tarefa, não queremos ser mártires. Eu quero é continuar a ocupar o poder com a radicalidade da luta antirracista, feminista, socialista e libertária. Mas fui obrigada a me afastar do RJ porque apesar da gravidade das denúncias, não tenho garantia de proteção efetiva no território que me elegeu. A violência política no Brasil nos coloca ainda mais distantes de uma experiência verdadeiramente democrática.
Diante disso, anuncio e denuncio que não poderei exercer meu direito ao voto. O direito de teclar 50 e eleger Flavio Serafini e Josiane Peçanha me foi tirado. Por isso, faço um apelo. Quem puder, compareça às urnas para dar um basta ao projeto autoritário e anti-povo. Essa eleição é histórica. Deposite seu voto na esperança, na possibilidade de alegria, na vida e na liberdade! Votem por mim. Pelas que vieram. Por Moana Mayalú. Por todas nós. Atravessaremos esse inverno e venceremos!
Comentários