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CULTURA

Vai pra Cuba? O Salgueiro foi!

Bernardo Pilotto, do Rio de Janeiro, RJ

O Acadêmicos do Salgueiro caracterizou-se em sua história por uma série de pioneirismos no carnaval carioca, algo que orgulha a escola. Foi, por exemplo, a vermelho-e-branco da Tijuca quem primeiro trouxe um enredo acerca de um personagem negro (em 1960, na homenagem a Zumbi dos Palmares), temática que se repetiu na escola por muitas vezes (como em “Xica da Silva”, em 1963, “Candaces”, em 2007 e “O Rei Negro do Picadeiro”, em 2020).

Mas há um pioneirismo do Salgueiro muito pouco lembrado: em abril de 1959, a escola foi a Cuba participar de festividades para comemorar a revolução que havia acontecido meses antes, na primeira viagem de uma escola de samba carioca para o exterior.

Fundada poucos antes anos antes, em 1954, a escola começava a se consolidar entre as grandes em 1959. Pela primeira vez, a escola disputou o título, ficando com o vice-campeonato. Além da colocação, o bom desfile rendeu a aproximação do então jurado Fernando Pamplona (que, no ano seguinte, como carnavalesco da escola, seria um dos responsáveis pelo início da “revolução salgueirense”), um lindo samba de terreiro (“Em 59 Balançamos a Roseira”, de Binha) e também a viagem para Cuba.

Isso porque o convite do governo cubano foi feito para o Departamento de Turismo e Certames da Prefeitura do Rio de Janeiro, que por sua vez convidou a Portela, campeã do carnaval daquele ano. Mas, por divergências sobre a quantidade de sambistas que deveriam viajar, a escola abriu mão e aí o convite foi feito ao Salgueiro, que prontamente aceitou. Posteriormente, inclusive, essa escolha foi alvo de reclamação da Associação das Escolas de Samba do Brasil (entidade que representava às escolas de samba cariocas na época).

A comitiva salgueirense, que incluía a passista Paula do Salgueiro (foto), o compositor Djalma Sabiá, o presidente Nelson de Andrade e mais 23 sambistas, partiu para Havana em 30 de abril. Chegando lá, a agremiação se apresentou na Avenida El Malecon, uma das principais da cidade, na Boate Tropicana (com participação do cantor Blecaute) e nos jardins da embaixada brasileira. Apesar da grande distância e da complicada viagem, a participação dos salgueirenses em Havana foi curta.

No dia 08 de maio, uma reportagem do jornal Correio da Manhã relata uma visita que Paula fez na redação. Na ocasião, a passista salgueirense falou sobre a comoção com a apresentação do Salgueiro na El Malecon, que segundo ela seria parecida com a Av. Rio Branco em termos de extensão, sempre recebendo pedidos de “bis” e de que a apresentação continuasse.

No festival em Havana, também aconteceram apresentações de grupos de culturais de outros países, como México, Portugal, Itália, Alemanha e Argentina. Mesmo em condições desiguais, pois os demais grupos tinham em média 200 integrantes, o Salgueiro obteve o 3º lugar e trouxe na bagagem um trofeu para marcar esse momento.

A realização de um festival cultural poucos meses após a chegada ao poder dos revolucionários liderados por Fidel Castro e Che Guevara mostra a importância que a cultura ocupava para eles. Não ficou “para depois”, para quando tudo “estivesse bem”. Que o apreço pela cultura, entendida como um direito fundamental, seja mais um aprendizado a termos com o povo cubano e sua revolução.