Nós mulheres somos as principais responsáveis pelo desenvolvimento da Educação Básica no estado de Sergipe. O quadro de docentes nas esferas públicas e particular é composto por 23.229 profissionais, destes mais de 70% é de mulheres, e a maior atua nos anos finais do ensino fundamental (39,3%; INEP/2019).
Sabemos que a escola tem uma função social importante e a relação professora-aluno e aluno-aluno são igualmente fundamentais para a formação dos nossos jovens e crianças. No entanto, em se tratando das docentes, a realidade nessa pandemia é de muito sofrimento. Elas não deveriam ser obrigadas a desenvolver atividades de ensino para contar como carga horária letiva, ainda mais se elas não possuem suporte por parte dos governos e dos patrões para a produção via rede.
São as mulheres que, além de profissionais da educação, também cuidam dos idosos da casa, além de seus próprios filhos. Muitas são mães solo, muitas têm filhos com deficiência, possuem mais de dois vínculos por conta dos baixos salários, cuidam dos doentes vítimas do Covid-19 em suas famílias. Como se pouco fosse, elas ainda têm de dar conta de aulas remotas, preparar material para vídeo aula, baixar aplicativos, acompanhar frequência, responder as indagações dos estudantes e de seus pais. Tudo isso se responsabilizando pelos gastos materiais como contas de energia, equipamento e internet, dentre outros.
Outro problema que causa sofrimento às mulheres é que o trabalho remoto exige uma mudança de localização do trabalho no tempo e no espaço. Não há limite de tempo no trabalho, o espaço da sala de aula foi transferido para a sua casa/trabalho. O espaço das redes invade a privacidade das professoras e lhes roubam seu tempo de descanso e cuidados domésticos. A vida e o trabalho se confundem e geram novas formas de opressão, assédio, culpabilizações, adoecimentos.
É grave a situação: se nas redes particular e pública estadual já é uma realidade, tudo indica que o trabalho remoto também será aplicado nas escolas municipais de Aracaju, se levarmos em consideração a última resolução do CONMEA 01/2020, e a Portaria nº 127 de 06/07/2020 da Secretaria Municipal de Educação (Semed), que regulamenta a oferta de atividades pedagógicas não presenciais para cômputo da carga horária mínima anual obrigatória do ano letivo de 2020. As professoras se sentem, mais uma vez, ameaçadas pela perda de direitos, do emprego e cortes nos salários. A manutenção do calendário letivo desrespeita as condições de vida das trabalhadoras, é desumano, viola os direitos da saúde, das condições de trabalho.
Não podemos naturalizar a violência institucional que é o trabalho remoto para as mulheres nessa pandemia. É pela vida das mulheres, é pela vida dos/das nossas/os estudantes. É pela qualidade da educação pública, é por respeito às nossas crianças e jovens que não podemos destruir nossas mestras. Por tudo isso declaro minha solidariedade a todas as professoras e, junto com os demais docentes, estou disposta a fazer deste um grande movimento para derrubar a obrigatoriedade do trabalho remoto como carga horária letiva. Para isso, defendemos o cancelamento do calendário letivo para todas as redes do estado de Sergipe.
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