Pequena cidade do Interior paulista, Valinhos, com pouco mais de cem mil habitantes, ganhou os noticiários e as redes sociais durante o mês de agosto. Primeiro, de forma revoltante, ganhou repercussão nacional um repugnante caso de racismo contra um entregador por aplicativo em um condomínio da cidade. Nas semanas seguintes, um outdoor veiculado na cidade viralizou nas redes sociais. Nele, lembrava-se que Bolsonaro era contra o auxílio emergencial para as pessoas afetadas pela crise econômica em decorrência da quarentena.
Anteriormente, a cidade – como outras cidades do interior paulista – já havia sido inundada por outdoors defendendo o governo genocida de Bolsonaro. Em Valinhos, ganhou notoriedade um outdoor que era assinado pelos “atiradores de Valinhos fechados com Bolsonaro”.
Na cidade em que 77% dos eleitores haviam votado em Bolsonaro no segundo turno de 2018, esses outdoors defendendo-o pareciam um escarnio com as mais de 100 mil mortes pela COVID-19. Assim, surgiu e organizou-se um grupo de whatsapp para fomentar outdoors denunciando a necropolítica do bolsonarismo.
Mais de 70 pessoas de todas as matizes políticas do campo progressista da cidade contribuíram com a vaquinha para permitir a veiculação de outdoors na cidade. Isso permitiu a veiculação de 6 outdoors em um mês! Muito mais que os bolsonaristas conseguiram colocar…
Chama atenção dois outdoors veiculados lado a lado, enquanto no bolsonarista lia-se “Não é sobre armas, é sobre liberdade”, pergunta-se que liberdade é essa? Ao lado a pergunta que tomou as redes na última semana: “Presidente, Jair Bolsonaro, por que sua esposa Michelle recebeu R$89mil de Fábricio Queiroz?”
Essa “disputa” de outdoors pode nos deixar algumas lições. Enquanto, os cartazes bolsonaristas são feitos por empresários, a organização coletiva e esforço financeiro da classe trabalhadora mostrou que pode ser muito mais impactante que a ação individualista da classe dominante.
Mais do que isso, ações desse tipo podem ser uma alternativa de disputa política em tempos de isolamento social. Enquanto haviam apenas outdoors pró Bolsonaro parecia que estes hegemonizavam a opinião pública da cidade, mas através dos nossos outdoors percebeu-se que em Valinhos há resistência. Recebemos diversas mensagens de agradecimentos de pessoas que se sentiam isoladas na cidade, agora é nítido que o #ForaBolsonaro ecoa também em Valinhos.
*Cauê Campos é professor de Sociologia em Valinhos e diretor estadual da APEOESP pela Oposição
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