Em 1988, trinta e dois anos atrás, o PT realizou prévias para decidir quem deveria ser candidato à Prefeitura. Duas candidaturas disputaram: Luíza Erundina e Plínio de Arruda Sampaio. Erundina venceu as prévias, surpreendentemente, apesar do apoio que Plínio recebeu da Articulação. Não foram poucos os petistas que tinham referência na Articulação que votaram em Erundina. O resto da história é bem conhecido. Luísa venceu as eleições contra Maluf nos últimos dias da última semana de campanha, uma façanha para o PT, então. Uma vitória que teve enorme significado para fortalecer a oposição de esquerda ao governo Sarney, e abriu o caminho para que Lula pudesse chegar ao segundo turno, um ano depois, em 1989, contra Fernando Collor.
Naquela época eu dava aulas na região do Jaçanã, zona norte da capital, desde 1983 e militava na Apeoesp, o sindicato dos professores da rede pública estadual. Uns meses antes das prévias, antes que a disputa estivesse colocada, convidei Luíza que era deputada estadual, para ir fazer uma palestra na Escola que lecionava. E fiquei perplexo com o que aconteceu. Muitas famílias do bairro do Jardim Brasil vieram assistir à palestra. Nunca tinham ouvido uma socialista.
E Luíza deu uma aula extraordinária. Explicou, pacientemente, que só a mobilização e organização popular poderia mudar a vida. Defendeu a necessidade de construir uma esquerda socialista independente dos partidos dos capitalistas. Deu exemplos de pequenas lutas, exaltou as experiências em outros bairros, incendiou a imaginação daquelas centenas de jovens e seus pais, muitos também nordestinos que tinham vindo para São Paulo.
Há dois anos atrás acompanhei Boulos na campanha de 2018 e vi Guilherme fazer o mesmo. Alguns têm esta força, essa energia, essa potência.
São catalisadores.
O PSol realiza uma prévia neste fim de semana para saber quem serão seus candidatos para a Prefeitura de São Paulo. Guilherme Boulos e Luísa Erundina, Samia Bonfim e Alexya Salvador, ou Carlos Giannazi e Sandra Ramalhoso.
Quando escolhemos candidatos votamos em pessoas, e todas as pessoas são mais complexas e maiores que as ideias que defendem em determinado momento. Mas não estão em disputa projetos pessoais. As diferenças remetem à estratégia política.
Qual é o lugar que queremos que o PSOL ocupe na luta contra Bolsonaro? Esta é a questão central. Quem pensa que o PSOL esteve bem ao denunciar a LavaJato e o golpe do impeachment pode votar Boulos/Erundina com confiança. Quem compreende que era justo o PSOL lutar pela liberdade de Lula, apesar de todas as críticas que o levaram a ser oposição aos governos do PT, pode votar Boulos e Erundina com confiança. Quem defende que o PSOL deve continuar sendo um ponto de apoio firme para a construção de uma Frente de Esquerda dentro da oposição a Bolsonaro pode votar Boulos e Erundina com confiança. Quem foi contra pode se iludir pensando que estava à nossa “esquerda”. Mas só se a bússola de classe estiver quebrada.
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